𝐅𝐈𝐑𝐄 𝐎𝐅 𝐃𝐑𝐀𝐆𝐎𝐍, 𝐡𝐨𝐭𝐝 𝐟𝐚𝐧𝐟𝐢𝐜𝐭𝐢𝐨𝐧.

009: Safira de prata e lua

A noite, Rhaella não conseguiu dormir.

Faziam muitos minutos que ela tentava fechar os olhos e buscar sono, mas nada funcionava ao certo. Será se era realmente um dragão aquilo que vira mais cedo? Ela não sabia ao certo.

A princesa estava vestida em uma camisola de seda, e os cabelos prateados estavam soltos das tranças e formavam ondulações enquanto caiam sobre os ombros dela.

Ela caminhou rapidamente em direção a varanda que ficava de frente para o Monte Dragão e apoiou as mãos no parapeito de pedregulho frio. Ela semicerrou os olhos, mas estava escuro o suficiente para que não conseguisse ver absolutamente nada.

Naquele momento, Rhaella não sabia se estava pensando direito, pois imediatamente substituiu a camisola de seda por uma armadura de couro bem simples que tinha escondida nos baús e que ela usava para treinar. Ela guardou uma adaga na bainha por precaução e pegou uma tocha acesa e saiu do quarto em passos silenciosos. Se quisesse descobrir algo, teria que ser naquele momento; teria de ser antes de Rhaenyra e os outros voltarem.

Os criados estavam dormindo aquele horário, e maioria dos guardas foram para Driftmark com a princesa Rhaenyra.

Rhaella desceu silenciosamente as escadarias de pedra, tentando não fazer nenhum som sequer. Depois de alguns minutos e vários passos sorrateiros, Rhaella saiu em uma passagem nos fundos do castelo. A brisa da noite beijou-lhe o rosto assim que pôs os pés para fora da fortaleza de pedra.

A princesa Rhaella Targaryen correu em direção ao Monte Dragão, os cabelos prateados refletindo com a luz branca da lua. Próximo do Monte Dragão, descendo uma pequena depressão, havia uma gigantesca planície. O lote de terra era gigantesco e, no fim da planície, havia um precipício que dava diretamente em um rochedo de pedras pontiagudas.

Rhaella mudou sua rota indo em direção a planície, descendo a pequena depressão com cuidado para não acabar caindo no chão, e, silenciosamente fez uma oração aos Deuses para que poupassem-na dos seres que haviam na noite enquanto o Monte Dragão e o castelo ficavam para trás.

*

A noite poderia ser a maior inimiga de Rhaella naquele momento. Não estava tão escuro quanto ela esperava, mas... quando só se tem uma adaga para se defender, até as próprias paredes da Fortaleza Vermelha em King's Landing podem ser um perigo.

Ela ergueu o rosto para o céu salpicado de estrelas, tentando identificar alguma constelação. Há quanto tempo eu estou caminhando?, se perguntou, mentalmente.

Rhaella se virou para um monte que estava contra a luz esbranquiçada da lua, e... Espera. Aquele monte não estava lá quando ela chegou...

Olhos da cor de ouro-queimado brilharam na escuridão, e de um monte adormecido de terra surgiu o que Rhaella estava procurando ali: o dragão que viu passar voando mais cedo.

O dragão ergueu a cabeça e abriu a boca cheia de dentes serrilhados; fogo azulado brilhou do fundo da sua garganta, as asas dele estavam juntas ao corpo esguio e escamado. Rhaella engoliu em seco, mantendo seus olhos fixos no do dragão. A fera alada piscou e depois deitou a cabeça de novo no chão, fechando os olhos e soltando fumaça pelas narinas.

Rhaella olhou para as costas do dragão e viu que lá havia uma sela com um espécie de escada feita de nós de cordas para que pudesse subir. Ela se aproximou sorrateiramente, tentando não acordá-lo. Quando sua mão tocou já corda, o dragão acordou e imediatamente olhou para ela com um olhar mortal; inquieto.

A boca dele se abriu de novo, e fogo azulado brilhou mais uma vez. Sua última chance era fazer aquilo que Aemond ensinou a ela:

— Dohaerās! — gritou para que o dragão a obedecesse, em Alto Valiriano e ergueu a mão para o dragão enquanto fechava os olhos.  — Lykirī — disse para acalmá-lo, mas... o dragão não parecia mais agitado.

Rhaella e o dragão trocaram olhares demorados, como se alguma ligação entre os dois estivesse sendo formada naquele momento. Um brilho passou pelo olhar dourado do animal e Rhaella subiu na escada de nós em poucos segundos e se sentou na sela que tinha nas costas do dragão.

Como se sentisse que alguém estava montado nele, o dragão se levantou do chão; apoiando as asas para se firmar no solo e balançou a cauda enorme.

Rhaella fechou os olhos e inspirou fundo. Do fundo do seu corpo, ela gritou em Valiriano.

— Sōvēs, Stormclaw! Sōvēs! — o dragão rugiu e começou a correr.

O corpo de Rhaella foi balançando um pouco sobre a sela, e ela se firmou no assento, segurando as rédeas.

— Sōvēs! — Gritou de novo, e o enorme dragão cor de safira e prata iluminado pela lua bateu as asas e começou a voar em direção aos céus.