Com o sangue que recebera de Haruka, Daisuke se sentia mais desperto do que ao longo das últimas semanas. Começou a se sentir entediado pelas paredes de papel e portas corrediças. A casa era enorme, mas entre o risco de encontrar as empregadas humanas e seu sangue cheiroso, vampiros hostis da gangue de Akihito, ou o próprio Akihito indo ou voltando de uma reunião de negócios, preferiu explorar o jardim. Havia muito jardim. A propriedade era enorme, com direito a jardins com estéticas diferentes e até um pequeno templo. Ficou fascinado pela pequena construção, e voltou lá várias noites. Gostava de olhar as estátuas guardiãs na entrada, e a ausência de um altar o fazia questionar qual era a abordagem de vampiros sobre religião. Talvez fosse uma coisa interessante para comentar com Hana.
Quando o luxo e o tamanho absurdo da propriedade não conseguiam distrai-lo, Daisuke prestava atenção nas mudanças que sentia dentro de si.
Percebeu que havia perdido a noção de quanto tempo passara desde que fora transformado em vampiro. Certamente uns quatro meses, talvez cinco... mas não mais de seis, certo? Também estava fascinado com a maneira com a qual seus olhos se ajustavam à escuridão, e como as cores ficavam diferentes sob a luz fraca das estrelas em comparação com sua aparência sob as lâmpadas dentro de casa. Luz do sol, obviamente, estava fora de questão. Ela queimava. Tudo que era tocado pelo sol passava as primeiras horas da noite com aquele cheiro de roupas passadas a ferro. Logo se tornou capaz de saber o quão próximo estava o nascer do sol baseado no quanto o cheiro de "queimado" havia desaparecido. E, claro, por quanto sono sentia.
Daisuke sabia que o ânimo não ia durar para sempre. Quando os sintomas da inanição retornassem, acabaria sem energia para essas caminhadas noturnas. Continuava decidido a não beber sangue, mas não podia fingir que gostava da perspectiva de uma morte lenta e dolorosa. Antes que isso acontecesse, buscava ocupar o tempo. Começou a se aventurar até os portões. Pensava em fugir? Dificilmente. Não deixaria de ser um vampiro mesmo que saísse da cidade. Pelo menos aqui podia contar com alguém para matá-lo caso ele decidisse que morrer de fome demorava demais. Mas talvez houvesse alguma coisa para manter sua mente ocupada do lado de fora da mansão.
Percebeu que o maior problema com os portões não era o fato de serem guardados. Era só que eles nunca se abriam. Quando os mensageiros de Weiss ou Agonglô vinham ver Akihito, eles entravam pela área geral do portão, mas pulando o muro de três metros. Ao entender isso, suspirou. Tinha certeza de que não era uma escalada impossível, nem mesmo para um humano, mas na sua condição atual... Tornou a suspirar.
Uma noite, como se para desafiar o parco conhecimento que Daisuke tinha sobre seu novo mundo, os portões se abriram. Foi praticamente um evento: Haruka saiu do quarto, um séquito de servos e segunda-classes curiosos espalhados a uma distância segura ao redor dela. A vampira ficou parada enquanto as portas se abriam. Aparentemente ela tinha uma convidada.
A mulher que entrou era claramente uma vampira, e devia ser puro-sangue, pela maneira como era recebida com honra. A recém-chegada tinha cabelo azul elétrico. Devia ser tingido, mas de alguma forma Daisuke achava que não. O cabelo dela era longo demais para que tingir fosse conveniente, batendo na cintura, e não tinha nenhum desgaste de cor desbotando ou cabelo destruído por química. Estava cheio de perguntas sobre o crescimento de cabelo de vampiros, e se a regeneração celular chegava até os cabelos, quando notou que ela usava óculos. Somando tudo, eram muitas informações surpreendentes. Mas nenhuma tão surpreendente quanto o fato de que Haruka tinha uma amiga.
— Alana!
— Haruka!
As duas se aproximaram, e por um instante Daisuke achou que elas iam se abraçar, mas pararam com distância considerável entre si. A tal Alana ainda fez menção de se aproximar um pouquinho mais, e Haruka estendeu as mãos. Alana fez o mesmo e elas seguraram as mãos uma da outra. Foi um gesto afetuoso, porém esquisito.
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Técnicas Sanguíneas
VampireDaisuke Koyama, policial do departamento de controle de eventos paranormais, foi capturado e transformado em vampiro por Haruka - uma vampira puro-sangue com uma habilidade sanguínea peculiar: todos que bebem o seu sangue adquirem dependência. Dais...