Gurunga 5

GURUNGA 12 DE 18

Matinho, Centro, 09:09 AM

Cassiano havia acabado de consertar a antiga máquina de costura de sua irmã Maria de Antenor, agora ambos estavam tomando café na cozinha.

— E côm que ficô a repartição da herança de João de Tarcila Véa? — Perguntou Maria —

— Num têv jêit, os fi pegô brigá e têv que i pra justiça. — Respondeu Cassiano —

— Ni quase toda fãmía é dêss jêit. — Comentou Maria —

Cassiano comeu mais um pedaço de requeijão enquanto Maria parecia pensativa.

— Rafael já vendeu aquêl pedáç de terra no Báxio? — Perguntou Cassiano —

— Inda não, atê apareceu umas duas pessoa interessada, mais queria pagá mixaria. — Respondeu ela —

— É... aqui é difiç achá quem tem o diêro na mão pra fazê négóç, o pôv qué é fazê rolo. — Comentou Cassiano —

Os idosos ficaram em silencio alguns instantes até que Maria falou novamente.

— Ocê alembra de José de Mariinha? — Perguntou Maria —

— Alembro, quê que tem êl? — Quis saber Cassiano —

— Essa semana eu topei cum êl na fêra, êl pricurô por ocê, aí eu falei que ocê tava bom, dispôis êl pegô o rumo dêl. — Contou Maria —

Cassiano ficou com um semblante mais sério.

— Aquêl hôm já fêiz uma cumig, muit têmp aí atrais êl fôi lá incasa mim pidi uma parêa de boi emprestada pra mód carriá mádêra, eu emprestei. Aí passó tempos, então foi eu que tava preciso de uma parêa de boi emprestada, então eu fui na casa dêl pidi a parêa de boi emprestada, mais êl falô que a parêa de boi já tava emprestada, mais dispôis eu fiquei sábên que era mintira, êl num quis foi emprestá mêrm. Passó 10 ano, eu topei mais êl na fêra e êl mim pediu uma parêa de boi emprestada.

Cassiano fez uma breve pausa e prosseguiu.

— Eu passei na cara dêl a desfeita que êl mim feiz... sáb o que êl mim falô?: "Már môç, ocê mim guardá 10 ano!?" Aí eu respondi: "E eu guardava mais 10 se fosse psiso." Depois êl virô as costa e foi embora sem falá mais nada.

— O mund é chêi de gênt dêss tip, ocê faiz o bom pra pessoa e dispôis ela joga os pé na gênt. — Comentou Maria —