Números

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  Eu era virgem e nunca tinha sentido atração por ninguém. Nunca me incomodou em nada isso e eu vivia bem assim, mas agora aparentemente o jogo tinha virado, quer dizer, eu só não comecei a me interessar por alguém, como por vários alguéns, todos com o mesmo sangue.

Todos da mesma família.

Isso era racional? Fazia mesmo sentido?

E mesmo sem entender direito como fui chegar nisso, eu estava ali, ao lado dele, Third, a primeira pessoa que despertou meu interesse e também me fez ter minha primeira decepção amorosa. Estávamos na realidade diante da piscina interna da mini mansão, área restrita dos Campone e onde eu iria morar em alguns dias também. Ao invés de jantar, assim que sai do trabalho e o vi me esperando no estacionamento, decidimos conversar primeiro em algum outro ambiente antes de comer. E eu estava firme no propósito de esquecer a cena da manhã.

Eu o conheci sem saber quem ele era, tivemos conversas despretensiosas e ele me ajudou. Ele sabia quem eu era, mas eu não e agora não sabia se isso era relevante. As coisas tinham mudado.

— Eu sei que ficou chateado comigo naquele dia no jantar, mas eu só disse a verdade. Eu cresci aprendendo que devia dizer a verdade quando estivesse com minha família e você na mesa aquele dia já era considerado família. Bianca jamais permitiria uma pessoa de fora se sentar a mesa conosco. Por isso eu fiz o que fiz.

— Tudo bem Third, eu já me resolvi sobre aquilo.

— Não está tudo bem. – Ele se virou para mim e percebi que ele estava tenso – Nós vamos nos casar em alguns dias e não quero que as coisas sejam estranhas entre nós dois.

— Está tudo bem para você isso, quer dizer, se casar comigo? Você não tem interesse em mim e deixou isso...

— Claro que tenho, se não tivesse interesse em você eu podia rejeitar o casamento, ficaríamos casados no papel, mas seria só aparências. Bianca me perguntou isso naquela noite mesmo, se eu gostaria de me casar com você e compartilhar você com eles e eu disse sim. Eu estava sendo sincero, eu me interesso por você, só não me interessei no primeiro momento. As pessoas mudam. Ela mesmo mudou – Ao dizer isso ele suspirou e olhou para a piscina e ali eu percebi que sua mente parecia distante – Eu cresci vendo minha irmã mais velha ser a Imperatriz mais fabulosa do mundo, ela é minha inspiração, mas sempre foi intocável, nunca ninguém a interessou, nunca quis ninguém do harém, nem de dentro e muito menos ninguém do mundo de fora da Organização; Bianca estava cima de todas as pessoas, ela poderia ter quem quisesse, mas ela te escolheu e se ela te escolheu, não há dúvidas de que você é especial e isso por si só já me interessa. Mas não é só por isso. Inki gosta de você e ele tem ótimo senso de caráter e eu quero alguém que goste dos meus irmãos, e do modo em que vivemos, dos nossos animais e não alguém sem alma, sem vontades e sem desejos.

— Oh.

Third tinha pensamentos intensos, isso era óbvio, mas eu gostei dele me ver como alguém único assim, quer dizer, todos éramos pessoas únicas, mas eu tinha entendido o que ele quis dizer.

— Bem, então acho que é isso. Estamos bem.

— Por que você se interessou por mim?

Ele se voltou outra vez em minha direção e nos olhamos por alguns segundos antes de eu responder igualmente sincero:

— Você me ajudou naquele dia em que me perdi e me apresentou ao Inki, não tem um motivo específico... E ah, claro, você é lindo, mas isso você já sabe não é mesmo?

Third sorriu de canto e deu de ombros:

— Beleza não se põe a mesa, não é o que dizem?

— Mas ajuda no jantar.

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora