Capítulo sete

11 1 0
                                    

— Ei, Dai, você consegue usar Influência?

Depois de algumas semanas desses encontros, Daisuke sabia que já estava testando sua sorte, mas ainda não se sentia preparado para parar de ver Charlotte.

— Pra falar a verdade eu não sei. Eu nunca tentei.

— Por que você não testa em mim? Não me olhe assim, não é como da última vez. O pior que pode acontecer é você falhar.

"Errado, Charly."

— Bem, eu consigo pensar em um punhado de razões pela qual não funcionaria. Em primeiro lugar, você está esperando por isso. Pedindo, de fato. Em segundo lugar, você foi treinada para resistir. E terceiro, não tem nada que eu queira influenciar você a fazer. Eu absolutamente não tenho motivação.

Estava mentindo. Tinha tantas coisas que queria.

Queria que Charlotte esquecesse que ele era um vampiro. Cada vez que se encontravam ela perguntava alguma coisa sobre sua condição: exatamente o quão forte é um vampiro? De quanto sangue ele precisava pra ficar bem? No começo parecia uma demonstração genuína de interesse pela vida dele, mas agora começava a ficar um pouco mórbido. Queria que Charlotte lhe desse algum presente — um celular, jogo portátil, cubo mágico — qualquer coisa para lhe dar uma distração nas noites em que não a via e suas escolhas eram ou andar em círculos pelo território ou passar a noite encarando as paredes. Queria que Charlotte esquecesse que era casada e flertasse com ele.

Morria de vergonha desse último. Daisuke era daqueles que só conseguia sentir atração por pessoas com as quais tinha alguma intimidade. E como Charlotte era praticamente a única pessoa com quem conversava, o crush que nutria por ela antes dela se casar estava voltando com tudo.

"A pior coisa que pode acontecer é eu conseguir e você decidir nunca mais vir me ver."

A ex-parceira não parecia satisfeita com a resposta, mas não insistiu.

— E se pra variar a gente não falasse sobre vampiros? E se a gente falasse de alguma coisa normal?

— Normal tipo o quê?

— Sei lá... que tal filmes?

— Filmes? — Charlotte adquiriu uma expressão incrédula.

— É! Faz um ano que eu não assisto um filme! O que está no cinema agora?

Ela demorou um pouco para pegar embalo, mas depois de alguns minutos ela estava gesticulando e dando detalhes sobre a trama de algum filme de assalto que ela e o marido haviam assistido juntos. Paulo gostava de comédias românticas, e Charlotte gostava dos filmes de ação. Filmes de assaltos e golpes eram uma espécie de terreno comum. Algumas vezes durante o relato Daisuke sentiu sua atenção deslizar, reparando mais no movimento dos lábios de Charlie do que nas palavras que ela dizia. Forçou-se a retomar a concentração.

E então teve uma ideia.

— Charly... por que a gente não vai ao cinema? Tem alguns lugares legais na área neutra e... hum... você sabe que eu não posso beber sangue, então será que você não consegue me levar na área sem vampiros? Quer dizer... desde que não sejamos vistos por um caçador...

Charlotte pareceu considerar a ideia.

— Bom, eu teria que falar com o John sobre isso.

— John?

— Oh. — ela não percebera que havia dito aquilo em voz alta – É o Rivers. Ele virou meu parceiro depois que você... foi embora.

Parceiro.

Técnicas SanguíneasOnde histórias criam vida. Descubra agora