Defunção

219 34 8
                                    


Ouço passos atrás de mim. Segurando a arma com firmeza, olho para trás. Meu pai e os outros caminham em nossa direção. Meu pai retira sua camisa de manga comprida. Ele está usando uma camiseta cinza por baixo. Ele se ajoelha ao lado do Peter e passa a camisa sob seu braço, amarrando-a firmemente. Ao pressionar o tecido contra o sangue que escorre do braço de Peter, ele olha para mim e diz:

— Você realmente precisava ter atirado nele?

Eu não respondo.

— Às vezes, a dor serve a um bem maior — diz Marcus calmamente. Na minha cabeça, vejo-o diante de Tobias com um cinto em punho e ouço o eco da sua voz. Isso é para o seu próprio bem. Eu o encaro por alguns segundos. Minha mão treme para não atirar nele.

— Marcus. — o chamo fazendo com que lembre que eu estou segurando uma arma. — Te dei permissão para falar? — ele balança a cabeça negando entendendo o recado. — Ótimo.

Respiro fundo.

— Vamos — digo. — Levante-se, Peter.

— Ele vai mesmo com a gente? — pergunta Beatrice.

— Vai. — seus ombros baixam de indignação. — Eu não vou deixar ele fazer nada. Principalmente com você. Relaxa. — me viro para Peter novamente. — Levanta ou eu atiro de novo.

Ele obedece.

— Você quer que ele caminhe? — Caleb pergunta. — Você está louca?

— Ele anda com os braços, por acaso? — digo. — Não. Ele vai caminhar. Para onde vamos, Peter?

Caleb ajuda-o a se levantar.

— Para o prédio de vidro — diz ele, com uma careta de dor. — Oitavo andar. Ele lidera o caminho, atravessando a porta. Eu entro no Fosso, banhado pelo ronco do rio e pela luz azul do prédio, que está mais vazio agora do que eu jamais havia visto. Passo os olhos pelos seus paredões, procurando algum sinal de vida, mas não vejo nenhum movimento e nenhuma pessoa em meio a escuridão. Mantenho a minha arma na mão e me direciono ao caminho que leva ao teto de vidro.

— O que a faz pensar que você tem o direito de atirar em alguém? — diz meu pai, enquanto me segue pelo caminho. Passamos em frente ao estúdio de tatuagens. Onde estará Tori agora? E Shauna? Meu coração dói.

— Ah, puta merda... Acho que agora não é uma boa hora para discutirmos ética — respondo com raiva.

— Agora é a hora perfeita — diz ele — porque em breve você terá a chance de atirar em outra pessoa, e se você não se der conta de que...

— Me der conta de quê? — pergunto, sem me virar. –— De que cada segundo que eu perco significa mais um membro da Abnegação morto e mais um membro da Audácia transformado em assassino? Já me dei conta disso. Agora é a sua vez.

— Há uma maneira certa de fazer as coisas.

— E o que o faz ter tanta certeza de que sabe qual é? — digo. — Porque se vier falar comigo sobre sentar e conversar para chegar na acordo com a Erudição eu vou rir da sua cara.

— Por favor, parem de brigar — interrompe Caleb, com um tom de reprovação.

— Mas Becky está certa. — Beatrice entra na discussão. — Jeanine começou tudo isso, não é culpa nossa, não escolhemos isso, o que temos que fazer já estamos fazendo. Não há outra forma.

É bom saber que pelo menos uma pessoa entende, fiquei com raiva quando Beatrice entrou na Audácia. E vendo agora, acho que foi a melhor decisão que ela já fez.

Subversivo (1.1 Divergente) Onde histórias criam vida. Descubra agora