Um mago aposentado.

A última parte do passado do aposentado

Assim que terminei de passar o café da panela para a garrafa me sentei a mesa e comecei a contar a última parte da história:

-Meu primeiro ano no colégio de magos foi.... um completo desastre para ser bem sincero.

-Por que? Muitas magias novas? - Perguntou Lara

-O problema nem eram as magias mas sim suas invocações. Nas provas teóricas eu ia bem mas quando chegava a prática eu rodava em todas já que elas funcionavam igual as duas primeiras fases do teste de admissão. Com isso eu fui me arrastando o ano inteiro sempre andando na corda bamba entre a nota mínima e a reprovação.  

-Conta sobre seu círculo social de amizades. - Interrompeu Ana.

-Claro: eu não tinha um único amigo naquele lugar. 

-Por que? - Questionou Lara

-Porque eu era o pior aluno da sala e ninguém queria ser amigo do "menino que vai reprovar na próxima prova". Era impressionante como eu todos os 19 alunos restantes da minha turma só ignoravam minha existência. 

-Coitado...- Disse Lara com um ar de pena

-Coitado nada. Todo dia após o término das aulas ele ia para a Taberna jogar conversa fora e dados além de que todos os finais de semana ele participava de torneios de esgrima na capital... ele podia não ser querido na sala de aula mas estava longe de ser isolado. Fora isso Gabriel já era assunto entre as instrutoras, generais do exército e alunos dos demais anos, era apenas e exclusivamente os alunos do primeiro ano que não gostavam dele.

-Obviamente na época eu não sabia que era tão famoso. Achava que todos tinham a opinião única sobre mim: "o aluno que quase não entrou e que iria reprovar". Inclusive por pensar assim eu sempre saia de máscara quando ia duelar nos torneios de esgrima.... Para evitar julgamentos.

-E por que todos tinham essa visão positiva do Gabriel já no primeiro ano Ana? Pelo que ele está falando suas notas não eram muito promissoras. 

-Simples. - Disse Ana dando uma pausa - O Gabriel era um mago espadachim. Um mago espadachim é algo muito raro entre as nações pois são poucas pessoas que conseguem mesclar magia com espadas e se tornar um bom lutador usando essas duas técnicas. Infelizmente o colégio de magia avalia apenas a habilidade bruta com magias, então esse tipo de mago normalmente nem passa pelo teste de entrada e quando passa sofre nas provas igual o Gabriel sofreu. Basicamente apenas as provas não conseguiriam avaliar o verdadeiro potencial de um Mago espadachim e todos sabem disso, todos exceto os alunos novos que ainda não tinham percebido a realidade. 

-Entendi.

-Continuando. -Falei batendo a xícara de café com força na mesa- Eu não tinha amigos dentro do colégio mas tinha companheiros de taberna fora dele então minha questão social era boa. 

-O anti social ficou bravinho - Disse Ana dando uma risadinha.

-Enfim... No final daquele ano houve a tradicional demonstração de batalha entre os alunos para o público. A intenção era mostrar para o público o poder dos magos que o colégio formava.

-Conte mais detalhes Gabriel - Complementou Ana

 -Era uma batalha simples entre alunos do mesmo ano que ocorria no pátio da escola, o problema é que era extremamente desbalanceado: O aluno com a maior nota da sala enfrentava o aluno com a pior nota, o segundo melhor enfrentava o segundo pior e assim por diante. Então eu cai com o melhor aluno da sala que se chamava Miguel. 

-Miguel é um filho de nobre que após se formar do colégio entrou direto para o exército real e atualmente é General. -Acrescentou Ana

-Eu lembro que te falei que esse garoto era bom. -Falei para Ana enquanto apontava o dedo para ela.