Capítulo 25

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A primeira surpresa do dia foi quando eu recebi uma encomenda. O peso dela me deixou animado porque, ao mesmo tempo em que não tinha certeza do que era, desejava que fosse  o que eu pensava que era. Não tenho condição financeira para ficar comprando muitas coisas online e também não era famoso para me mandarem presentes não identificados. Logo, as chances de ser o que eu queria que fosse eram grandes!   

Assim que estava na segurança do meu apartamento, após desmascarar toda a bobagem chique do pano de seda vermelho, admiro sobre as minhas mãos a madeira de textura fina e polida. 

Quase não acreditei ao abrir a peça extremamente apresentável. Era, de fato, o tal vinho que tanto barganhei. 

Sorrio estarrecido com o presente. 

Passou dias desde o nosso último encontro e essa foi a última vez que eu toquei no assunto acerca desse vinho. Eu deveria saber que ele era um homem de palavra. Até ontem eu estava, firmemente, pensando em terminar fosse o que estivesse rolando entre a gente. Havia uma incerta e difusa voz dizendo algo no fundo da minha mente que, por vezes, me incomodava. Mas, agora, com esse prêmio em minhas mãos, eu meio que posso postergar por mais uns meses. 

Não era como se o mundo fosse acabar se eu enrolasse Yuri mais um pouco. 

Animado, mando uma mensagem para Bianca. Não poderia usufruir desse vinho sozinho. Não devo ser egoísta, como dizem em alguma parte da bíblia. Minutos depois, ela já estava na minha sala, com duas taças de plásticos e um sorriso de ponta a ponta. Um gole depois e eu entendi o porquê ele é tão caro. 

- Nem é bom. - Bianca é a primeira a dizer. 

- É péssimo. Não vale a pena. - Afirmo. 

- Não mesmo. - Continua, após tomar mais um gole. Uma curta troca de olhares entre nós foi o suficiente para afirmamos implicitamente que nunca iriamos pronunciar em voz alta que aquela merda era muito boa. Não teríamos como comprar um daqueles de qualquer jeito - Como você conseguiu isso? - Bianca senta-se no sofá confortavelmente, a testa franzida enquanto encarava o celular. - Vale mais que meu salário e o seu juntos. 

- Presente. - Murmuro enchendo a minha segunda taça. - E se pedirmos uma pizza? 

- Acho uma boa. Mataríamos o vinho? Absolutamente! Mas quem se importa, não é mesmo? - Bianca segue o meu feito e põe mais em seu copo. - Que tipo de pessoa daria um presente tão caro para você? 

- Do tipo que sabe o meu valor e que eu mereço coisas boas. Portuguesa? - Ignoro a explícita suspeita em sua face. 

- Pode ser. Metade frango e catupiry? 

- Por que não? O vinho já está morto desde que entrou aqui. - Bianca gargalha, que logo some para dar lugar a um sorriso maléfico. 

- Por acaso a pessoa que te presenteou com um vinho ridículo desses foi a mesma que você levou para um encontro?

Maldita fofoqueira. 

- Isso. 

Questiono-me quando Yuri comprou. Seria antes ou depois do encontro? Ele realmente cumpriu como disse e gastou dinheiro comigo. A concretude daquela ação repousava em minhas mãos e eu estava, aos poucos, lidando com uma inesperada surpresa. 

- Essa pessoa é rica? - Bianca retorna o questionário. 

- Não. Ganha mais que a gente? Fatos. - Até porque Yuri tinha uma condição social melhor, mas não era como se ele fosse dono da empresa. 

- Você por acaso entrou para prostituição de luxo? - O líquido - nada saboroso - do vinho refaz seu caminho e eu deixo escapar um pouco para fora. - Se for, eu não vou te julgar. Talvez eu esteja inclinada a me aliciar. 

Beije-me como se eu fosse seuOnde histórias criam vida. Descubra agora