O mito da sereia

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Voltei para o quarto no fim do dia e encontrei apenas Bianca nele. Ela me olhou longamente e só então sorriu pequeno:

— Como foi?

— Acho que precisamos conversar, de novo.

Ela sorriu e negou:

— Acho que dessa vez não será preciso, seu pai e eu tivemos uma longa conversa sobre tudo isso.

Eu arregalei meus olhos e por fim assenti. Era uma possibilidade razoável de meu pai recorrer a minha esposa para evitar meus passos seguintes.

— E então?

Perguntei baixinho indo até ela e me sentando na cama. Bianca me deu outro daqueles seus longos olhares e por fim disse seriamente:

— Minha família, minha empresa, todos os negócios que são as fundações dos Campone se consolidaram em cima de sua parte de destruição ambiental e agora eu sei que continuar nisso, é machucar você. Você faz parte disso com mais intensidade do que eu, e se eu não mudar as regras, se não mudarmos as regras, não haverá futuro em que queira existir. Estou certa?

Sorri e me joguei nos braços dela. Aquela mulher... Não podia ser apenas uma mulher não é mesmo? Ela me entendia mesmo em nossas divergências mais agudas, aquilo era a essência do amor mais profundo?

Eu achava, naquele preciso momento, que era sim. Era justamente a definição mais verdadeira de amor verdadeiro aos meus olhos.

— Eu te amo, sabia?

— Eu também te amo, paixão.

Nos beijamos de forma quase casta e então ela acariciou minha orelha com cuidado:

— Eu disse ao seu pai que iria apoiar as suas decisões, mesmo que elas te levem para o mais extremo norte do mundo, eu estarei com você.

— E sobre a Organização...?

— Sua prima maluca mudou, eu posso fazer o mesmo. Basta mudar o foco das minas, para o oceano. Não é grande coisa, no fim. Eu devo cuidar da casa da minha pequena sereia, não?

— Eu não sou... Ah, esquece.

Resmunguei rolando os olhos.

Ela riu baixo em um daqueles raros risos que eu guardava com cuidado em minhas memórias.

— Temos muitos funcionários, muitas pessoas, mas é possível realocá-las todas em um novo negócio, pensarei em algo e tenho certeza de que meus irmãos abraçarão a ideia. Você tem razão sobre resolver as coisas de modo ameno ao invés de sangue, essa será a minha redenção com você, reconstruir o que destruí, proteger o que foi violado, plantar um novo mundo. Mudar de casa, de estrutura, de realidade. Nunca é tarde, nosso casamento me mostrou isso, que nunca é tarde demais e sempre é possível fazer a coisa certa.

— Eu nem sei o que dizer...

— Diga que ficaremos juntos, que vamos enfrentar os problemas futuros juntos, isso já basta.

Eu assenti e a abracei forte dessa vez.

— Sim, sim!

— E sobre o Third, dê tempo ao tempo, dê a possibilidade de ele também ver sobre outro prisma, de que seja possível vocês encontrarem um caminho em comum do outro lado, de outra forma, com outra oportunidade.

— Tem razão, como sempre.

Resmunguei de novo e ela riu, de novo:

— Geralmente eu tenho – Ganhei outro beijo e então tive seus olhos sobre os meus - E sobre suas irmãs?

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora