Capítulo três

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Daisuke e Hana entraram em uma fase de experimentação. Isso, mais do que qualquer outra coisa, foi o que lhe deu ânimo para continuar acordando toda noite, fazendo-o encontrar a força mental necessária para se concentrar e conversar.

Descobriram que Daisuke realmente podia beber água, apesar de a garota estar certa: ela não acalmava sua sede nem um pouco. Testaram outros líquidos: suco, refrigerante, uma taça de vinho e — numa noite em que se sentiram mais ousados — um milkshake. Eles enchiam seu estômago, o que o distraía da fome por alguns minutos, mas não o nutriam de forma alguma. Decidiram testar comida sólida, e os resultados foram piores. Os sabores ainda eram os mesmos que se lembrava de sentir quando era humano, mas de alguma forma eram... menos. Como um salgadinho de baixa qualidade, com uma camada de um nanômetro de corante e aromatizantes, e o restante puro isopor. Além disso, seu organismo não estava mais preparado para digerir sólidos. Qualquer quantidade de alimento maior que uma porção minúscula lhe causava uma dor de barriga e consumia energia, deixando-o como se tivesse corrido uma maratona. Considerando que suas reservas energéticas já estavam baixas, não fizeram muitos testes. Hana pareceu desapontada com isso.

Com o fim dos testes, começou outra fase de letargia. As criadas mais velhas não tentavam falar com ele, então não era incomum Daisuke passar duas out três noites seguidas dormindo até chegar a vez de Hana vir limpar.

— Senhor Daisuke? Senhor Daisuke, você está acordado?

Ele estava, mas não tinha forças para abrir os olhos ou responder. Sentiu a garota sacudi-lo gentilmente, e a proximidade dela o fez perceber o quão quentinha e deliciosa ela era. Mesmo de olhos fechados tinha uma boa noção da distância e posição dela. Não seria muito difícil puxá-la para mais perto, conseguindo acesso ao seu pescoço... Daisuke abriu os olhos de súbito. Não tinha como negar que o cheiro de sangue humano era agradável, mas achava que esqueceria o próprio nome antes de sucumbir a esse tipo de pensamento. E no entanto, lá estava ele: fazendo planos para morder uma garota inocente, a única pessoa naquela mansão infestada de vampiros que falava com ele. Sentiu nojo de si mesmo.

Levantando-se de um salto, ele murmurou um "Estou bem" com um pouco mais de violência do que desejava e saiu do quarto.

O incidente com Hana levou Daisuke a mais um pico de energia: toda noite ele saltava do seu futon e fugia para os corredores e salas usados pelos vampiros

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O incidente com Hana levou Daisuke a mais um pico de energia: toda noite ele saltava do seu futon e fugia para os corredores e salas usados pelos vampiros. Continuava se recusando a interagir com eles, mas era preferível ficar lá do que perder o controle e atacar uma das criadas.

Geralmente Daisuke se encostava à parede entre um sofá e uma planta ornamental. Uma vez, quando o sofá estava desocupado, ele se sentara, mas caíra no sono quase imediatamente. E todos os seus instintos — os de caçador e os de vampiro — gritavam que ele não deveria adormecer cercado pela gangue de Akihito. Assim sendo, ficava de pé naquele cantinho que não chamava atenção, observando o ir e vir dos vampiros, ouvindo suas conversas para tentar se manter acordado. Nem sempre a regra de falar japonês era seguida à risca, e ao longo da noite sempre surgia um grupo conversando aos sussurros em português. Prestar atenção neles era uma distração bem-vinda. Descobriu que ocasionalmente recebiam até visitantes. Quando Weiss ou Agonglô enviavam um de seus segunda-classe com notícias para Akihito o mensageiro era sempre levado direto ao escritório, mas às vezes havia um acompanhante que vinha apenas para... fofocar. Talvez as noites sem fim não fossem tediosas apenas para ele.

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