Daisuke conduzia Hana pelas ruas da cidade.
"Para onde?"
A zona neutra ao norte não parecia segura o suficiente. Dezenas de vampiros de cada facção passavam por lá toda noite, e não podia arriscar que Akihito descobrisse sobre ela e mandasse matá-la. Além disso, ela precisaria de orientação. Territórios, como e onde caçar, como tirar manchas de sangue do tênis... olhou pra trás, pela primeira vez notando que a jovem ainda usava uma yukata simples e os chinelos que não riscavam o chão de madeira. Dentro da propriedade de Akihito ela era invisível, mas no meio da cidade era só uma questão de tempo até começar a atrair olhares. Devia ter se demorado o suficiente para permitir que ela trocasse de roupa. Ela devia ter roupas ocidentais para alguma ocasião que requeresse sair da casa, certo?
Hana estava ofegante.
— Desculpe. — Daisuke desacelerou e soltou a mão dela. Pararam um pouco, escolhendo um beco escuro de onde tinham uma visão privilegiada da rua. — Você está bem?
Ela continuava tentando puxar ar, sem muito sucesso.
— Sabe, você não precisa respirar de verdade, é só um hábito. Se você concentrar, hmm, na energia, vai se recuperar mais rápido.
Era difícil tentar explicar pra ela coisas para as quais ele nem tinha um nome. Será que os vampiros "de verdade" — os que estavam no jogo há mais tempo — tinham um jargão especializado para isso? Depois de alguns instantes Hana pareceu se recompor.
— D-Daisuke... pra onde estamos indo?
— Leste. — Ficou surpreso com a própria resposta. A leste, o território de Akihito fazia fronteira com o de Constantino.
O velho vampiro era alguém que Daisuke admirava. Não porque ele tratava os membros de sua gangue como uma família — isso era um pouquinho psicopata — mas porque todos os seus "filhos" respeitavam regras. Numa gangue tão grande quanto a dele, isso era um feito. Mesmo os terceira-classe, que não estavam sob seu comando direto, raramente causavam problemas. Se algum dos seus saísse da linha, os caçadores de vampiros podiam simplesmente dar um aviso, e ele mesmo investigaria o caso. Se seus filhos fossem culpados, eram punidos — por ele próprio ou pelos caçadores, quem encontrasse o infrator primeiro. Se não fossem, os caçadores recebiam informações o suficiente para retomar a investigação em outro território. Constantino era um homem decente, Daisuke havia decidido enquanto ainda era humano.
Ele parou na rua que dividia os dois territórios, novamente segurando Hana pela mão. Não conseguia localizar nenhum humano tentando pegar o último ônibus da madrugada, e nenhum vampiro espreitando seu próximo lanche.
— Com licença? Eu não queria invadir assim, mas precisava falar com Constantino. — Ele disse em alto e bom som. Nada aconteceu. Avançou dois blocos além da fronteira e repetiu o aviso. Quando era humano não tinha que se preocupar com nada disso, mas sabia que a causa mais comum para vampiros matarem uns aos outros era invasão de territórios.
Finalmente uma vampira apareceu, caminhando devagar pela rua deserta. A aproximação da mulher ruiva o enchia de apreensão. Coisa de vampiro? Talvez não. Ela a reconhecia como uma das filhas mais velhas de Constantino, sempre soube que ela era uma vampira antiga e, por inferência, poderosa. Pela primeira vez sentiu curiosidade de saber o quanto mais velha ela era. Constantino estava na cidade desde a época dos senhores de engenho. Será que ela era outro remanescente daquele tempo?
— Mensageiro do Akihito?
— Não. — alguma coisa no tom dela dizia que "ser do Akihito" não seria exatamente um bilhete de boas vindas naquele território. Outra razão pela qual Daisuke gostava de Constantino.
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Técnicas Sanguíneas
VampirosDaisuke Koyama, policial do departamento de controle de eventos paranormais, foi capturado e transformado em vampiro por Haruka - uma vampira puro-sangue com uma habilidade sanguínea peculiar: todos que bebem o seu sangue adquirem dependência. Dais...