Sem escapatória

168 8 32
                                    

{ISABELLA}

Sabe quando você está levando sua vida muito bem e de repente parece que chega uma onda e tira tudo do lugar?

Sinto como se uma tsunami tivesse passado em minha vida e mudado exatamente cada coisa de lugar. Nada está igual. Não quero dizer que essa tsunami foi a Alice, mas sim o sentimento que ela fez explodir em mim. Ele sim é essa onda. É algo novo, algo diferente e difícil. Difícil seria a palavra certa? Não sei. Mas é complicado entender.

Depois que ela respondeu minha mensagem, na sexta a noite, eu não quis mais perturbar-la. Entendi que ela tinha razão. Toda essa confusão sentimental que eu sou, todos esses medos e minhas ações confusas. Tudo isso não é suficiente para ela e ela está certa em não querer se envolver nisso tudo.

Fui pra casa logo após o acontecido e não consegui dormir. Peguei um vinho e sentei perto da piscina, coloquei uma música no celular e tentei organizar meus pensamentos.
Me peguei olhando para a foto dela no WhatsApp, querendo ligar, mandar mensagem, mas eu não podia. Eu não devia. Era errado.

Nunca ninguém teve responsabilidade emocional comigo e eu não seria assim com ela. Se for para algo acontecer, que seja de uma forma simples e correta. "Algo acontecer? Nada mais vai acontecer, eu sei.". No fundo eu sei que eu prefiro assim. Prefiro que termine antes de começar. Prefiro que doa agora para não doer muito mais depois. Sempre dói. "O amor é isso, não é?".

Uma madrugada inteira acordada. Um sábado inteiro mergulhada nos filmes. Cozinhei durante todo o dia. Cozinhar me acalma, embora eu quase nunca pare para fazer isso. Gosto de cozinhar para quem eu gosto, mas agora não é o caso. Só fiz algumas coisas bobas para mim, precisava me distrair e pensar de forma calma.

Pri me ligou no domingo. O aniversário dela é no próximo final de semana e como meu quintal é maior (e tem piscina), me pediu para fazer uma festinha a tarde aqui. Somente para os mais chegados. Poucos amigos e nenhum parente. A festa da família é sempre feita separadamente.

Nossa família é grande e complicada. Eu e Pri somos meio que as ovelhas desgarradas e diferentes. Ela ainda é mais querida, eu acho. Eu sempre fui a que gosta de ficar sozinha. Amo meus primos, claro, mas gosto de ter meu espaço.

A semana passou corrida no trabalho. Ainda bem. Não vi a Alice em momento algum. Até passei pela mesa dela algumas vezes, mas não estava lá. Espero que esteja tudo bem. "Será que ela pensou em mim essa semana?".

Já é sexta feira e saí no horário normal do trabalho: 18 horas. Um verdadeiro milagre. Combinei de ir ao mercado com a Pri para comprarmos tudo para a festa. O presente dela eu comprei durante a semana, mas ainda não entreguei. Acho que ela vai gostar do notebook novo. Como já disse, eu a tenho como uma irmã mais nova e, por sermos de família humilde, sei de toda a dificuldade que ela já passou, como também já passei. Sei da ralação dela para estudar e por isso sempre ajudo como posso. Já faz algum tempo que ela vem reclamando do notebook velho dela, mas só vou entregar amanhã.

- Precisa mesmo ser churrasco? Por que não faz um rodízio de pizzas? Eu faço.

- Mas é muito trabalhoso, Isa. Não acha?

- Acho. Por isso eu quero.

- Nossa. Tá seca essa semana. Que falta a Priminha está fazendo por aqui. - Debochou.

- Ela não é sua "priminha". - Retruquei enquanto peguei o carrinho e fui na frente.

- É sim, menina. Só você não sabe. - Sorriu, abrindo um pacote de biscoito - Tá. Vamos fazer o rodízio. Eu amo suas pizzas mesmo.

- Ótimo. Vou pegando as massas pré cozidas e os recheios. E não vou fazer pizza de Strogonoff, nem tenta pedir. Isso é um insulto.

- Ahh, você vai sim. É o MEU aniversário, escorpiana chata.

Improvável - Isabella e Alice (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora