{PRISCILA}
Que confusão foi a noite de ontem, o dia todo, na verdade, mas a noite foi ainda mais interessante. Não sei exatamente em que momento as coisas ficaram tão surreais, mas agora é hora de assimilar tudo e buscar entender o que aconteceu. Foi só uma noite de bebedeira e ânimos exaltados, acho que nem tenho motivo pra pensar tanto. Provavelmente não devo mais ver a Laís. Aliás, ela nem deve lembrar das brincadeiras que fez e do beijo rápido que pareceu mais sem querer do que qualquer coisa. Está tudo certo. Vida que segue. Agora é ir pra casa e colocar toda a matéria em dia.
- Isa, estou indo embora. Não que vocês duas estejam preocupadas comigo, mas... - Impliquei ao vê-las no sofá, comendo pudim e conversando.
- Você ainda está aí? Realmente não lembrava - Isa implicou mais, me dando língua em seguida. - Vai de Uber??
- Vou. Ainda não roubei seu carro.
- Espera um segundo, tenho que te dar uma coisa.
- Opaaa. Vai me dar aquele seu casaco do Game of Thrones? Não acredito.
- Não mesmo. Isso jamais. Toma. - Isa voltou com uma sacola com algo dentro, nada de embrulho bonito, a fofura dela é digna de uma Fiona.
Ao abrir a sacola me deparei com a caixa de um notebook incrivelmente perfeito. Um sonho. Eu precisava muito de um desse. Meus olhos se encheram de lágrimas e só consegui sorrir.
- É sério? Mas como...
- Não gostou? Devolve aqui então...
- Saiiii, garota. Eu amei!! - Pulei em cima dela, a derrubando no sofá - Eu te amooooo. Não acredito que fez isso por mim. Mas, Isa, foi caro...você é louca. Eu te amo, mas você é louca - Eu só conseguia sorrir e me sentir grata por ter uma prima-irmã tão incrível que sempre me apoia.
- Só quero que você tenha o que precisa pra chegar aonde quer chegar. - Disse sem graça, acho que pela presença da Alice ali ao lado observando com sorriso no rosto. - Agora vai. Tchau.
- Acho até que vou ficar mais. Brincadeira, o Uber já está chegando. Isa, obrigada. - Disse e a abracei forte e a olhando nos olhos pra passar a mensagem de cumplicidade que sempre passamos uma pra outra.
Ao pegar o Uber, aproveitei a viagem até minha casa para pensar em tudo que já passamos e em como aquele gesto foi importante pra mim, mas com toda certeza para ela também.
A vida da Isabella não foi fácil. Aliás, muito longe disso. Todo o amor que ela teve veio por parte da Vó. Quando ela era viva a Isa tinha um porto seguro, alguém que a tratava com carinho e que, mesmo dentro das limitações de grana e estudos, fazia de tudo para que ela pudesse ter o que comer, roupas limpas, vaga em escolas públicas boas. Uma vez a vó deixou de pagar uma conta de luz para pagar a inscrição da Isa em um concurso para escola técnica. A Isa foi lá e passou mesmo estudando de casa, sem luz e com livros emprestados.
Eu tenho muito orgulho da pessoa que ela sempre foi. Mesmo com o abandono do pai, que nunca esteve presente, demonstrando amor apenas de longe e raramente, mesmo com a total indiferença e raiva que a mãe dela sentiu dela a vida toda, ela não se tornou uma pessoa ruim. Pelo contrário, se tornou alguém com o coração do tamanho do mundo.
Quando a vó faleceu, Isa se fechou demais. Se tornou uma pessoa de poucas palavras, que só fazia estudar e buscar uma vida para ela. A vida com a mãe e os irmãos era insuportável para ela. Ouvia coisas terríveis. Mesmo fazendo bicos de todos os tipos para sempre ter seu dinheirinho, mesmo ajudando em casa, estudando de madrugada e sendo do bem, sempre foi tratada com desprezo e ela odiava isso. Não aceitava quieta e por isso vivia em meio a discussões. Era difícil assistir.
Um tempo depois, antes de começar a faculdade, conheceu a Mariana. Mariana era estudante de Engenharia, bonita, engraçada e parecia ser uma pessoa incrível. Um tempo depois começaram a namorar e vi a Isa se abrindo mais. Depois de um tempo foram morar juntas. Isa trabalhava como assistente administrativo em uma empresa, fazia bicos de recepcionista aos finais de semana, Mariana também trabalhava em uma empresa de engenharia e foram crescendo, conquistando coisas.
Após uns anos comecei a perceber que o brilho da Isabella só existia na parte profissional. Na parte pessoal ele ia sumindo. Passou a viver os gostos e escolhas da Mariana. Percebia comportamentos abusivos e de controle da parte da Mariana e Isa não enxergava. Coisas suspeitas foram acontecendo e as via discutindo, Isa se fechando novamente.
Isa se formou e quase no mesmo tempo, descobriu a traição. Pegou a Mariana com a melhor amiga dela se pegando na própria casa das duas. Foi terrível. Isa ficou mal. Acho que ali sentiu todo abandono e rejeição novamente. Ela foi embora na mesma hora, já estava cansada e naquele momento teve forças pra seguir.
Ela alugou uma casa menor, eu fiquei com ela uns dias. Foi difícil assistir o quanto ela se fechou novamente. Parecia um robô. Evitava tocar no assunto, começou a sair muito e a ficar com várias pessoas que ela nem queria saber o nome. Chegamos a discutir nessa época pois eu insistia que ela procurasse ajuda.
A demônia da Mariana enviava mensagens e ligava o tempo todo. Aparecia nos lugares que elas costumavam ir, era um pesadelo. Isa mudou o número, passou a ir para outros lugares e só depois de um tempo começou a desacelerar de toda essa loucura.
Isa passou a ficar com menos pessoas, mas nunca se envolvendo. Sempre mantendo distância. Conheceu pessoas legais, mas passou a deixar de lado essa área da vida. Nada de sentimentos.
Isa é uma pessoa sociável demais. Onde passa faz amizades e sabe lidar com as pessoas, mas só até o ponto em que não é sobre sentimentos ou sobre ela.
Uma amiga dela a indicou para o atual emprego e ela logo brilhou. Era a chance que sempre sonhou. Até fui para a casa dela e ficamos uns três dias preparando tudo para ela começar no trabalho. Ela era felicidade pura. O brilho nos olhos voltou. A vi completamente feliz novamente. Realmente foi a mudança na vida dela.
Em pouco tempo já estava nessa casa de hoje, já tinha um carro incrível e já vivia mais alegre.
Quanto à parte romântica da vida, pra ela isso era realmente deixado de lado. Eu parei de tocar no assunto e deixá-la se encontrar aos poucos. Vi ficando pelo caminho pessoas incríveis que ela conhecia, ficava uma ou duas vezes e depois dizia que não dava mais pra ficar.
Por isso, pra mim, a Alice é um acontecimento. Ver minha prima tão feliz, tão entregue, baixando as guardas e tentando, tá sendo muito especial e feliz. Ver o brilho nos olhos dela não só pela profissão, mas por ter alguém ao lado dela dando o valor que ela merece. Isso tá sendo demais.
No fundo sinto medo também. Medo de que por algum motivo inexplicável Alice seja uma pessoa escrota e a faça sofrer. Mas acho que não vai ser assim. Acho que as duas realmente se gostam, combinam e vão dar um jeito de ficarem juntas.
Isa não é fácil e não vai se abrir assim facilmente, eu sei e sou realista quanto a isso, mas espero que Alice continue chegando com essa calma e a faça admitir o que sente. E melhor, que a faça viver o que elas tem.
Eu vou continuar fazendo a minha parte e estando presente sempre. "Nossa, esqueci de tirar o celular do silencioso. Que número é esse?". 3 mensagens no WhatsApp de um número que eu não tinha salvo.
{2100000000} / Que noite, hein, doida. Amei ter ido e tudo o que aconteceu.
{2100000000} / As pizzas estavam o máximo hshshushs
{2100000000} / Aqui...você por acaso lembra de tudo?
- Droga!! - Será que a Laís lembra? O que eu faço com essa informação? - Meu Deus, o que rolou?
- Falou comigo, senhora? - O Uber respondeu.
- Não, moço. Desculpa. - Meu coração acelerou.
"Por que meu coração acelerou?". Me sinto confusa, mas por hora, melhor não responder e ir pra casa curtir meu presente e pensar no que fazer.
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Autora aqui: Capítulo curtinho e sem revisão, só para voltar a ativa e explicar o ponto de vista da Pri e um pouco mais do jeito da Isa. Isa não é vilã, poxa kkkkk
Tem alguém lendo ainda? ❤️
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Improvável - Isabella e Alice (Romance Lésbico)
Roman d'amourQuando uma jovem advogada que vive para o trabalho e não acredita mais em relacionamentos se vê totalmente envolvida e encantada por sua colega de trabalho, uma jovem executiva que acredita em pessoa certa e no amor, grandes sentimentos podem surgir...