Gabriel é um jovem alquimista que vive em um pacato vilarejo do Império. Com uma história trágica, ele busca reiniciar sua vida de forma tranquila, longe da guerra ou de qualquer conflito. Para realizar seu sonho, Gabriel abre uma pequena loja de po...
Queria poder dizer que tive uma boa noite de sono mas sinceramente estaria mentindo: o chão da cela apesar de limpo continuava sendo um chão duro e gelado e por conta disso (e talvez uma pitada de ansiedade) acordei diversas vezes durante a noite até que finalmente desisti de dormir e resolvi ficar acordado pensando na estratégia que usaria contra o Miguel afinal, ele atualmente é um dos melhores magos de todo o Império e talvez até mesmo do continente.
Fiquei refletindo sobre a luta e o ambiente em que ela ocorreria enquanto estava encostado na parede da cela: o confronto ocorrerá no pátio de areia então provavelmente Miguel começará usando múltiplas habilidades combinadas com água para fazer com que a terra vire barro enquanto tenta me acertar. Pelo fato de eu ser mais rápido e usar uma espada obviamente terei que encurtar a distância para lhe acertar porém, Miguel conhece esse meu estilo de luta então certamente terá alguma profilaxia para um ataque direto e rápido. Talvez eu possa encurtar a distância e ao invés de usar minha espada lhe surpreender com uma magia das trevas nova que desenvolvi durante meus estudos... Sendo assim no final a melhor solução continuaria sendo um ataque rápido (antes da areia se tornar barro e meu fôlego diminuir) e letal. A verdade é que quanto mais essa luta durar melhor vai ser para o Miguel.
Então vamos pensar em como a luta será: Miguel provavelmente começará com disparos de raios mesclado com partículas de água, assim aumentando o alcance da magia (afinal, as partículas de água eletrificada se espalha mais do que um raio concentrado), a força pela condução e de brinde começaria a modificar o campo a seu favor. Eu me esquivarei correndo em círculos enquanto finjo me aproximar lentamente até que de repente faço uma investida e parto para tentar acertar com minha espada ou usar minha magia, provavelmente ele construirá uma parede de barro para parar meu ataque ou então enquanto eu me esquivo ele terá colocado no chão próximo a ele armadilhas explosivas para me pegar desprevenido... Em ambos os casos um salto alto resolveria meus problemas porém finalizaria minha primeira investida sem conseguir acertar-lhe um golpe com a espada mas, se eu pular por cima dele próximo o suficiente eu ainda estarei dentro do alcance das magias das trevas.
Nesses dois anos sabáticos que passei longe do exército estudei um pouco mais sobre magia das trevas e descobri que ela pode ser muito útil tanto em combate como em interrogatórios. Ao longo do meu estudo eu "criei" três magias novas: Mentis Caecitas, Mortua Mentis e Participes Mentibus. O Mentis Caecitas é um feitiço que traduzido ao pé da letra significa "cegueira da mente", esse feitiço consiste basicamente em confundir o adversário ao criar imagens de pessoas com que a vítima conhece ou tenha afeto. Apesar de parecer um bom feitiço nem tudo são flores: essas imagens são criadas apenas na mente do alvo e não na vida real então o feitiço só afeta um alvo por vez e não grupos, além de que a imagem projetada é uma imagem particular do alvo... Em outras palavras, nem eu sei o que o alvo está vendo ou ouvindo.
O segundo feitiço é o Mortua Mentis que traduzido significa "mente morta". Esse feitiço consiste em "matar" a mente do adversário. Basicamente é um feitiço que faz o alvo desmaiar instantaneamente. Diferente do Mentis Caecitas, esse feitiço pode ser conjurado em múltiplos alvos porém, para ser de fato efetivo o alvo ou alvos necessitam estar muito próximo a mim (eu diria que aproximadamente 1m de distância). A partir dessa distância a eficácia do feitiço pode variar, fazendo com que alguns alvos possam resistir (a partir de 2m ele se torna totalmente ineficaz).
O Participes Mentibus, também conhecido como mente compartilhada, é um feitiço capaz de atingir um único alvo, e é o feitiço mais útil e inútil que já criei. Por um lado, o Participes Mentibus permite que eu controle uma pessoa, obrigando-a a realizar meus comandos. No entanto, existem dois grandes problemas com este feitiço. O primeiro é que eu preciso manter contato visual constante com a pessoa que estou controlando. Se eu estiver no meio de uma multidão e alguém passar na minha frente por um instante, isso já é o suficiente para perder o controle da pessoa. O segundo problema é que o alvo ainda pode falar livremente enquanto está sendo controlado, inclusive para pedir ajuda. Por conta disso, o feitiço é extremamente situacional. O lado bom é que o feitiço possui um alcance de três metros e, uma vez que começo a controlar o alvo, não há tempo nem distância que possa enfraquecê-lo, desde que eu mantenha meus olhos fixos no alvo.
Fiquei mais um tempo refletindo sobre a estratégia de combate até que senti uma presença descendo a escada da masmorra: quando a presença terminou de descer pude ver que era Julia. Assim que terminou de descer das escadas ela olhou em volta e percebeu que todos os guardas que supostamente deveriam evitar minha fuga estavam dormindo em sacos para dormir próximo a cela. Após isso ela se aproximou da cela e falou comigo baixo para não acordar ninguém:
-Nervoso Gabriel?
-Não me chame pelo nome em público. -Respondi sério.
-Olhe para eles -Disse ela enquanto apontava para os guardas dormindo- a gente poderia travar uma batalha de vida ou morte e eles não acordariam.
Eu ri da afirmação dela (principalmente porque eu acho que ela é verdadeira).
-Nervoso? -Questionou novamente Julia
-Ansioso acho que é o termo mais correto. Faz tempo que não tenho uma batalha até a morte.... Acho que estou enferrujado - Finalizei
-Não vai dar nem para desenferrujar. -Disse ela rindo - A luta começará em breve, vim te buscar e levar para o pátio.
-Vai por o saco? -Questionei
-Desculpa, é protocolo.
-Mas eu tenho medo de escuro.
Julia deu uma risadinha.
-Soldados! Em posição!- Gritou Julia
Os três soldados que estavam dormindo acordaram desesperados e se puseram de pé quase que imediatamente.
-Eu pedi para vocês tomarem conta do prisioneiro e vocês dormiram sem revezar o plantão?! E se o rei aparecesse aqui, como ficaria minha reputação?!
-Desculpe senhora! -Disse Fernando.
-A luta está próxima, coloquem o saco na cabeça do mago e o levem para o pátio!
-Sim senhora! -Disseram os guardas.
Então colocaram o saco preto em minha cabeça e voltei a não enxergar nada (porém sabia exatamente aonde estavam me levando).
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