- Vai levar essas marmitas para quem?
Patrick, o homem que sempre prefere ficar calado a se meter na vida dos outros, é o único a me questionar sobre o que eu levava e para quem.
- Cuida do teu. - Sorrio irônico para ele e caminho em direção ao corredor.
Não demoro para chegar na sala de Yuri, graças a Deus e ao horário de almoço encontrei poucas pessoas no corredor e a caminho do elevador. Tomei a iniciativa de comprar a dele também, já que lembrava do que usualmente pedia. Após bater na porta, ele libera com um tom de voz tão baixo que quase deixo passar.
- Você comprou uma para mim. - Constata ao me ver entrando, parecendo surpreso. Não entendia o porquê, mas aceito ter provocado tal reação.
- Espero que goste. Pedi salada de acompanhamento e salada de frutas como sobremesa. Mas eu tenho cocada, pedi essa para mim. Se quiser.
- Obrigado. Foi muito gentil da sua parte. - Anuncia enquanto nos direcionamos para o sofá. Porque não me surpreende que ele não comia na mesa perfeitamente organizada e limpa. Fazendo uso da mesinha de centro, coloco os pedidos.
Comemos em silêncio por um tempo, me sentia demasiado consciente de quem ele era e de que, se eu o irritasse, as consequências seriam incertas. Não teria Melissa para ser a responsável por mim, se ele desejasse que eu esteja no olho da rua.
- Então, como eu disse mais cedo, desculpe pelo assédio. Passei do ponto, fui um idiota e, por favor, não me odeie. Eu ainda sou um cara legal, apenas cometi um erro.
Yuri não responde, mas um sorriso se forma em seu rosto. Isso era um bom presságio!
- Não se preocupe, Marcus. Você não me assediou. Não penso que você seja um idiota ou coisa igual. Que tal deixarmos isso para trás? - Yuri passa os língua sobre os lábios antes de beber um gole de seu suco.
- Acho perfeito. - Murmuro.
Terminamos de comer entre uma conversa boba sobre a reforma do banheiro do segundo andar. Enquanto ele comia a salada de fruta, penso bem se deveria continuar com o que planejei mais cedo.
- Posso te fazer mais uma pergunta? - Não o aguardo responder, a impulsividade gritando em mim. - Pensei muito sobre o porque você me cortaria do jeito que fez. Eu sei que definir limites é algo positivo, mas a nossa relação estava tranquila, nada que um "Marcus Henrique, pare com isso" não resolvesse. Acho que você me conhece o suficiente para isso, já que afirmou tanto que sabe sobre mim.
- Aonde você quer chegar com isso? - Yuri me olha, curiosidade saltando em sua face.
- Você pode ficar com raiva de mim agora, juro não voltar nesse assunto depois disso, mas preciso tirar essa ideia a limpo. - Encaro os olhos verdes, preparado para ir assinar a minha documentação de demissão por justa causa. - Você está afim de mim, sua atração não foi pontual, você ainda me quer. Mas talvez me ache muito novo, além do fato de eu ser o seu funcionário. Penso que o fator hétero também pesou para seu apartamento. Eu posso estar completamente errado e aceito se for isso. Eu estou sendo sincero com você, espero que seja comigo.
Por algum motivo estrangeiro, eu estava nervoso. Nunca antes, mesmo nas raras vezes em que eu estabeleci sentimentos com alguém, havia sentido tal tremor. Aqui estava em jogo a minha vaga na empresa - consequentemente a minha vida no Rio - e ganhar o ódio gratuito de Yuri até o fim do meu contrato.
Ele não responde de imediato, seus olhos pareciam estarem me averiguando. Quando recaem sobre os meus lábios, mesmo que por meros segundos, eu tenho a minha resposta, ao menos estava certo em uma das opções. Yuri sorri fragilmente, passando a mão pelo o seu cabelo, foca no outro lado da sala.
- E se você estiver certo, o que ganha com essa informação?
- Não sei. Uma certeza? Mas talvez você ganhe algo com isso. - Dito isso, seus olhos voltam para mim. - E se eu não for hétero? Esse questionamento é meu, de mais ninguém.
Dessa vez, eu que olho para a sua boca. Pela primeira vez na minha vida, reparo nos lábios de outro homem. Yuri tinha-os cheios e bem delineados, levemente rosados. O que era interessante visto que seu tom de pele era olivada. Não era uma boca desproporcional ou horrenda de se imaginar próximo, ao contrário, provavelmente os homens com quem ele ficou sentiram tesão em beijá-lo. Todo o conjunto da obra deve ter ajudado.
- Você tem razão, mas ainda não entendi o que eu tenho a ganhar com isso.
- Eu. - Sussurro, me sentindo estranhamente tímido. - Você pode me ter.
Yuri pareceu subitamente tonto. Me olhava incrédulo, como se o que eu falasse em outra língua e ele estivesse aguardando a tradução simultânea. Talvez eu estivesse, nunca me imaginei dizendo tal coisa para um cara. Yuri apoia seus cotovelos nas pernas e apoia seu rosto nas mãos.
- Não seria nada demais. Eu sou a melhor pessoa para se ter uma relação despretensiosa. - Digo para preencher o silêncio.
- Aonde você quer chegar com isso, Marcus? Você está brincando comigo? - Yuri se levanta, recolhendo as nossas coisas e embalando na sacola.
- Não. Eu estou falando sério! - O observo jogar o objeto embalado no lixo, mas não se movimenta para sentar-se. - Entendi. Diz não e eu vou embora. Prometo não mais te importunar.
- Mais do que já está fazendo? - Murmura entredentes.
Eu nunca vi Yuri próximo de estressado, no máximo impaciente, mas não sabia se era exatamente a forma como ele se encontrava agora. Com toda certeza era óbvio estar sob um sentimento conflituoso. Levanto-me e apoio-me contra a porta. Caso ele me expulse eu só vou precisar girar a maçaneta.
Percorro seu corpo com os meus olhos e a noção de que ele era um homem maior que eu estava sucintamente começando a bater. Longas pernas e mãos gigantes. Foi isso que Luana e algumas mulheres na empresa diziam. Qual era o meu problema?
Quando Yuri volta-se para mim, seus olhos carregavam um brilho perigoso. Dominante.
- E se eu disser sim? Isso significa que eu vou ter você?- Havia algo no seu tom que, mais uma vez estreando os nuncas entre nós, soava diferente. Seus olhos desavergonhadamente firmes e lascivos sobre mim quando ele deu um largo passo em minha direção. - Se eu disser sim, eu vou poder ter você inteiro para mim? - Sinto minha garganta fechar. Não esperava essa reação, de forma alguma. Assim que Yuri dá mais um dos espaçosos passos, seguro a maçaneta atrás de mim. Talvez eu nunca tenha sido encarado com tanta lubricidade como agora. Quando o seu corpo está a insignificantes centímetros do meu, perco todo o ar de meus pulmões. - Se você tiver meu sim, eu posso te beijar?
Conseguia sentir o cheiro da sala de frutas de seu hálito próximo ao meu rosto. Embora estivéssemos próximos, nenhum dos nossos membros se tocavam. Ele me olhava tão de perto que senti uma leve vertigem. Fechando meus olhos, deixo o que for que tiver que acontecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Beije-me como se eu fosse seu
RomanceMarcus Henrique teve uma ideia genial! Por que não tentar seduzir o seu chefe para conseguir ser efetivado na empresa em que assinou um contrato temporário? Acostumado a não temer e desafiar os limiares da vida, o jovem rapaz entra em uma briga com...