Epílogo

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Eram três da manhã quando meu celular apitou indicando uma nova mensagem com o remetente sendo Joseph Quinn. Eu estava no meio de outra virada de noite a onde eu me concentrava em descrever o escopo de um dos grandes projetos do trimestre. A minha vida pós férias era intensa, a rotina louca cheia de demandas que não dava espaço nem para eu me alimentar estava de volta com força total.

Foi em uma dessas várias madrugadas após um mês que eu havia aterrissado no Brasil que eu havia recebido a primeira mensagem dele. O tamanho do meu choque foi enorme que eu achei que estava alucinando e resolvi encerrar tudo o que eu estava fazendo e ir dormir, no outro dia acordei e a mensagem ainda estava lá para me atormentar: "como você está?"

Eu pateticamente havia respondido com uma selfie no escritório com a legenda "na correria" que deu início à nossa troca de fotos durante o dia. Eu tinha uma coleção de imagens do dia a dia de Joseph, desde no set com roupas de época e caracterizado como Michael Stirling - o que rendeu um pequeno surto de minha parte e eu colocando o vibrador para carregar - até seus rolês com seus amigos por Londres.

Em troca Joe tinha um acervo de fotos de minha gata Lola, minha saídas com meus amigos da época de faculdade e de minha correria no trabalho. A gente não trocava muito papo, apenas imagens, e eu não sabia o que aquilo daria e tentava não pensar demais na situação.

Terminei de estruturar o projeto e peguei meu celular para ver a foto que ele havia mandado e quase caio para trás quando a imagem dele em um terno preto no que parece ser um evento social aparece. Não sei o que responder e fico encarando a minha volta pensando no quão sem graça a minha rotina era comparada a dele e resolvi não responder dessa vez. No outro dia me torturei com vídeos e fotos dele na premiére do filme ao qual ele estrelava ao lado de uma grande atriz, nunca mais respondi Joseph e depois de um tempo ele parou de tentar manter contato comigo.

E foi isso que resultou neste momento a onde eu estou sentada em uma mesa no restaurante de minha mãe, meus amigos Gabriel, Paola e Lívia olhando o menu e tentando escolher qual drink pedir enquanto eu olho para a porta a cada cinco minutos esperando que Giulia finalmente a cruzasse. Era o ápice do verão brasileiro em dezembro e um clima nada favorável para se despedir já que em alguns dias eu iria estar sofrendo com o rigoroso inverno Londrino.

– Não acredito que você não vai passar o Natal aqui – Lívia reclama enquanto beberica sua caipirinha e me olha inconformada.

– Sinto muito, mas tem urgência em eu começar logo na posição lá, sabe como é, o departamento tá sem nenhuma gestão – eu respondo e ela assente compreensiva. Todos ali tinham a mesma formação e empregos parecidos, eram os únicos que eu conseguia desabafar um pouco sobre carreira. Ainda nenhum sinal de Giulia que nem mesmo havia lido minha última mensagem enviada.

Minha irmã estava atrasada também e eu estava começando a ficar levemente irritada, odiava a falta de compromisso que era bem típico das pessoas em minha vida. Minha mãe estava em seu dia de folga e resolveu ficar em casa já que ainda se recusava a aceitar minha mudança. Livia e Paola estavam engajadas em algum assunto que eu não conseguia focar porque minha mente estava a mil. Depois de passar uma hora e três caipirinhas eu já havia esquecido de tudo o resto.

– Ainda não entendo pra quê tanto mistério sobre o boy que você pegou na Itália – o tópico estava sendo minha última visita a europa e eu me sentia levemente desconfortável.

– Não é mistério só não tem muito o que falar – eu digo e me deparo com três olhares desconfiados sobre mim.

– Viviane a gente te conhece, você está deprimida desde que voltou – Gabriel diz e eu esfrego minha testa.

– Não estou deprimida, pelo amor, só andei muito ocupada e de cabeça cheia – eu retruco e eles trocam olhares entre si.

– Então porque você deu o pé no André? Estava toda envolvida com ele, tudo parecia estar indo muito bem entre vocês – Paola questiona e eu solto um suspiro.

– Acho que eu só perdi o encanto por ele – digo e me encolho um pouco, tomo um gole da minha bebida para tentar acalmar meus nervos.

– E isso talvez não esteja relacionado a esse boy misterioso? – Lívia indaga e eu solto um sorrisinho. Morena misteriosa, boy misterioso. Os padrões de apelidos eram muita ironia.

– O que vocês querem que eu diga? Que sim, tem a possibilidade de eu ter me apaixonado por um cara inalcançável em apenas o que? Vinte dias de convivência? Caralho não foi nem isso, foram DEZOITO – eu me exalto e bato com a mão na minha testa já não tendo controle mais de minhas emoções – me sinto patética.

Meu discurso é recebido com total silêncio, não só da minha mesa, mas de todo restaurante. Eu fico tensa e sinto minhas bochechas corarem com a possibilidade de todos terem escutado. Volto a encarar meus amigos e eles estão com uma expressão surpresa mas seus olhares não estão sobre mim e sim para algo atrás de mim, o que faz com que eu vire meu corpo para trás para entender o que estava acontecendo. Deparo com olhos castanhos familiares me observando.

***

Minhas mãos estão tremendo e demoro um tempo com as tentativas falhas de colocar a chave na fechadura, Joseph ao meu lado apenas me observa com uma expressão neutra e não fala nada, o efeito do álcool em meu corpo já se passou há muito tempo com a adrenalina da situação toda então aquilo era totalmente efeito Joseph Quinn em meu corpo.

Eu ainda não acreditava que esse britânico filha da puta estava ali, ao meu lado e me encarando com a maior naturalidade do mundo. Eu queria bater nele e gritar tudo o que estava entalado, e estender essa cortesia aos meus dois amigos queridos: Giulia e Rafael que arquitetaram essa situação junto com Marina que ia ouvir poucas e boas assim que eu resolvesse tudo.

– Não fique muito à vontade – eu digo a Joseph que dá um sorrisinho de lado. Ele estava estranhamente calado desde a cena no restaurante, ele apenas disse oi aos meus amigos e soltou um "precisamos conversar... em particular" e cá estávamos nós no meio da sala do meu apartamento. Eu estava tentando absorver sua aparência de quem havia acabado de cruzar um oceano, com cabelos bagunçados, uma calça larga confortável, a camisa social e as famosas correntinhas acrescidas do escapulário que eu havia dado à ele de presente.

– Parece que estou tendo um déjà-vu com você toda nervosinha desse jeito – ele diz e dá aquele sorriso travesso dele que sempre conseguia me desestabilizar e percebo que talvez esse tempo todo longe só tenha piorado os efeitos que ele me causava.

– O que você tá fazendo aqui? – eu questiono direta e reta com os braços cruzados e batendo o pé no chão.

– Vim conversar com você, Viviane, já que você resolveu não responder mais minhas mensagens – ele diz em um tom de derrota e se senta no meu sofá como se fosse de casa. Ele aproveita para observar o ambiente e dá um sorriso quando vê minha parede de fotos e eu me lembro que havia colocado ali uma das fotos nossa tirada por Ollo. Eu reviro os olhos e solto um suspiro irritada.

– Fiquei sabendo que você vai para Londres – ele indaga curioso e eu o encaro com os olhos cerrados.

– Parece que o hábito de me stalkear não saiu de você ainda Quinn – eu respondo sarcasticamente e ele dá um sorriso de canto como se soubesse de algo que eu não sei.

– Porque você parou de falar comigo? - ele perguntou mais uma vez.

– Porque que você veio até aqui? – eu devolvi com outra pergunta o que fez com que ele perdesse a paciência e esfregasse sua barba por fazer irritado.

– Ok, se você quer fazer desse jeito tudo bem, eu falo primeiro. Estou aqui porque você é uma cabeça dura teimosa – ele diz bravo e um arrepio passa por meu corpo, Joseph puto sempre havia me dado tesão.

– Escuta aqui se você veio aqui me ofender, acho m–

Não tenho como finalizar a frase já que seus lábios estão pressionando os meus com força, sinto o desespero através de seu beijo que correspondo prontamente, passando os braços em torno do seu pescoço e colando nossos corpos, perco a noção de quanto tempo ficamos ali perdidos um no outro, mas quando coloco minha mão por sobre o volume em sua calça ele nos separa. As respirações ofegantes é o único som que preenche o meu apartamento e nos encaramos sem quebrar o contato visual e eu me sinto de volta naquela casa em Sardenha após o jantar que ele havia feito. Meus olhos lacrimejam com o sentimento e vejo isso refletido em suas órbitas castanhas brilhantes que sempre se comunicavam comigo.

– Viviane acho que estou apaixonado por você.

Summer Lovin' - Joseph QuinnOnde histórias criam vida. Descubra agora