A queda

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  Eu acordei bem lentamente sentindo um cheiro gostoso de maresia a minha volta. Por alguns micros instantes cogitei que era um sonho, que era uma lembrança de infância, que era minha mente... Até que me recordei do carro e da minha queda.

Abri os olhos aflito e me vi em um cômodo amplo, mas simples: A cama era de solteiro e o quarto tinha um guarda-roupas antigo de madeira escura, um chapeleiro e uma mesinha de canto com dois banquinhos. Nada mais. Parecia um cômodo parado no tempo, antigo e as paredes eram de pedra rústica. Um frio percorreu minha nuca e eu me ergui indo em direção a janela ampla e curiosamente sem grades. Lá embaixo, muito embaixo, havia o mar batendo nas paredes de pedras da construção... Parecia que eu estava em alguma torre de algum castelo medieval no alto de rochas de um mar desconhecido. E era dia de sol forte, um sol que não pertencia a cidade naquela época.

— O que aconteceu...? - Murmurei aflito e me voltei para a única porta do lugar que parecia pequena, realmente como se fosse alguma construção esquecida no tempo e bati nela gritando alto – Ei! Tem alguém ai!? EI!?

A porta obviamente estava trancada e por longos minutos achei que não havia ninguém, que eu fui colocado ali para morrer ou algo do tipo. Pensei em todas as piores hipóteses e uma ainda pior...

Bianca. Bianca devia estar louca a essa altura...

PCY!

— Meus deuses, o Pcy!

Disse nervoso e finalmente, finalmente a porta se abriu e eu me afastei dela sem saber ou imaginar quem estaria por trás daquilo tudo...

Quem entrou pela pequena porta era incrivelmente meu professor de cálculos avançados! O mesmo professor que semanas atrás, semanas que pareciam uma vida toda, me pediu aflito que fugisse da mansão dos Campone...

— Professor!

Murmurei chocado.

Ele passou pela porta, a trancou e cruzou os braços me olhando de forma séria:

— Kim Yuto, ou devo chamá-lo agora de Kim Yuto Domenic Campone?

Dei mais dois passos para trás... Senhor Cristinho! Quem era de verdade aquele homem!?

A verdade era que eu nunca parei realmente para pensar naquele dia em que ele parecia tão aflito com toda a coisa de eu ir trabalhar para a Organização Campone, lógico que ele parecia saber demais, porém para mim não foi algo tão importante e quando eu devia dizer... Eu não disse a Bianca que era ele quem me falou sobre o harém.

Eu podia ter sido mais burro!?

— Porque você me sequestrou!?

Perguntei tentando soar calmo. Eu sabia que ficar nervoso ou surtar só iria piorar toda a situação, mas era difícil, bem difícil mesmo...

— A pergunta certa é porque diabos você se casou com a família Campone!? – Ele veio para mim com rapidez e me agarrou pelos ombros e nunca pensei que aquele homem mediano, tanto de tamanho quanto de idade fosse realmente forte, mas agora eu percebia que ele era forte, embora esguio. E não só isso, os olhos amendoados que sempre me olharam com repreensão agora me encaravam com fúria, uma fúria que não fazia o menor sentido, nenhum mesmo... – Porque, Yuto, por quê!? Depois de todos os avisos que eu te dei?

— Isso é problema meu... - Disse entre os dentes, os dedos dele apertaram mais minha pele e eu fechei os olhos – Me solta, professor.

— Aqui não somos aluno e professor, Yuto, aqui somos dois homens resolvendo uma situação! – Ele me soltou, mas ainda se manteve diante de mim – Pare de me chamar de professor, meu nome é Alif Hussman, me chame pelo nome.

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora