TRÊS DIAS DEPOIS, Dorian estava deitado em seu sofá, encarando o teto cinzento daquele galpão. Os dedos estavam cruzados sobre o peito e uma expressão de tédio tomava seu rosto. Estava indignado de ter que sair àquela hora para uma operação, comumente às nove da noite ele já teria tomado seu banho, jantado e estaria indo para a cama, mas não naquela noite. Ali estava ele, vestido com o melhor smoking que a agência conseguiu encontrar para ele, enquanto aguardava pacientemente Melina buscá-lo. Não sabia dizer o que era pior, sair àquela hora ou se passar por um marido cego e corno. Pior ainda! Marido de Melina. Aquilo só poderia ser um castigo dos céus por tudo o que ele havia feito.
Não demorou muito para que ouvisse Melina batendo na porta e a abrindo, ela não entrou, no entanto, apenas permaneceu parada, o esperando do lado de fora. Porém, assim que Dorian se levantou, pareceu paralisar com a visão que tinha da agente.
O vestido vermelho de cetim que usava, descia até os pés e contrastava perfeitamente com a pele escura, a fenda do lado direito, deixava um pouco da coxa bem torneada evidente, mas ao mesmo tempo causava certo mistério. As sandálias pretas que usava a deixavam maior e o cabelo ondulado e preto estava preso em um coque alto, porém, algumas finas mechas escapavam e emolduravam o rosto fino, dando um complemento na maquiagem que destacava os olhos castanhos.
Piscando aturdido e voltando a si, Dorian pegou a bengala, que estava em cima da mesa de centro, e marchou silenciosamente para fora. Tinha medo de que se desse uma palavra para Melina começasse a gaguejar. Não deixaria evidente para ela sua perplexidade.
Quando entrou no carro, se deparou com Max no volante novamente, mal se acomodou e ela lhe entregou algumas folhas, que se revelaram um tipo de estratégia da operação. Nelas constavam os nomes que usariam, qual estratégia adotariam e até a localização de onde os reforços se encontrariam.
Quando localizou o nome que seria designado para ele, Dorian levantou os olhos do papel, indignado, e se voltou para as agentes no banco da frente do carro, que já se encontrava em movimento.
— É sério isso? Usaram uma identidade falsa minha?
— Você já tem tantos nomes falsos, por que iríamos inventar mais um? – Respondeu Max, dando de ombros.
— Ah, não sei. Talvez porque podem reconhecer essa identidade.
— Relaxa, tomamos o cuidado de escolher o que tem menos probabilidade de alguém conhecer, afinal, usou esse nome poucas vezes. Não é mesmo, Tomáz Ávila? – Provocou Melina.
Abrindo um sorriso forçado, Dorian voltou a se recostar no banco e cruzou os braços, emburrado, colocou os óculos escuros e só então respondeu:
— Mas é claro, senhora Ávila.
— Vamos deixar a discussão de lado e nos concentrarmos nos disfarces. Dorian, você é um grande empresário, dono de uma marca de cosméticos, e eu vou ser sua esposa interesseira que se aproveita da sua condição para procurar aventuras por aí.
— Certo, e eu vou ter que fazer o quê? Não tem nada descrito aqui.
— Nada, você não faz nada. – Max respondeu daquela vez – Melina vai tentar seduzir Rivier e lhe dar um bom motivo para chantageá-la, assim o pegamos no flagra. Enquanto isso, você se faz de bom moço e fica sentado no seu lugar quietinho, como um enfeite.
— Que empolgante, me deram um papel de figurante.
— Exatamente.
Dorian deu de ombros e novamente se calou, sem questionar a função que lhe deram. Ele nem mesmo queria sair de casa, então não poderia se queixar quando sequer lhe deram um trabalho, pelo menos não teria que se esforçar.
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Carte Blanche
RandomAté onde vai sua moral? Dorian Delyon foi um dos criminosos mais procurados do país. Por anos foi escorregadio o suficiente para despistar qualquer um que estivesse atrás de si. Até se deparar com Melina Singh. Após cinco anos de uma perseguição inc...