Um contrato de aparência

Cap. 3 - Temos um acordo

Maitê

Faz 1 semana desde o acontecido lá na casa onde moro. A irmã da minha mãe, porque sim, agora só chamo ela assim, me trancou no quarto.

Ela me tranca quando sai de casa, me deixa com uma garrafa de água e comida, mas como não tem microondas no quarto, eu sempre como ela fria.

Isso quando não tenho o azar de um dos dois entrarem aqui, porque ela deixa a chave com eles, de acordo com eles, é pro caso de "emergência". Então sim, faz uma semana que meu corpo não é meu.

Cerol me ligou hoje, marcando a reunião pra amanhã, eu falei com ela hoje que tenho uma reunião de emprego amanhã, disse que era em uma padaria que deixei o currículo, só por isso ela me liberou.

(...)

Acabei de sair do banho, faltam duas horas para a reunião, tenho que me arrumar rápido e ir, porque é no centro de São Paulo, e eu moro longe de lá.

- onde você pensa que vai tão arrumada assim? - Otávio pergunta abrindo a porta do meu quarto
- Não é da sua conta - respondo

- olha aqui piranha - fala puxando meu braço - acho bom você manter essa boca bem fechada, e quero você cedo em casa. Anastácia e meu pai vão sair hoje, e tenho planos pra nós dois - fala me olhando de cima a baixo, meu estômago embrulha na hora.

- quando eu falar com você, você me responde porra - fala e me dá um tapa na cara me fazendo cair.
- Tá bom - falo já com a voz embargada
- E troca essa roupa, tá gostosa de mais assim, não quero ninguém te olhando - fala e sai batendo a porta

O choro começa a querer vir, mas seguro, eu tenho que sair daqui logo. Troco de roupa pra evitar confusão, eu estava com um vestido que ia até meu joelho, mas ele era justo. Troco e coloco uma calça e uma blusa larga.

Não sei porque, mas algo no meu coração me mandou arrumar a minha mala, arrumei tudo correndo, colocando as principais roupas que uso, e joguei a mala para debaixo da cama.

Saio de casa correndo, para não dar tempo deles me impedirem e para não me atrasar também.

(...)

- boa tarde, tem reserva? - a recepcionista me pergunta
- Sim, estou junto com Lúcio- respondo
- Ok, me siga por favor

- Fiquei com medo de que não viesse - Cerol fala assim que sento na mesa
- Desculpa o atraso, o ônibus atrasou - respondo com um sorriso envergonhado

- eu poderia ter te buscado - ele fala e levanta a sobrancelha
- Era melhor não - engulo em seco, pensando na possibilidade de descobrirem que era com ele.

- então vamos pedir? Está com fome?
- Muita na verdade - falo baixo mas ele escuta e sorri, fazendo sinal para o garçom. Escolhemos nossa comida.

Ficamos conversando sobre várias coisa aleatórias enquanto comíamos, mas depois que acabamos ele mudou o assunto, para o principal do dia.

- então, vamos falar de negócios - cerol fala
- Vamos, confesso que estou nervosa - ele ri.
- Primeiro, preciso que assine aqui. É um contrato de sigilo, você não poderá comentar com ninguém sobre essa conversa - fala
- Como se eu tivesse com quem falar... - falo baixo novamente mas acho que ele ouviu. Assino e devolvo o contrato.

- bom - ele fala e suspira - você está ciente do que está acontecendo com o Bak neh? - me pergunta e eu assinto. - e o que acha sobre?
- Eu acredito nele, nunca gostei daquela garota, ela não me passava algo bom. - sorriu

- ótimo, ela realmente está mentindo, mas não é fácil fazer com que acreditem. É ai que você entra.
- Como assim? - pergunto
- Eles precisam acreditar que o bak nunca faria uma coisa dessas com ninguém, eles tem que conhecer o lado fofo dele, e é bem mais fácil se já for com outra pessoa pública. - fala e eu travo, percebendo onde ele quer chegar

- você não véi me contratar pro Fluxo neh? - pergunto com uma dor no coração e com uma vontade enorme de chorar- você veio me contratar para limpar a imagem do bak... você quer me usar para isso. - falo baixo
- Também - fala - mas você vai entrar no fluxo sim, como influenciadora, querendo ou não, muitas pessoas já pediram por você, então só estou juntando o útil ao agradável.

- Só está esquecendo do fato disso não ser agradável para ninguém- falo
- É para minha organização - fala - além do mais, receberá bem pra isso. Além do salário de influencer, estarei te pagando 100mil por fora. Todo mês.

- parece que quer me contratar como acompanhante de luxo - falo e uma lágrima escorre - eu não vou transar com ele por causa de um contrato
- Isso vai depender de vocês dois, não tenho nada a ver. No contrato só vai exigir demonstrações públicas de afeto.

- sua consciência não pesa, de me pedir para mentir para os fãs da sua organização?
- Não, porque eu sei que faço isso pro bem dela- pontua - eu não queria isso Maitê, mas é a única saída, se eu não limpar a barra do bak, vai sobrar para a minha organização. Então me desculpa, mas a minha proposta é essa, seu sonho, pelo meu sonho.

Eu juro que eu queria sair daqui correndo, gritar pra todos, mas eu não posso. Porque só de lembrar o que vai acontecer comigo hoje... eu não posso voltar para aquela casa.

- eu aceito com duas condições- falo
- Estou a ouvidos - responde
- Primeiro, ele só poderá me tocar se eu pedir. - ele afirma com a cabeça- e eu saio de casa hoje. - ele me olha com as sobrancelhas arqueadas

- o que tem naquela casa que faz com que você queira sair de lá tão rápido? - pergunta com um sorriso no rosto
- Não é da sua conta! - sou grossa - essa é minha proposta.

- ok Maitê, temos um acordo. Fala e se levanta me estendendo a mão.
- Eu preciso ir pra casa pegar minhas coisas. - ignoro a mão dele

- Vou pedir um uber pra você - fala e eu grito um não fazendo com que muitos me olhem e eu sorrio
- Você me leva, seu motorista entra comigo e pego minhas coisas
- Porque ele tem que entrar? - pergunta
- Porque eu estou falando que sim - o encaro

Se eu entrar sozinha, Otávio não me deixará sair. Essa é minha única oportunidade.

- ok mocinha, você que manda - sorri e me guia pro carro.