Pedaço de...

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As batidas na porta eram altas, as palavras ditas pelo traste lá fora eram mais altas ainda. Ele estava descontrolado. Olhei para Alice e a vi congelando no lugar, sem reação, me olhando como se buscasse palavras

- Ei, calma - Fui até ela e me abaixei ao seu lado a olhando nos olhos - Vamos chamar a polícia e vai ficar tudo bem. Tá bom? Fica calma.

Fui até a porta e olhei pelo olho mágico, pude ver o Pedro andando de um lado para o outro, totalmente fora de si, sussurrando coisas e dando murros na porta de vez em quando.

- Eu não sei porque deixaram ele subir, eu pedi...- Alice se levantou e em voz alta pediu para que ele fosse embora - PEDRO, VAI EMBORA DAQUI, ME DEIXA EM PAZ.

- Eu sabia que você estava aí, eu sabia. Abre essa porta, Alice, vamos conversar. - Tentou parecer mais calmo.

- Eu já disse que não tenho nada para falar com você. VAI EMBORA.

- Sua piranha, abre logo. - Chutou a porta e vi Alice saltar em um susto, tapando os ouvidos. Me doeu vê-la assim.

- Vai embora, seu idiota. Já estou chamando a polícia. - Peguei meu celular e disquei 190.

- Quem...quem está aí com você? Quem é essa, Alice?

- Alice não tem nada pra falar com você, não ouviu?

Ouvimos a porta ser esmurrada novamente e Alice veio para perto de mim, logo a abracei, numa reação natural de tentar acalma-la. Eu queria protegê-la, tirar esse medo de dentro dela.

- Fica calma, tá bem? A polícia já vai chegar. - Falei baixo enquanto a abraçava.

- Ele é maluco, Isa. - Seus olhos se encheram d'água.

É absurdo ver o quanto alguns homens - ou seriam muitos? - se acham donos das mulheres com quem tem algum tipo de relacionamento. Mais absurdo ainda é ver que ninguém ajuda de fato.

- Onde fica o interfone? - Perguntei e caminhei até ele assim que ela me mostrou. - Boa tarde. Eu me chamo Isabella, estou no apartamento da Alice...

- Senhora, Isabella, nos desculpe, já vimos pela câmera o que está acontecendo, estamos subindo agora mesmo.

- Obrigada. Tirem esse vândalo daqui, por favor.

Voltei até Alice que agora se encontrava sentada. Me abaixei em sua frente e ouvimos mais xingamentos e porradas na porta. Olhei em seus olhos cheios de lágrimas que já começaram a escorrer. Abaixada em sua frente coloquei a mão em seu rosto, a fazendo olhar em meus olhos

- Ele vai embora, minha pequena. Vai ficar tudo bem. Vamos resolver isso, confia em mim.

- Você não precisa passar por isso...me desculpe.

- Para de pedir desculpas. O único culpado de alguma coisa aqui é esse babaca. E ele vai pagar por isso, fique tranquila. Você é a vítima aqui, não se culpe e muito menos se preocupe comigo.

Escutamos uma gritaria e fui olhar novamente. Vi dois rapazes que pareciam seguranças puxando ele pelo corredor enquanto ele tentava conversar, adotando seu ar dissimulado. Ouvi ao fundo a sirene do carro da polícia e resolvi descer para que ele não fugisse.

- Eu vou lá falar com a polícia. Vou pedir pra virem aqui e assim você não precisa descer.

- Não. Eu vou com você, já estou melhor. - Veio até mim e me abraçou, dando um beijo em meu rosto. - Obrigada por estar aqui.

*****

{ALICE}

Descemos até a portaria e lá pude ver o Pedro conversando com os policiais. Contando a versão dele e sendo ouvido com todo carinho, afinal, por ele ser filho de Delegado da Polícia Federal, sempre me contou que conhece muitos policiais. Já o vi inclusive sendo parado em blitz e misteriosamente sendo liberado minutos depois, mesmo estando sem documentos do carro, pois ele sempre esquecia.

Improvável - Isabella e Alice (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora