Inocência

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  Havia alguns desafios em chegar na atual casa da minha estranha madrinha: ela morava em um templo antigo cravado no coração da selva do Congo, um ponto de difícil localização e alcance.

Não havia estradas razoáveis para se chegar de carro, ou seja, em determinado ponto você precisa deixar o carro e seguir a pé. Também não tinha local em que nem mesmo um pouso de helicóptero seria seguro, todos os quilômetros mais próximos de todos os lados até lá era coberto por terreno super irregular e de selva densa, resumindo, só se chegava a pé, ou como meu pai era capaz de fazer, por teletransporte.

Eu não queria dizer a ele que eu estava indo para lá e acabar levando sermão, ou pior, tendo ele indo me buscar em algum ponto, assim eu nem mesmo contei a Bibi para onde estava indo, apenas expliquei o que pude:

"Confie em mim, eu realmente estou disposto agora a trabalhar nessa nova causa, sabe, de colocar as coisas um pouco no lugar, corrigir erros. Essas coisas. Cuide bem do Pcy até eu voltar, por favor."

"Pode deixar e... Tome cuidado então, primo, principalmente com o seu boy lixo."

Não era como se eu pudesse rebater a fama que Third tinha agora com meus primos. Já era tarde e as coisas eram como eram.

Eu saí de Xangai com Third em um voo para Kinshasa cheio de conexões, já que chegar até a capital do país cravado no meio da África não era tão fácil, e quando saímos do aeroporto rumo a um taxi para fazermos uma parada em um hotel antes de alugar um carro e ir em direção a Floresta, eu tomei um imenso susto que me deixou estático por vários segundos: Lá fora estavam ninguém mais, ninguém menos do que Bianca, Chin e JYJ a nossa espera, encostados em uma Ranger de estrada e parecendo turistas asiáticos chiques no meio daquele caótico aeroporto congolês.

— Eu falei com a Bianca sobre tudo o que houve e quais eram os planos. Somos casados, Yuto, e uma viagem como essa não deveria ser feita apenas por nós dois. Bianca realmente nos mataria se fizéssemos isso sem ela saber.

Olhei de canto para o Third pensando que realmente ele jamais deixaria de falar daquilo com a Bianca, afinal ele não era o Pcy e família para ele viria sempre em primeiro lugar e eu... Não era o topo de família, claro.

Porém um fato consumado era minha inépcia em negar meus sentimentos aliviados e chorosos ao vê-los, era esse um dos motivos que eu passei três semanas e meia falando com minha esposa apenas por mensagem.

Ver ela já era um xeque mate sobre mim. E hoje ela estava vestida com um dos seus raros não vestidos, era um conjuntinho branco elegante e saltos médios. Óculos escuros escondiam os olhares letais que com certeza ela me lançava e cogitei realmente em fugir e me esconder por algumas horas. Por fim, no entanto, eu caminhei até eles e fui abraçado por meus dois maridos afáveis como se não nos visemos há séculos.

E então... eu estava diante dela.

E ela de mim:

Bi tinha uma presença quase opressiva quando desejava e era como uma segunda pele ao redor dela, assim, quando ela tirou os óculos e deu os dois passos até mim para ficar olhos nos olhos comigo, eu pude ler a fúria contida e uma certa irritação nada represada:

— Você realmente ia empreender uma viagem de três dias selva adentro sozinho? É isso, Yuto Campone?

— Third não é ninguém?

Rebati firme, mesmo estremecendo por dentro. Ela estreitou os olhos antes de falar em tom mais duro:

— Eu sei que convidá-lo a isso foi uma atitude de última hora.

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora