-O que vocês querem? - Aurora perguntou, sentada em cima de um galho em uma árvore alta.
-Gente, qual é o lance de ficar nos assustando? - Miguel perguntou com a mão no peito enquanto a ruiva saltava, aterrisando com facilidade no chão.
-É divertido - ela deu de ombros - Anda, desembuchem, dá pra ver que estão indo pro caçador - se referiu as roupas deles.
-Viemos te chamar pra ir junto - Renato respondeu e a ruiva cerrou os olhos.
-Vocês tem medo do lugar - ela deduziu e o mesmo assentiu - Beleza, eu vou de moto - ela avisou, caminhando em direção a sua casa.
-Achei que sua moto estava no concerto - Thiago comentou e ela sorriu por cima do ombro.
-A Tiger está - ela respondeu e entrou na casa. Ouviram o som da partida e segundos depois a ruiva apareceu com uma Harley-Davidson Heritage Softail Classic.
-Uma Heritage? - Boquinha se aproximou da moto - Esse modelo é de quando? 1960?
-1951 - ela respondeu - Comprei no Uruguai - ela comentou - Recém saída da fábrica. Onde vamos?
-Numa encruzilhada - Renato respondeu e a ruiva sorriu zombeteira.
-Entendi a cara de medo - ela respondeu - Bom, mostrem o caminho - disse, colocando seu capacete.
Chegaram na encruzilhada uma hora e meia depois. Aurora desceu da moto e analisou o local, enquanto os meninos se preparavam.
-Bom, como eu tenho quase certeza de que não lerão o livro sobre religiões de matriz africana, vamos a algumas instruções - sentou-se na caçamba da camionete e ergueu um dedo - Primeiro, macumba é uma árvore que dá origem a um instrumento musical ou uma árvore africana, então, o nome de tudo isso na encruzilhada é ritual - ergueu o segundo - Os rituais visam invocar o Orixá ancestral e toda a sua hierarquia de Orixás menores, Guias e Protetores. Rituais com frutas, legumes, raízes e doces são designados a caboclos, espíritos indígenas. Pipoca, aguardente, bolo de fubá, café, arroz doce, canjica, velas, panos brancos e pretos e alguidar são designadas aos Pretos Velhos, espíritos de velhos escravos brasileiros. Bebidas, charutos e fumos são para Exus, mensageiros dos Orixás. Perfumes, jóias, maquiagem, flores, licores, cigarros, cigarrilhas e bebidas são para Pombas Giras, mensageiras especializadas em amor. Por último, doces são para Erês, espíritos infantis - ergueu outro dedo - Existem outras oferendas aqui, designadas aos Orixás. Concluindo, não toquem em nada, confiem em mim.
-Eu me perdi quando ela falou da árvore - Léo comentou - Mas, entendi a última parte, sem tocar em nada.
-Bom garoto - ela piscou e desceu da caminhonete - Afinal, o que vieram fazer aqui?
-Explorar - Renato respondeu.
-O conceito de diversão de vocês é estranho - ela comentou.
-Você estoura janelas para assustar as pessoas - Renan argumentou.
-Porque realmente é divertido - retrucou e ouviram barulho na mata.
-Isso é onça - Boquinha avisou, apontando a arma.
-Oi, Sr. Duarte - a ruiva acenou e uma onça com a pata dianteira torta saiu da mata, transformando-se em um homem alto, que tinha a aparência de um fazendeiro da época de ouro do café.
-Eu deveria saber que era você - ele observou - Boa noite, garotos - o cumprimentou, mas os mesmos estavam paralisados - Eles estão bem?
-Vão ficar - ela garantiu - Toda vez que eles ficam cara a cara com uma lenda nova ficam com essa cara de idiota.
-Bom, então acho que é de minha responsabilidade avisar que Verônica estava correndo por aqui - Sr. Duarte comentou.
-Essa noite vai ser divertida - ela brincou.
-Você é cruel, criança - ele comentou - Gosto disso em você.
-É - ela ponderou - É um traço que poucos tem.