Ira

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Corremos o mais rápido que conseguimos, mas três soldados nos perseguem, seus pés ecoam pelo beco, em uníssono. Um deles atira e eu me jogo sobre Beatrice, a bala atinge a parede à nossa direita, pedaços de tijolos voam por toda a parte.

Eu dobro a esquina em um salto e engatilho minha arma. Eles mataram minha mãe. Não foram exatamente eles, mas isso não parece importar, mesmo assim guardo essa raiva para Jeanine, eles são apenas peões em suas mãos. É ela quem eu devo matar.

— Temos que despista-los. — digo e Beatrice apenas engatilha e atira para trás sem olhar onde atingiu. — Ei!

— Não me importo! — diz com raiva. — Eles mataram a mamãe.

Continuamos correndo entrando em várias esquinas e desviando de outras, se não tivéssemos fugindo já teríamos chegado onde Caleb e meu pai estão.

— Só há um deles agora. — Beatrice diz.

— Vamos virar no próxima beco tem duas entradas vamos conseguir despista-lo. — informo mas ela não faz o que digo, ela para se escondendo na parede. Observando de longe o soldado. Procuro saber quem é, um garoto com o cabelo desarrumado e uma ruga entre as sobrancelhas, se eu não me engano é um dos amigos de Beatrice da iniciação. — Ele é seu amigo, não é?

O garoto para, encarando Beatrice.

— Will. — ela sussurra não como se fosse um suspiro de pena, mas sim com frieza. O garoto levanta a arma e engatilha. Entro em alerta.

— Vamos embora! — digo.

Beatrice atira.

A bala atinge sua cabeça. Will cai para trás num baque surdo.

Minha irmã passa por mim um pouco cambaleante mas sua expressão me diz que não se arrepende do que fez. E espero que isso não aconteça, pois nós estamos conscientes, sabemos o que estamos fazendo. Ele não é o verdadeiro inimigo, Will foi um fantoche na mão da Erudição, matá-lo foi um erro.

Mas temos que seguir em frente.

Preciso conferir a placa da rua para saber onde estamos. Esquina da North com a Fairfield. Estamos a apenas alguns metros do prédio onde se encontra o que sobrou da minha família.

Beatrice fica de joelhos diante a porta. Ela solta um grito e eu preciso me segurar para não apagá-la. Há guardas por perto e ela pode atraí-los. Ela abafa o próximo grito e eu não sei o que fazer. Fico frustrada, a garotinha mimada matou uma pessoa inocente porque estava triste.

— Cala a boca, Beatrice. — peço, ela se levanta me encarando com ódio.

— Eu te odeio. — diz com nojo.

— Eu não me importo, só quero que cale a boca. — dou de ombros.

— Nem parece que você acabou de ver nossa mãe morrer. — é estranho vê-la assim, eu sei que devia agir com paciência e entender seus sentimentos mas eu também estou irritada, também estou triste, eu também perdi a minha mãe.

— Não é hora para chorar ou descontar a raiva atirando na cabeça de pessoas inocentes. — falo sem medo de atingi-la. — Nossa guerra não é com eles, Beatrice.

Respiro fundo. Esmurro a porta duas vezes, depois mais três vezes e depois mais seis, assim como mamãe nos disse. Quando a porta se abre, Caleb nos olha assustado, me viro para Beatrice.

— Agora entra nessa porra e procure pelo seu papaizinho. 


— Beatrice. Meu Deus, você levou um tiro?

— Parece que sim. — responde com a voz fraca. Ele passa o dedão sob os olhos, enxugando-os. A porta bate atrás de nós. A sala está mal iluminada, mas vejo rostos conhecidos, de antigos vizinhos, colegas de escola, companheiros de trabalho dos meus pais.

Subversivo (1.1 Divergente) Onde histórias criam vida. Descubra agora