Um contador na máfia

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  Eu sempre quis ser contador. Meu avô era contador, meu pai é e para mim sempre foi uma questão de quando e não se. Eu gostava da profissão mesmo quando não entendia nada dela e logo que comecei a faculdade percebi que levava mesmo jeito para coisa: Números, cálculos, tabelas, uma profissão calma, serena, eu em um escritório, eu e o meu 'pc' e tudo estava alinhado e correto no mundo e no Universo.

Era meu estilo, seria sempre.

Acontece que a vida real exige mais da gente do que apenas paixão pela profissão. Meu pai mora no interior e tudo o que ele podia ele me ajudava, mas manter a faculdade era caro e eu não queria mais pedir ajuda para ele, então quando ele ligava eu dizia: 'Está tudo ok, pai! Fica em paz!' Mas a realidade é que se eu não arranjasse um emprego imediatamente, eu podia perder o último ano e não conseguir me formar.

Então era mesmo o desespero que tinha me levado até a porta daquela loja inusitada, quer dizer, a vaga era bem vaga, porém era um pedido por um contador e não exigia experiência na área.

Ora, eu ainda não tinha me formado e meu curso era integral então eu realmente não tinha experiência, mesmo de estágio, e todas as demais vagas exigiam ao menos isso, assim eu não devia ficar feliz? Radiante? Exultante com a oportunidade? Era uma loja afinal, provavelmente não seria um trabalho muito extenuante e que me tomasse muitas horas.

Olhei de novo para meu celular e conferi o endereço e era esse mesmo o local: Lojas de Raridades preciosas Night's Cam.

— Ok, vamos lá!

Disse a mim mesmo e logo respirei fundo e atravessei a porta que vejam só, tinha até sininho de aviso. Lá dentro parecia uma mistura de antiquário chique com joalheria caro e atrás de um único balcão de madeira mogno havia um senhorzinho aparentemente simpático que me olhou com tranquilidade antes de perguntar de forma polida:

— Como posso auxiliá-lo, meu jovem?

— Ah olá, eu vim pela vaga de emprego de contador.

Respondi me aproximando dele e mostrando a descrição da vaga que meu colega de campus me repassou por e-mail. Segundo ele aquele tipo de vaga não estava disponível por sites comuns, mas como ele sabia que eu estava desesperado por qualquer oportunidade, ele repassou aquela vaga me dizendo que o trabalho era puxado, mas bem remunerado.

E essa palavrinha 'bem remunerado" era tudo o que eu precisava no momento.

— Talvez peçam o nome de quem te repassou a vaga, diga que é o sobrinho do Senhor Pascky. De resto, boa sorte!

Como DZ era uma pessoa legal, mesmo que esquisitinha de vez em quando, eu topei, agradeci e corri para a loja assim que terminou as aulas. Quem seria esse tal do Senhor Pascky?

O senhorzinho ergueu os olhos e dessa vez ele me encarou de modo analítico, compenetrado:

— Você é formado?

— Último ano, senhor – Respondi rápido sabendo que eu precisava mesmo convencer ele, por que vai saber se não era ele o meu futuro chefe? – Mas meu avô era contador, meu pai é, é uma profissão de família. Garanto que sou muito eficiente na área e mesmo sem experiência comprovada, juro que se tiver uma oportunidade darei o meu melhor e mostrarei que não haverá arrependimentos se me der essa chance.

— Hummm... – Ele voltou a me olhar, agora de cima à baixo e mais alguns segundos voltou para o balcão tirando um telefone antigo do gancho – Pcy, temos um candidato a vaga de contador aqui em cima. Pode vir buscá-lo e levá-lo para a entrevista? – Ele escutou um pouco e depois sorriu de canto – The Boss está no escritório principal essa noite, avise que temos um. Ele desligou e me apontou uma sala lateral - Aguarde, sua carona chegará em alguns minutos, ele te levará para a entrevista, boa sorte.

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora