O que? Achei que tivessem medo de mim

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Algumas semanas se passaram, e o encontro dos caçadores com as entidades estavam tornando-se cada vez mais casuais. A partir do momento que realmente entenderam como era o mundo delas, o medo havia praticamente desaparecido(lógico que excluindo Inês com as suas deduções e Aurora com seu humor ácido).

Mas, naquele dia, Aurora parecia diferente. Ela estava mais calada e era estranho conversar com ela sem ouvir nenhum comentário irônico.

-Manaus, o que ela tem? - Renato perguntou, assim que a ruiva se afastou deles.

- Aurora? - o mesmo perguntou e Renato assentiu - Aniversário de imortalidade - respondeu - Ela nunca curtiu muito a ideia de ser imortal, e principalmente durante essa semana, ela fica bem pra baixo.

-Estou indo - Aurora avisou, pegando o capacete de sua moto e saindo do bar.

-Aqui, Renato - Inês se aproximou do mesmo com um livro sobre religiões de origem africana, que havia sido ideia de Aurora, já que ela sabia que os caçadores não possuíam o menor conhecimento sobre isso - Talvez você possa animá-la - comentou - Você é o primeiro humano com quem ela estabelece um contato real a pelo menos um século - Renato assentiu e se despediu de todos, antes de sair do bar.

-Onde vai? - ele perguntou, aproximando-se da ruiva.

-Rodar por aí - ela respondeu, subindo na moto.

-Quer ir dar uma volta comigo? - ele perguntou e ela cerrou os olhos.

-O que exatamente o Manaus te contou? - perguntou

-Nada - ele respondeu e ela o encarou em silêncio, ainda desconfiada.

-Vamos então - ela deu de ombros e colocou seu capacete. Renato guardou o livro na sua mochila e subiu na sua própria moto - Tenta me acompanhar - ela brincou e saiu em disparada na frente.

Ela desviava com facilidade dos motoristas, e deixou por várias vezes Renato pra trás. Ela dirigiu até chegar ao lago Igapó, onde estacionou e ficou de pé na beirada próxima a água.

-Esse lago é do mesmo jeito desde que eu era criança - ela comentou, assim que ele parou ao lado dela - Havia um moinho bem ali - apontou - E ali onde estão aqueles prédios era a fazenda Flor do Sol, produziam açúcar - ela respirou fundo é ficou alguns minutos em silêncio - Sabe, a imortalidade é algo que pode parecer convidativo, mas depois de alguns anos você percebe que não é tudo aquilo que você imaginava. É horrível ter que se adaptar a cada vez que uma geração diferente surge.

-Quem é o mais velho de vocês? - ele perguntou.

-Iberê, 1487 - ela respondeu - Eu e Inês nascemos no mesmo ano, mas ela morreu 10 anos depois de mim - suspirou - Às vezes eu só gostaria de ter tido uma vida normal, sei lá, me casar, ter filhos, envelhecer e morrer, seguir o ciclo natural - sacudiu levemente a cabeça - Mas, não faz o menor sentido eu estar te amolando com meus problemas, nos conhecemos a menos de um mês.

- Não tem problema - ele respondeu - Quando precisar desabafar, pode conversar comigo - ela sorriu levemente.

-Valeu - agradeceu e o celular dele apitou - Acho que estou atrasando seu compromisso.

-Os meninos te chamaram para vir também - ele comentou e ela franziu o cenho.

-O que? Achei que tivessem medo de mim.

-Eles tem - concordou - Mas, ao mesmo tempo te acham uma pessoa divertida.

-Nossa, é o melhor elogio que eu recebo a algum tempo - ela assobiou e Renato riu.

-Vamos? - a chamou e a ruiva o encarou por alguns segundos, antes de assentir.

-Vamos - concordou e subiram em suas motos.

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Continua...


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