MELINA NUNCA esteve tão indisposta a trabalhar como naquele dia, mal tinha posto os pés para fora de seu apartamento e já desejava voltar correndo e se embrenhar no edredom quente, principalmente porque aquele dia havia amanhecido nublado e frio. Seu mal humor era visível, e quando parou em frente à casa de Max para pega-la, sua amiga notou esse fato facilmente.
— Nossa, você parece muito feliz em ir trabalhar hoje. - Ironizou, enquanto colocava o cinto de segurança.
— Hoje Delyon começa definitivamente nos ajudar nas investigações. Precisamos pegá-lo no galpão e eu estou me questionando se estou emocionalmente preparada para lidar com ele.
— Você se sairá bem, já lidou com ele em outras situações.
— Mas nunca em uma investigação, Max. Delyon é imprevisível, nunca se sabe o que ele pode fazer.
— Não foi você que mapeou o comportamento dele?
— Fui a que chegou mais perto, mas há alguns aspectos da personalidade dele que são imponderáveis. - Respondeu ela, ainda com os olhos fixos na rua – E é justamente isso que o torna perigoso de certa forma. Delyon é uma caixinha de surpresas e mestre na manipulação, o pior de tudo é que ele sabe disso.
— Vai precisar de uma boa dose de paciência então.
— Esse é o problema. Eu não tenho paciência.
Sem dizer mais nenhuma palavra para deixar Melina tensa, Max se virou para frente, agradecendo mentalmente de não ter de ser ela a lidar com Dorian. Não demoraram muito tempo para estacionar em frente ao galpão e subir, o lugar estava incrivelmente silencioso, parecendo até mesmo inabitado. Melina bateu à porta, chamando por Dorian, mas nenhum som veio de dentro, tentou novamente e obteve o mesmo resultado, tudo estava calmo demais.
Um certo receio se apoderou dela e sem pensar duas vezes, buscou a chave reserva no bolso e destrancou a porta, passando por ela e nem mesmo esperando localizar Dorian para esbravejar:
— O que pensa que está fazendo, Delyon? Por que não abriu?
Olhou ao redor, porém não havia sinal de Dorian. Ele não estava em lugar algum. Procurou no banheiro nos fundos e até mesmo no mezanino, onde ele havia acomodado o colchão, mas ele havia simplesmente desaparecido. Melina sabia que não podia confiar nele, desconfiava que cedo ou tarde ele acabaria fazendo justamente aquilo, só não imaginou que ele fosse estúpido o suficiente para realmente fazê-lo.
Buscando o celular no bolso, discou o número da agência, enquanto encarava Max.
— Vai pedir reforço? - Perguntou a loira, parecendo apressada para sair dali em busca de Dorian.
— Irei pedir para rastrearem a tornozeleira.
Melina mal terminou de falar e a porta do outro lado do corredor se abriu, revelando o grande elevador de carga e um Dorian acompanhado de pelo menos três pessoas desconhecidas, dentre elas uma senhora idosa. O mais surpreendente naquela situação era que os outros dois homens carregavam um grande guarda roupas e vestiam o uniforme de uma transportadora. Como Dorian conseguira fazer aquilo ninguém sabia.
Ele parou no meio do corredor, com os olhos arregalados e parecendo surpreso, enfiando um último pedaço de croissant na boca, disse:
— Ah, vocês já chegaram. Esperava que viessem um pouco mais tarde.
— Mas que merda é essa, Delyon? - Esbravejou Melina, se aproximando.
— Eu saí para dar uma volta e conhecer a vizinhança e me deparei com um grande bazar. Encontrei a Marlene lá e impedi que um garoto assaltasse ela, aí como forma de agradecer ela me deu alguns móveis. - Respondeu ele tão naturalmente, como se situações como aquela acontecessem todos os dias.
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Carte Blanche
RandomAté onde vai sua moral? Dorian Delyon foi um dos criminosos mais procurados do país. Por anos foi escorregadio o suficiente para despistar qualquer um que estivesse atrás de si. Até se deparar com Melina Singh. Após cinco anos de uma perseguição inc...