Capítulo 23

675 95 33
                                    


O dia parecia um inferno, não só fora da empresa mas, principalmente, dentro dela. O lugar já era agitado normalmente, só que parecia pior. Como sou um homem comunicativo, junto-me a mesa da assistente de Melissa. A mulher sempre parecia estar a um passo de surtar e quando seus olhos turbulentos e já cansados naquela hora da manhã repousam em mim, ofereço-lhe um copo de chá. Sabia que Thais preferia a água com sabor do que café. 

- O que está rolando? 

Minutos depois eu sei que duas estagiárias se demitiram e que o último sobrevivente da equipe quis denunciar o tratamento de Yuri como abuso de poder. Ótimas notícias para começar o dia! E, conforme eu tinha dito, três vagas disponíveis. Deus é bom o tempo todo! Glória! 

- Todo mundo está nervoso. Parecem um bando de hienas. Você tá calmo. Confiante? - Thais falava comigo, mas a sua atenção estava em sua mesa. 

- Sou bom no meu trabalho. Se eu receber críticas, faço delas construtivas. - Afirmo, pois era esse o meu lema. 

Fala sério, eu falhei diversas vezes na faculdade e, a cada uma nova descaída, eu melhorava. Não tinha tempo para me demitir ou desistir. Se fizesse isso teria que pedir ajuda a minha mãe e não desejo retornar a minha cidade para lidar com aquele povo que deixei para trás. Era falhar, aceitar e aperfeiçoar ou ser um desistente. Posso ser muitas coisas, mas desistente não era uma delas. 

Thais murmura alguma coisa e atende o telefone enquanto suas mãos organizavam papéis. Deixo-a prosseguir em seu trabalho. Na verdade, eu estava ansioso pelo dia de hoje. A última vez em que eu tive que me apresentar para Yuri foi na entrevista. Nessa época, não fazia ideia de quem ele era dentro da empresa, na minha cabeça poderia ser alguém que foi direcionado por um superior para ver as aptidões dos concorrentes. Lembro-me que ele não parecia aterrorizador, seus olhos calmos repousavam em mim, a cada resposta que eu dava ele não expressavam qualquer reação. Por vezes, acenava. Em determinado momento, não lembro bem o que eu disse, mas Yuri sorriu. Nada grandioso. Contudo, foi algo próximo do que ele me envia quando ele acha que eu não sei que devia estar me chamando de "bobo" mentalmente. 

Assim que me sento, as conversas paralelas ao redor diminuem até tornarem-se um murmúrio. Foi tão nítido que me fez olhar ao redor procurando o foco da atenção. E lá estava ele. Yuri passava entre os funcionários, distribuindo "bom dia" com um sorriso sereno. Ele caminha tal qual Moisés entre o mar vermelho, seu destino sendo a copa. 

- Sínico. - Murmuro para mim mesmo. 

- Ele parece de bom humor. Isso é bom. - Escuto Patrick dizer. 

°°°

A equipe de Luana apresentou e nada aconteceu. Yuri não falou uma palavra durante toda a amostragem. Luana portou-se confiante e não havia nenhum rastro do nervosismo de ontem. Melissa deu o feedback que pareceu uma bela limonada em dia de verão, pois o alívio geral foi perceptível. Quando chegou o meu momento, fiz conforme deveria. Não tinha grandes emoções em apresentar um projeto, era - na verdade - chato. No entanto, era um bom momento para me mostrar. Haviam muitas mulheres na empresa e muitas delas presente naquela sala. Por isso, sempre dou o meu melhor e sorrio simpático no processo. 

Já teve a vez em que eu fui uma bomba na apresentação de um trabalho na faculdade, mas como meu carisma foi motivador, a professora me deu uma nota razoável. Como eu sei disso? Ela me disse! Devo dizer que nada aconteceu! Ela só ficou encantada comigo. Não era de se esperar menos. Sei que sou fofo quando quero ser. Enzo dizia que meu rosto de novinho era uma maldição, mas eu discordava. Enquanto eu tiver essa auréola sobre mim, irei utiliza-la para o meu benefício. 

Beije-me como se eu fosse seuOnde histórias criam vida. Descubra agora