GURUNGA 1 DE 18

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Caxingó, Zona Rural de Viaporã, 04:15 PM

— Seu Olinp não usava terno e nem palitó, êl só entrava na venda quand tava o vendero só. — Gracejou Valdecir de Vicentina, um matuto velho na casa dos sessenta anos —

Os demais clientes do bar de Jó Oliveira riram da troça, era de conhecimento geral que Olímpio Chagas da Silva, dono de uma grande loja de móveis em Viaporã era um homem avarento.

— Olinp véi inda trabáia na loja? — Perguntou Horácio, um pinguço esquelético —

Valdecir respondeu com um balançar de cabeça.

— Esses dia meu pai foi lá pra comprá um fugão... êl pelejô pra o véi Olinp dá 50 cont de discont, mas num têv jêit, o véo só deu 20 cont de discont, inda assim cum muit trabái. — Contou Jó —

— O hôm é usuráv demais! — Comentou Milton, um rapaz bem aparecido na casa dos 20 anos —

— Esse pôv rico é quase tud assim, quant mais tem, mais qué. — Disse Jó —

A esse comentário quase todos fizeram pequenos comentários ou gestos de concordância.

— Seu Valdeci! Canta aquela música que fizero pra amolá Olinp véi na época da pulítica. — Pediu Milton —

Milton se referia à uma música satírica feita pela oposição para caçoar da candidatura de Olímpio para prefeito de Viaporã quatro anos atrás, Olímpio acabou por perder nas urnas para Afonso das Neves Miranda.

— Eu vô vê se eu alembro da música... dêxa eu tomá mais uma cum vélamo pra clariá as ideia. — Disse Valdecir pedindo mais uma cachaça temperada para Jó —

Após beber a pinga de um gole só, Valdecir pôs o copo vazio de lado, se aprumou e ficou um tempo em silêncio como se estivesse buscando a letra da música na memória.

♫Pão duro se com café♫

Escute essa história que vou lhe contar, sobreum cabra comedor de mingau, não dava a ninguém nem uma pedra de sal. Seu nomeera Olímpio, ele sempre dizia que pão duro se come com café para não jogar fora.Não gastava nem mesmo com a mulher. Tomava pinga no boteco quando não tinhaninguém para não pagar uma para alguém, eh eh eh não é mendigo e nem esmoler, eheh eh não é mendigo e nem esmoler.

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