Dizer que eu tive uma boa noite de sono seria eufemismo. Deitei as onze para ser acordado pelo telefonema da minha mãe às duas da manhã. Deus a tenha porque aquela mulher fala muito e conseguiu me alugar por uma hora e meia. Minha cabeça grogue de sono e indisposição escutou parcialmente o que ela dizia. Recordo algo sobre estar na rodoviária na hora, verificar alguma coisa, vigiar outra, remédio para tratamento e reticências pois eu tenho certeza que alternei entre estar meramente acordado e totalmente fora do ar.
Às quatro horas eu já estava pronto e fingindo firmemente que meu corpo não preservava metade do sono que eu não tive essa noite.
O mais inusitado disso tudo nem era a minha mãe colocar uma criança no ônibus de viagem na parte da noite, mas sim Yuri estar disposto a me dar uma carona até a rodoviária de madrugada sendo que a casa dele não era próximo a minha. Contudo, eu estava cansado demais para adentrar no que isso poderia me render, mas era surpreendente o que um cara fazia para estar nas calças de alguém.
Assim que entro no carro, o cheiro usual do perfume de Yuri me recebe junto ao seu sorriso. O mesmo que ele distribuía todos os dias na empresa. Como se não fosse quatro e pouca da manhã de uma sexta-feira de feriado.
Oh, cara. Ele gosta mesmo de mim.
- Bom dia, Henrique. - Seu sorriso não se desfaz, ao contrário, aumentou para uma amostra mais genuína.
- Bom dia, Yuri. - Ele parecia o mesmo de sempre, mas havia algo com a forma como o seu cabelo estava mais livre, ou talvez fosse o casaco jeans esverdeado. - Toma. - Entrego a minha caneca térmica que, por ironia, era verde escuro, quase do tom de seu casaco. Diante de seu olhar questionativo, digo o mais resumidamente possível. - Café.
Eu não era um total idiota. Yuri, mesmo com motivos obscuros e indecentes, estava quebrando um galho. Geralmente, eu pegava os primeiros ônibus do dia e, na volta, gastava um dinheiro que não tinha em Uber para voltar para casa. Não queria que meu irmão tivesse que passar mais tempo em um ônibus do que já gasta para chegar aqui. Além do mais, não queria destruir a ideia que ele tinha de que eu valia alguma coisa nesta cidade. Então, por que não deixar com que o garoto achasse que estou meramente bem de vida? Assim, ele poderia contar para minha mãe e ela não me ligaria tanto. Todos saíam ganhando.
Sendo assim, preparar um café era o mínimo que eu podia fazer por Yuri.
- Obrigado.
Observo-o tapar metade da caneca com seus dedos longos, o modo ágil como girou a tampa, os curtos segundos que levou para levar a borda aos lábios e provar o líquido. Sua expressão permaneceu neutra, tal qual a calmaria da nascente manhã fora do carro.
- Você gostou? - Pergunto antes de poder refrear. Droga! Ele já achava que eu era manhoso e carente.
Yuri liga o carro enquanto, solenemente, apoiava a garrafa na partição entre nós. Um sorriso sutil molda os seus lábios, que quase eram alcançados pelos fios de seu cabelo. Sem se importar com os fios indisciplinados, ele dá partida, deixando a rua de minha morada para trás.
- Obrigado pela carona. - Murmuro enquanto me ajeitava no banco. Embora parte de mim queria que ele respondesse a maldita e insignificante pergunta, não iria voltar nela. Pode ser que meu espírito ainda esteja sonolento e despreparado para os jogos de Yuri.
- O prazer é meu. - Murmura de volta.
Forço os meus olhos a fixarem-se na paisagem efêmera, por mais que quisesse escanear as feições de Yuri. Ele era mais expressivo imageticamente. Seu tom de voz, na maioria das vezes, parecia puro escárnio para mim.
- Claro que é. Você está louco para me foder. - Um ponto sobre eu estar excessivamente cansado e privado de, pelo menos, seis horas de sono era que o filtro entre a minha mente e a minha boca reduzia consideravelmente. - Você não é discreto.
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Beije-me como se eu fosse seu
RomanceMarcus Henrique teve uma ideia genial! Por que não tentar seduzir o seu chefe para conseguir ser efetivado na empresa em que assinou um contrato temporário? Acostumado a não temer e desafiar os limiares da vida, o jovem rapaz entra em uma briga com...