Sangue, suor e magia

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  A gente só sente falta daquilo que perde, mesmo que tenhamos vividos tal coisa apenas por alguns poucos dias.

Isso era verdade, absoluta verdade.

Eu sorri mais do que aliviado ao acordar e sentir as mesmas mãos familiares em torno de mim: JYJ me segurando com ambas as mãos nas minhas costas, todo protetivo, enquanto eu estava deitado sobre ele e a mão pesada de Chin na minha cintura. Aquele era meu lugar, minha casa, minha vida.

E eu não ia mais deixar que me tirassem dali.

Afofei mais o peito rijo onde minha cabeça se apoiava e ouvi um risinho rouco e baixo acima de mim:

— Agora ficou mais macio?

— Nem por um milagre, mas tentar não custa nada.

Respondi sorrindo e eu sabia que JYJ sorria em resposta simplesmente... Porque eu o conhecia. Sim, eu conhecia aquele homem, eu conhecia meus maridos e a Bianca.

Eu os reconhecia comigo.

Ergui a cabeça e olhei para aqueles olhos todo sonolentos ainda, mas sobre mim com atenção:

— Você e o Chin perderam a hora?

— Não. Bi e Third convocaram uma reunião geral hoje e por isso temos uma hora a mais para começar o dia – Ele terminou de falar e o relógio dele vibrou. JYJ deu uma piscadinha. – Agora sim, hora de acordar.

— Eu vou hoje pegar o turno da tarde, tenho que concluir meu TCC durante a manhã.

— É verdade.

JYJ disse assentindo.

Ontem, quando eu voltei para casa e fui ver os dois causadores de toda a minha dor de cabeça na prisão da mansão – Eu só descobri que ela existia ontem – Eu me dei conta de duas coisas: Bibi e Bianca trabalhavam juntas com uma precisão cirúrgica e que a humanidade devia evitar aquela dupla em situações de vingança, e a segunda coisa era que toda a arrogância daqueles dois desapareceu. Assim que entrei na cela eles se arrastaram aos meus pés em um nível de desespero que eu nunca achei que fosse presenciar, mas eram desesperos bem diferentes:

— Yuto, Yuto! Tenha piedade, por favor... Yuto!

Esse era Noe que tossia e cuspia sangue. Olhei aflito para a Bianca que apontou para a Bibi e eu suspirei. Ela sorriu toda doce:

— Eu disse que ele estava vivo, não disse em que estado. Ele é um traidor, sequestrador e tentou te matar, eu fui clemente, ele ainda respira.

— Yuto, me tira dela, eu farei qualquer coisa... Qualquer...

Ele voltou a tossir e eu me voltei a Alif que apenas me olhava como um psicopata ainda que se arrastasse em minha direção: ele ria, gargalhava e parecia saber que eu menti, ele sabia o que houve, ele parecia... Me ver:

— Você... Me enganou direitinho... Todos eles vão ver, agora que o feitiço saiu do meu sistema... eu vi, todos verão... Vai sair da rata branca e da víbora louca... HÁ HÁ HÁ... Todos vocês vão ser destruíiiiiiidos! Os Francandi terão o que merecem... AHHHHH ESSE MUNDO É TÃO JUSTO! OS DEMONIOS SAEM DO MARRRRR! IBA IBA, IBA MARUJO, ELAS VÃO TE PEGAR!

E ele passou a cantarolar aquilo com afinco e eu senti minha pele arrepiar.

Eu nunca tinha ouvido aquela música, mas eu a conhecia. Eu a conhecia...

Minha alma a conhecia.

— Vamos, paixão. Ele enlouqueceu.

Bianca disse abraçando minha cintura e me tirando dali e depois daquilo eu demorei para dormir, eu queria perguntar a ele o porquê, mas ele não estava mais em si.

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora