CAPÍTULO 03 - DOMINGO

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Mistérios Particulares

      Na missa dominical, os pais de Isabel estavam ao lado dos pais de Megan, quando os investigadores chegaram cumprimentando o casal:

— Bom dia, senhor e senhora Palmas. — Pigarreou. — Sei que aqui não é o lugar correto, mas não queremos perder tempo. Podemos conversar após a missa? — Sussurrou, Rogério

— Bom dia, detetive. Sim, claro!

— Vocês já sabem onde minha filha está? — A mãe da menina tinha olheiras profundas, denotando uma noite mal dormida.

— Estamos investigando, senhora. — Falou Amadeo, de forma respeitosa.

— Assim que puderem, estaremos aguardando. Obrigado. — Dizendo isto, Rogério tocou o braço do parceiro e se sentaram no fundo.

Dali, eles poderiam avaliar todos que entravam e anotando os detalhes.

— Rogério, você vai mesmo ficar até o fim da missa? — Cochichou, contrariado.

— Ainda estou decidindo, Amadeo. Quero ver como se comportam, sem nos notar nos últimos bancos.

— Certo... — Sem muita convicção. — Só acho impossível, dois estranhos sentados nos últimos bancos, passar despercebidos.

— Estou analisando uma coisa. Imaginando o padre sem a batida. — Sussurrou

— O que?! — Amadeo não se conteve.

Algumas das pessoas mais próximas olharam para trás, visivelmente incomodadas, com a reação do investigador, que prontamente pediu desculpas. Já Rogério, continuou impassível.

— Como um mortal, Amadeo. — Explicou. — Um homem normal, com todos seus pecados, amigo.

— Às vezes você me assusta, Rogério! — Cochichou, tentando não chamar atenção outra vez.

O sorriso do detetive demonstrava sua postura quanto à religião. Não que ele não tivesse uma fé, mas não simpatizava com qualquer obrigatoriedade nos cultos religiosos.

Alheio ao movimento em volta, ele ia anotando cada um que lhe chamava a atenção. Os pais da menina, o padre, o casal ao lado dos Palmas. Em alguns, fez um risco, outros pontos de interrogação. Após meia hora lendo e observando, levantou-se no meio da missa e saiu, deixando seu colega atônito.

Este, levantou-se do banco, fez sinal da cruz, seguindo Rogério para o frescor daquela manhã de domingo. Puxou o ar e olhou em volta:

— Acho que ouvi você dizer que iria ficar até o fim do culto. Isto é uma falta de ...

— Ainda estava decidindo. — Sorriu, respirando fundo. - Me decidi.

— Tem momentos que eu acho que você sente prazer em me cortar as frases...

— Olhe em volta, Amadeo. O que você vê? — Cortando seu parceiro, novamente.

Amadeo sacudiu a cabeça resignado. Já conhecia aquele olhar do amigo:

— O que está pensando, Rogério?

— Por que uma menina bonita, inteligente e com bons amigos, bons pais, com boas notas, sumiria assim?

— Cansada de tudo isto? Viver uma vida de glamour, quem sabe? — Gesticulou a mão, mostrando o que via.

— Esta é uma comunidade pequena, cheia de mistérios particulares...

Amadeo tentava seguir o raciocínio do detetive, em silêncio.

— O que você viu de errado, nesta paisagem, amigo? — Continuou.

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