Perturbação

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Acho que não vou poder trazer mais suprimentos. — cruzo os braços entregando a última mochila. Hoje o processo foi bem mais complicado, por conta dos arquivos estranhos que vimos no computador de Max achei melhor adiantar os suprimentos para Evelyn e seu pessoal. Tive que pedir ajuda de Tori e contar o que estive fazendo nas últimas semanas. Além de armas, tenho trago o máximo de comida possível.

Na Abnegação meus pais costumavam nos obrigar a participar das entregas de alimentos para os sem-facção. Odiava, não sentia que toda aquela bondade era verdadeira, eu mesma não tinha a mínima vontade de compartilhar minha comida, não gostava de ser hipócrita a esse ponto. Mas agora, foi algo automático, quando me dei conta já estava trazendo comida e lençóis.

— Está com medo de ser pega? — Evelyn senta em uma cadeira velha e aponta para que eu faça o mesmo. Estamos num prédio velho mais afastado que os outros, há várias salas cheias de sem-facção nos andares de baixo, os andares de cima são os depósitos secretos de Evelyn, existe vários desses espalhados pela cidade. Cada um deles tem uma pessoa responsável, organizando e guardando até o dia que será necessário usar, criamos um plano de ação, eles irão agir quando precisarem agir. Nada além disso, não vou sacrificar a vida de ninguém atoa. Não sou Jeanine Matthews.

— A Erudição está quase concretizando seus planos. Vai ficar cada vez mais difícil roubar deles. Vocês já tem tudo o que precisam. — cruzo as pernas. — Lembre-se que se houver algum problema com qualquer facção não se envolvam, saiam de perto. A não ser que vire um confronto muito grande, aí vocês entram em ação... Você entende?

Evelyn levanta um lado da boca, seus olhos tão misteriosos quanto os do filho.

— Quando isso mudou?

— O que?

— Nós combinamos de ser praticamente seu exército, Becky. — ela se arruma na cadeira. — Quando nos proteger virou prioridade?

Abro a boca mas as palavras não saem de imediato.

— Não posso perder meu exército por uma briguinha de facções. — dou de ombros disfarçando. — Só fiquem atentos.

Evelyn me analisa e sorri.

— Nossa parceria foi uma boa ideia, não foi? — pergunto quando se aproxima.

— É, para uma garota você não é nada ingênua. Sabe se virar. Nos encontramos por aí, Becky. Espero que não morra nas mãos deles.

Vou em direção a porta e sorrio olhando para trás.

— Isso não vai acontecer.

Quando já estou no corredor Evelyn chega até a porta.

— Becky? — me chama.

— Não deixe que o matem. — sua voz mostra a seriedade e o peso das palavras. — Por favor.

— Não se preocupe. Ele vai ficar bem.

Volto para o Complexo pouco mais de meia noite, não há tanta movimentação na Pira, decidi descer o fosso e observar a água batendo contra as pedras. Mais uma vez estou sem sono, devo estar com olheiras profundas.

— Que deprimente. — diz uma voz fina. Olho para cima e Mia está de braços cruzados me encarando, reviro os olhos. — Ei, não precisa me olhar assim! Se quiser ficar sozinha, tudo bem. Só achei estranho você vindo para cá.

— Não... Desculpa. Pode ficar, eu só... Estou sem sono. — digo num suspiro cansado. Mia vem até mim e senta ao meu lado. — O que está fazendo?

— Cansei desse nosso jogo de ódio. — começa. — Sabe, essa rivalidade não nos leva a lugar algum.

Franzo o cenho.

Subversivo (1.1 Divergente) Onde histórias criam vida. Descubra agora