— Senhor Daisuke, a senhorita Haruka me mandou levá-lo para conhecer a casa.
— Senhor Daisuke, você não vai ver a senhorita Haruka?
— Senhor Daisuke, o senhor precisa de alguma coisa?
Toda noite uma mulher diferente aparecia em seu quarto: para limpar, para verificar a condição dele, para transmitir um recado de Haruka. Queria que elas não viessem. Toda vez que uma delas entrava no quarto, conseguia sentir uma mudança no ar. Estava reagindo ao cheiro do sangue. E a cada dia (noite) ficava pior. Tirando a primeira noite, quando Haruka o chamara explicitamente, e a segunda noite, quando uma moça alta de maquiagem lhe mostrara a casa, não havia saído do seu quarto. Talvez, pensou, se mantivesse a mente ocupada fosse mais fácil ignorar a fome crescente.
— Qual é o seu nome? — Ele perguntou à moça que apareceu para limpar o quarto. Era a mesma que falara com ele na primeira noite.
— Hana, senhor.
— Não precisa me chamar de senhor. Eu não sou tão velho assim.
Ela não chegou a sorrir, sua expressão assumindo mais um tom de desculpas. Provavelmente ia continuar a chamá-lo de "senhor". Daisuke suspirou.
— Hana, aquela moça me mostrou a casa já faz uns dias, mas eu confesso que não lembro onde ficam as coisas. Você tem tempo para me mostrar?
— Claro, senhor Daisuke. Você está procurando algum lugar em particu...?
— Quantos humanos trabalham aqui?
— Eu não sei dizer exatamente...
— Eu não preciso de um número exato, só uma estimativa. — Como Hana não respondeu, ele continuou. — É que eu estava pensando... vocês moram aqui? A casa é enorme, então com certeza vocês poderiam... mas o vampiros também não moram todos aqui? Isso é seguro?
Finalmente Hana sorriu.
— Nem todos os vampiros moram aqui. Alguns tem casas separadas na cidade. E só o staff noturno mora na mansão. O resto dos empregados volta pra casa de noite.
A explicação causou mais perguntas do que respostas, então Hana contou a ele como o grupo de Akihito ia acumulando dependentes ao longo dos anos: velhas viúvas que não tinham a quem recorrer quando seu único filho era transformado em vampiro, irmãos mais novos, às vezes esposas e filhos. Para alguns deles Akihito arranjava funções: pessoas para limpar a mansão, cuidar do jardim, gerenciar pequenos negócios. Com o tempo, alguns se desvinculavam do grupo e iam seguir suas vidas. Outros continuavam, talvez uma mistura de hábito e lealdade. Antes de vir para a Cidade Alfa, a gangue de Akihito passara 50 anos na Coreia, e antes disso tinham sua sede em Hong Kong.
— Minha avó era chinesa. — Hana contou. — Meu avô já trabalhava para a família do mestre Akihito, mas nunca quis ser um vampiro. E ele conheceu a minha avó, e se apaixonou, e ela virou uma das camareiras da senhorita Haruka. Eles morreram quando minha mãe era bebezinha, e logo depois a gangue se mudou pra Coreia.
— Você nasceu lá?
Hana assentiu.
— Então, sua mãe era descendente de chineses e japoneses... e o seu pai?
— Ele era de uma das famílias que acompanham o mestre Akihito desde o começo. Ele era primo da senhora Kiku. — Ela fez uma pausa, esperando para ver se Daisuke reconhecia o nome. Ele tinha a impressão de ter visto uma velhinha com esse nome entre as criadas da cozinha, mas como ela não falava uma palavra sequer em português, Daisuke não havia interagido muito com ela. — Mamãe disse que ele virou um vampiro, mas ele não devia ser muito bom nisso. Ele morreu pouco tempo depois.
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Técnicas Sanguíneas
VampirosDaisuke Koyama, policial do departamento de controle de eventos paranormais, foi capturado e transformado em vampiro por Haruka - uma vampira puro-sangue com uma habilidade sanguínea peculiar: todos que bebem o seu sangue adquirem dependência. Dais...