— Daisuke, você tem carteira de motorista?
Ele havia ido até Haruka em busca de sangue, como sempre, mas dessa vez ela o segurou com uma pergunta.
— Sim. — "Mas eu me pergunto se ela ainda é válida." Afinal, fazia pouco mais de um ano desde que fora declarado morto.
— Então me leve ao shopping.
Era a primeira ordem oficial de Haruka, e Daisuke tinha muita vontade de dizer "Não tô a fim", mas ainda sentia um resquício do sangue dela na boca, e estava consciente do fato de que nunca conseguiria beber uma gota a mais do que ela permitisse. Nos dias mais sedentos, quando ele não sentia vontade de soltar o braço dela, ela se desvencilhava sem esforço algum. Haruka era muito mais forte que ele. Então em vez disso perguntou, tentando esconder o desânimo:
— Hoje à noite?
— A não ser que você queira me levar durante o dia.
Pela expressão dela era impossível dizer se estava sendo cínica ou falando sério. Daisuke sabia que vampiros puro-sangue podiam andar sob o sol. Será que suas crias mais fortes compartilhavam dessa vantagem? Ele não estava interessado em descobrir. Mesmo que não queimasse, Daisuke preferia evitar o cheiro carbonizado que permeava tudo durante o dia.
Haruka tinha um carro destinado a ela, um sedã preto elegante, porém discreto. Falando em "discreto"... para seu passeio, a vampira usava um vestido de festa preto, salto alto e maquiagem, o cabelo preso em um coque justo. Assim como seu kimono vermelho, parecia um visual escolhido para passar uma mensagem. Lembrou-se da aparência de Haruka quando ela cruzara com ele e Charlotte no shopping. Naquele dia, Daisuke pensou, ela estava disfarçada. Tirara uma fotografia da dupla sem que eles percebessem, e então permitira que eles a vissem, mostrando as presinhas num sorriso provocador. Era a zona neutra, então não podiam detê-la simplesmente por estar lá.
— Eu só vim para saber o que você quer de mim. Sabe... por que você me transformou em um vampiro e tudo o mais?
— Eu ainda não decidi se você vai servir para o que eu quero. Mas nós vamos ter muito tempo pra isso.
E tudo indicava que ela o havia escolhido antes daquele encontro. Quando? Onde? Como? Por quê? Ele dirigiu pela cidade em completo silêncio, levando-a para onde ela queria.
***
Os passeios de Haruka eram espaçados entre si, e através deles Daisuke estava descobrindo todo um mundo novo de lojas chiques e teatros — ocasionalmente um museu ou galeria de arte com horários noturnos.
— Eu ouvi dos subordinados do meu irmão que você tem ido à academia. — Haruka comentou.
— É bom fazer exercício.
Tirando instruções sobre o trajeto, era raro que ela dissesse qualquer coisa. Um diálogo desses podia ser seguido por horas e horas de silêncio.
— Você se dá bem com eles?
Mas algumas noites eram diferentes.
— Quê?
— A gangue do meu irmão. Você se dá bem com eles?
— A gente se mantém fora do caminho um do outro.
No fim, Haruka queria que ele se desse bem com outros vampiros? Nunca ficava claro pela maneira que ela conduzia as perguntas. Percebeu que ele não sabia o que a garota vampira estava pensando — não apenas quando ela o transformara, mas sobre todo o resto. Por que ela vivia com o irmão? Ele nunca havia visto dois puro-sangues dividindo território. Por que Akihito tinha mais de trinta pessoas sob seu comando, enquanto ela tinha... bem, ele?
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Técnicas Sanguíneas
VampireDaisuke Koyama, policial do departamento de controle de eventos paranormais, foi capturado e transformado em vampiro por Haruka - uma vampira puro-sangue com uma habilidade sanguínea peculiar: todos que bebem o seu sangue adquirem dependência. Dais...