PRÓLOGO

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O Prenúncio

      O sol ia se despedindo preguiçosamente nos céus de Blue River, trazendo o frescor da primavera que se fazia presente no perfume das rosas e damas da noite, deixando o clima agradável na praça central. Casais de enamorados, passeavam de mãos dadas, naquele início de noite, enquanto crianças faziam algazarra, felizes em suas bicicletas.

Pela sacada do seu quarto, Isabel observava todo este cenário bucólico, deixando-a extasiada. Olhou mais ao longe, a sorveteria da Ivone, iluminada pelo néon colorido da fachada e alguns clientes entrando e saindo, com sorrisos de felicidade e conversas aleatórias. Ela suspirou demoradamente, com inveja daqueles estranhos, com suas vidas pacatas e alheios aos problemas que ela internamente enfrentava. No alto, o céu pincelava tons de laranja, como se estivesse preparando o palco para a lua. Apoiou os cotovelos na beirada da sacada, segurando o queixo com as mãos abertas, com um olhar sonhador.

— Será uma noite perfeita! — Sussurrou.

Se sentia mais ansiosa que seu normal e tinha um motivo para isto; algo que ela vinha planejando já algum tempo e tão secreto que não teve coragem de contar para sua melhor amiga Meg.

Olhou seu delicado relógio, que sua mãe lhe deu quando ganhou a faixa de rainha da primavera na feira municipal. Esticou o pescoço para ver melhor o final da rua à sua direita. Sabia que ainda era cedo, mas seu nível de ansiedade estava quase explodindo em seu peito. Esperou por este dia já fazia algum tempo e agora que ele chegou, não voltaria atrás em sua decisão.

"Está quase na hora... Será que estou colocando muita expectativa nessa minha decisão?" Pensou, roendo as unhas, que já estavam curtas de tanto sofrerem nos dentes da garota.

Virou nos calcanhares, entrando para o interior do quarto na mesma velocidade que aquelas pensamentos se dissiparam da sua mente, puxando as cortinas vigorosamente, se jogando de bruços na cama, em seguida. Pegou seu diário, que estava jogado entre livros, cadernos e almofadas. Ficou escrevendo nele, por algum tempo, quando seu celular vibrou, chamando sua atenção.

Era Bryan, seu amigo, avisando sobre a prova de biologia e o trabalho em grupo estar pronto. Sorriu. Gostava dele mais do que podia imaginar. Ele sempre foi seu conselheiro, desde a vida toda. Digitou rapidamente, agradecendo e mandando uma chuva de emojis, como era seu habitual. Sentiu um nó no peito por esconder dele algo tão importante e decisivo pra ela. Largou o celular sob a cama e voltou a escrever em seu diário, enquanto sua música preferida enchia o ar com uma melodia melancólica.

Enquanto escrevia, um sorriso foi brotando em seus lábios rosados, fazendo-a cantarolar baixinho o refrão da canção. De repente, o celular vibra de novo, fazendo com que praguejasse, contrariada. Não queria parar de escrever, já que era importante documentar todo o seu dia e suas ações. Não passou um dia que ela não anotasse tudo nele, até o mais simples detalhe no fim do dia.

Pegou o celular novamente, lendo o que Bryan havia deixado desta vez. Era um convite para se juntar com o resto da turma mais tarde. Ela leu aquilo e digitou que estaria com eles, com toda certeza. Seu coração apertou, por mentir pra ele daquela forma tão covarde, mas não queria ter que dar explicações agora. Mesmo assim, se sentia muito mal em mentir logo para ele.

Suspirou, sentindo o nó subir e travar em sua traqueia. Levantou-se da cama, organizando os livros e os cadernos em sua mesinha de estudos, esticou a coberta lilás e ajeitou as almofadas do jeito que sua mãe sempre fazia. Foi até a janela, trancando bem, puxando as cortinas em seguida.

Se virou para se ver no espelho que ficava no canto, próximo a porta. Ficou assim, admirando sua imagem por algum tempo, se permitindo chorar. Desviou os olhos para a estante a sua esquerda, onde suas bonecas de infância dividiam espaço com troféus, faixas, coroas e medalhas. Foi até a porta do seu roupeiro, onde havia várias fotos de polaroid com seus amigos em várias poses e datas variadas. Havia uma especial, onde puxou, desgrudando e levando até os lábios, depositando um demorado beijo.

Foi quando seu celular vibrou novamente, tirando a jovem de seus devaneios. Olhou, enrugando a testa, lendo a mensagem curta e direta. "Está pronta?". Sorriu, respondendo um sim e desligando o aparelho em seguida.

Olhou-se mais uma vez no espelho, ajeitando o cabelo. Virou-se, olhando seu quarto, como se fosse a última vez. Apagou a luz, fechando a porta atrás de si e descendo as escadas, decidida.

Foi direto na cozinha, deixar um bilhete para seus pais, avisando que jantaria na casa da Meg e mais tarde, com seus amigos, aproveitando a noite agradável e se caso demorasse, dormiria na casa da amiga.

Leu, satisfeita com o resultado, deixando sob a bancada. Sabia que os dois iriam demorar na reunião da igreja, então não tinha medo de acabar se encontrando com eles no meio do caminho. Pegou uma maçã da fruteira, deu uma bela dentada e saiu, sem olhar pra trás.

Já na rua, subiu a pequena inclinação do quarteirão à direita, com passos decididos e cantarolando uma canção alegre que saia dos seus fones, dando pulinhos, conforme a batida da música. Isabel dobrou a esquina no fim da rua, feliz por, enfim, fazer algo que realmente queria.

No céu, a lua ainda demoraria para surgir. Mesmo assim, o crepúsculo já ia se anunciando por detrás das montanhas ao longe. A bela silhueta da jovem, iluminada pelos últimos raios de sol.

E a lua, ainda tímida, seria testemunha muda dos passos da garota, acompanhando-a até o seu destino final...

(946 palavras)

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