Gurunga 5

GURUNGA 8 DE 18

Viaporã, Vila Fagundes, 04:05 PM

Olivia e Ivan haviam saído, em casa só estavam Leonardo e Jardel, os primos conversavam na sala quando o tio avô deles chegou. O homem idoso era conhecido como Maroto e costuma fazer visitas frequentes aos parentes. Ambos pediram a benção ao septuagenário que lhes respondeu "Deus abençoe" para cada um e sentou-se no sofá. Maroto vestia camisa de algodão listrada de vermelho e preto, calça social bege sandálias de solado grosso e correias largas, na cabeça usava um chapéu de tecido marrom.

— Cadê Olivia mais Ivan? — Perguntou Maroto —

— Foram visitar vó na Taboquinha. — Respondeu Leonardo —

— Taboquinha... lugá bom... já trabáiei muit ali. — Disse Maroto em tom nostálgico —

Leonardo alternou entre vários canais na tv aberta, mas não encontrou nada do seu interesse, então ele simplesmente deixou a tv num canal qualquer e baixou o volume.

— Cadê Regináld de Antôn de Lico? Já casô ô quá? — Perguntou Maroto —

Todos riram.

— Casou nada, tá lá Tiririca pescando e tomando cachaça. — Disse Jardel —

— Nessa família nossa tem um pessoal que casa tarde, Valdecir mesmo casou com 40 anos, não foi, Maroto? — Perguntou Leonardo —

Maroto balançou a cabeça concordando, ficou um instante pensativo e então falou.

— Quând êl casô com Eliza êl já tava pert de completá 41... da famía, êl foi o que casô mais véi. — Disse Maroto —

— Quem sabe Reginaldo ainda pode se casar. — Comentou Jardel —

Maroto juntou as palmas das mãos entre as pernas e ficou pensativo por um breve instante.

— Eu acho que aquêl ali não casa não, muié niúma vai tulérá uma cachaçada daquela. — Disse Maroto —

— É, aí é complicado. — Comentou Leonardo —

— Reginaldo gosta muito de pescar, às vezes ele fica dias fora de casa, eu acho que a mulher que cassasse com ele não ia gostar disso. — Comentou Jardel —

Após dizer isso Jardel foi até à cozinha beber água.

— Maroto gostava de pescar quando era mais novo? — Perguntou Leonardo —

— De pescá eu não gostava muit não, eu gostava mêrm era de caçá, já caçei muit naqueles pé de morro no temp que eu era gent. — Disse Maroto —

— Vamo ali na cozinha tomar um cafezinho, Maroto? — Chamou Leonardo —

Maroto seguiu os primos até a cozinha mas recusou o café e os biscoitos, pois ele já havia feito uma merenda antes de sair de casa. Todos sentaram-se à mesa da cozinha e a prosa prosseguiu.

— O povo conta que via muita visagem no mato antigamente, o sinhô já viu alguma coisa? — Perguntou Leonardo —

— Ó, eu também não botava fé no que o povo contava não, mais aí um dia eu também vi um trem... que era sem pé nem cabeça. — Respondeu Maroto —

Causo de Maroto

-O Bicho com uma bola de ferro pendurada embaixo do Queixo-

Maroto havia tido uma desavença com sua esposa antes de sair para sua caçada de veado, ela tentara fazê-lo desistir deste tipo de empreitada, mas para Maroto aquilo era importante e prazeroso. No fim das contas, Maroto acabou saindo de casa de mal com ela, mas ele sabia que tudo voltaria ao normal em breve. Ele saiu de sua casa no Copial e foi a cavalo até o Espirito Santo, lá ele deixou o cavalo na casa de Eliseu, um velho amigo, o resto do caminho até o local da caçada foi feito a pé. Maroto levava uma espingarda desmontada dentro de um saco, cinco cartuchos carregados, uma pequena cabaça com água para beber, mais ou menos um quilo de fruta de Quiabento, um facão preso à cintura e uma lanterna para iluminar o caminho, apesar de que não era muito necessário, pois a lua estava cheia.