16. Agridoce

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Joseph era metódico cozinhando, o que contrastava muito com sua personalidade bagunceira. Ele fazia o mise en place meticulosamente e não iniciava o preparo da refeição enquanto não tivesse todos os ingredientes prontos e separados. E ele odiava que se metesse em sua cozinha então me fez sentar no balcão de frente pra ele, me serviu o vinho caro que ele tinha escolhido a dedo no supermercado e disse para eu aproveitar, e era isso mesmo que eu estava fazendo enquanto observava o movimentos dos seus bíceps enquanto cortava a carne, a cara de concentração com a língua pra fora enquanto tenta dar o ponto no molho e o conjunto dele com um pano de prato no ombro e um avental por sobre a roupa. A visão era... deliciosa.

Ele também era um exibido e ficava refogando os alimentos segurando a panela com uma mão enquanto misturava jogando o conteúdo do recipiente para cima o que acabou rendendo algumas gargalhadas quando ele deixou o alho cair no chão. A playlist que ele havia selecionado era totalmente diferente do que eu já tinha escutado anteriormente, com uma seleção de músicas dos anos 50-60 que ele dançava desajeitadamente em algumas partes fazendo graça para arrancar sorrisos meus.

- Tá bom, ok, então você está me dizendo que não gosta de filmes estilo comédia romântica, isso eu até posso entender, mas você nunca assistiu Diário de uma Paixão? - eu digo inconformada gesticulando com as mãos e fazendo uma careta exagerada. Joe encolhe um pouco os ombros e solta uma risadinha sem graça.

- É, é isso mesmo que você ouviu - ele diz e dá de ombros e meu queixo cai.

- Eu sou mais ligado em drama e comédia - ele diz tentando se explicar e eu ainda o encaro chocada.

- Okay, acho que não vou recuperar disso tão cedo - digo e balanço a mão dispensando mais explicações - mudando de tópico, Landan, qual lugar você recomenda ir e que não pode sair de lá sem ver - eu pergunto curiosa e pronuncio Londres num falho sotaque inglês que faz com que ele zue um pouco sobre, então ele para por um minuto para pensar, coça a barba e diz:

- Além dos tradicionais, London Eye e Big Ben? Se você for no verão tem que visitar a Pequena Veneza e Camden Passage, no inverno recomendo ir aos teatros e Soho no geral.

- Okay entendi passeios bem cults e dignos da aristocracia inglesa.

- Londres tem seus extremos, muita coisa ligada à realeza e os tempos da sociedade nobre inglesa, mas também tem muitos bairros novos e com uma vibe mais jovem e suburbana igual a qualquer outra capital.

- Entendido Mister Quinn - eu digo e dou uma piscadinha que ele retribui com um olhar travesso.

Continuamos a conversar sobre diversos outros assuntos, era interminável o tanto de coisas que debatíamos e sempre tínhamos algo novo a aprender sobre o outro. Enquanto isso, Joseph me fazia experimentar cada coisinha que ele preparava, dando na minha boca com a colher e ficava instigado com minhas reações e elogios. Era um momento super descontraído que estava rolando entre a gente nem parecia o que estava realmente acontecendo ali: uma despedida.

Nós comemos o delicioso jantar grego que ele havia preparado, variamos um pouco a culinária já que faz quase vinte dias que estávamos vivendo só com carboidratos. Joe estava me galanteando como se fosse nosso primeiro encontro e eu estava mais uma vez totalmente rendida a ele o que me fazia querer sair pra fora e gritar para eliminar a frustração.

- Eu já volto a trabalhar na próxima semana já, vou ter apenas o fim de semana para me organizar pós férias - eu digo e tomo mais um gole do vinho, que já estava me deixando um pouco alegrinha e solta. Estamos sentados no sofá, virados um de frente pro outro e com o cotovelo apoiado no encosto enquanto a mão sustenta nossas cabeças. Joe não desvia o olhar nem por um segundo e tem um sorriso estampado no rosto que não sai de lá por nada o que me faz dar um selinho em seus lábios a cada minuto que passa.

- E depois? Quando é suas próximas férias? - ele pergunta enquanto coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e coloca a mão em meu ombro o massageando.

- Ah isso é impossível de se saber, mas só no próximo ano, já gastei toda a minha cota de férias nessa viagem - eu respondo e dou de ombros, seu olhar me deixando mais desconcertada do que nunca - e você? Quando vai poder descansar de novo?

- Não sei, passei os últimos meses filmando em LA e agora estarei em Londres para Bridgerton, e depois a premiere do novo filme, comic cons, enfim a lista é infinita, é um milagre eu ter conseguido esse um mês de folga.

- Você está em alta demanda hein Quinn - eu digo e o cutuco com meu indicador no seu peito, ele pega minha mão e beija cada um dos dedos e depois os entrelaça com os seus. Eu ia sentir falta disso.

Ficamos em um silêncio confortável, não sabia o que se passava em sua cabeça mas na minha era um turbilhão de pensamentos conflituosos que foram dispersos com seu toque em minha cintura me puxando para seu colo. A mão de Joe passava desde a curva da minha bunda até a minha nuca, onde ele parava por uns instantes para massagear. Nosso olhar não se desconectava por nada e aquela temida sensação no fundo do meu estômago e os batimentos acelerados do meu coração talvez entregassem um pouco do quão ferrada eu estava a partir de amanhã.

Joseph me beijou lentamente como se quisesse saborear cada momento e gravar em sua memória, suas mãos estavam decorando o contorno de meu corpo e a sua respiração conversava com a minha. A gente acabou nem indo para o quarto e transamos ali mesmo na sala, comigo por cima, com ele me pressionando contra o encosto do sofá, na mesa de jantar. Era a nossa forma de se despedir, pois nenhum de nós tínhamos palavras para isso.

No outro dia de manhã eu acordei sozinha na cama e eu entendi que Joe já havia saído para pegar seu voo logo cedo para Gênova levando uma partezinha minha consigo. Eu tentei não pensar muito e também já me preparei para pegar o meu voo para Milão e enfrentar outra vez cruzar o Atlântico.

***

- Essa vista, apesar de eu já ter visto tantas, sempre vai ser a minha preferida - eu digo à Giulia enquanto passo a garrafa de espumante para ela. Estávamos em Florença, mais precisamente na Piazza di Michelangelo, que fica localizada no ponto mais alto da cidade, proporcionando uma vista de tirar o fôlego da cidade do renascimento no meio da Toscana. Estávamos ali já faziam mais de quarenta minutos aguardando o pôr do Sol para voltarmos para Milão e eu pegar meu vôo de volta para o Brasil, eu estava evitando tocar no tópico Wesley e ela no tópico Joseph pelo bem maior.

- É mágico não é? Não sei explicar essa cidade toda me passa a impressão de eu estar dentro de um livro - Giu responde enquanto divaga, seu olhar perdido na vista à nossa frente.

- Esse país é todo mágico, é realmente uma sensação muito única estar em qualquer lugar daqui que é impossível de ser passada para quem nunca visitou - eu respondo e me ajeito no degrau a onde eu estava sentada, meu celular apita e eu vejo que é Rafa me mandando uma selfie dizendo que já havia chego em Munique.

Ficamos em silêncio apenas observando o Sol ceder seu lugar no céu para a Lua que estava em sua fase cheia, com uma música sendo tocada por um cantor de rua ao fundo, e a melancolia do adeus tomando conta de nossos sentimentos.

Assim que chegamos no aeroporto de Milão Giulia me abraça forte e se despede prometendo que vamos nos ver em Dezembro quando ela for passar as férias no Brasil, as lágrimas não vieram e meu celular ainda estava vazio sem nenhuma mensagem de Joseph me dando a impressão que tudo o que aconteceu nos últimos vinte dias foi coisa da minha imaginação.

E assim minhas férias haviam chego ao fim.

Nota: a foto de capa do capítulo é de minha autoria.

Summer Lovin' - Joseph QuinnOnde histórias criam vida. Descubra agora