Outra maré

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O som do tapa deu para ser ouvido fora do quarto e eu sabia bem que o som pior era aquele de revolta dentro de mim, como ondas furiosas batendo em rochas brutas.

O som da minha fúria interna poderia ensurdecer toda a mansão.

E nem eu mesmo sabia que seria capaz de algo do tipo.

Third não se moveu da minha frente, nem ao menos para levar a mão ao rosto que ficou marcado. Não, ele permaneceu ali, de pé, imóvel.

— O pior... – Eu comecei a dizer sabendo que tremia e me sentia realmente indignado – O pior é saber que você usou de hipnose para ter uma pessoa acessível dessa forma, sabe... É como se você o embebedasse, Third. Não vê o quanto isso foi errado? Não é uma questão de gosto na cama, é uma questão de humanidade! CARAMBA!

— Eu sei.

— Ah, você sabe!? - Eu disse entre os dentes e então... Eu senti que não podia mais ficar olhando para aquela pessoa ou eu ia fazer algo realmente ruim – Eu estou indo e é melhor ninguém me impedir. Idiota!

Sai pisando duro e fiz as malas mais rápidas da minha vida, descendo praticamente socando os botões do elevador até o estacionamento onde Pcy me esperava.

Ele arregalou os olhos ao me ver de mala, mas não disse nada, entramos no carro, ele saiu da área residencial e foi quando meu celular tocou.

Olhei a tela e quase ri irônico. Claro que seria ela. A conivente...

— Para onde vamos, chefe?

— Para o aeroporto, você está com seu passaporte aí?

Pcy me encarou por alguns segundos pelo retrovisor e por fim assentiu:

— Sempre. Depois da loucura que foi da última vez, passaporte e roupas de emergência sempre andam comigo.

— Ótimo.

Atendi o celular e ouvi um suspiro de alívio do outro lado.

— Paixão...

— Eu realmente preciso de um tempo, Bi, de verdade. Olha, eu aceitaria muitas coisas, muitas mesmas, você sabe disso, mas não esse tipo de comportamento, eu fui criado... Com alguns princípios que eu não posso romper, sabe. Isso foge e muito do que eu considero aceitável então eu preciso mesmo de um tempo.

— Eu entendo.

A voz dela claramente não era agradável, mas eu senti que ela ia respeitar a minha decisão.

— Eu vou trabalhar remoto, continuarei dando sequência nas coisas, vou te manter em dia com os meus deveres.

— Eu sei que vai.

— Eu vou ligar para o Chin e o JYJ e explicar também.

— Para onde está indo?

— Ficar um tempo com a minha prima, eu devo a ela já que depois do sequestro eu nem fui ajudá-la com as coisas, vou fazer isso agora e aproveito para repensar a minha vida.

— Yuto, ouça com atenção. Eu entendo que isso para você é demais e bem, percebo que também isso ultrapassa seu limite rígido, por isso eu vou respeitar a sua decisão, mas não demore, fugir nunca é a solução.

— Forçar sexo com alguém indefeso também não, e aqui estamos.

Rebati frio e recebi um silêncio pesado como resposta.

Ambos sabíamos que a minha frase era a definição e resumo da situação afinal. E isso...

Não era algo fácil de se perdoar.

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora