42| Enquanto você dorme - Fim

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A SALA de descanso havia se tornado o refúgio de Melina naquele dia, estavam todos tão ocupados que sequer pisavam naquele cômodo, o que lhe foi muito útil. Manteve as luzes apagadas enquanto permanecia atirada no sofá, tentando controlar as lágrimas que desciam sem parar por seu rosto. Os olhos já começavam a arder e tinha certeza de que estavam inchados e repletos de olheiras, estava tão cansada que sequer se esforçou para disfarçar a aparência abatida.

Seu momento de reclusão foi interrompido quando a porta se abriu bruscamente a luz se acendeu, trazendo um clarão incômodo para seus olhos. Rapidamente ela se levantou e limpou o rosto, finalmente tendo a visão de seu chefe parado e encostado na porta.

— O que houve? – Perguntou ele.

— Nada, senhor, só vim descansar um pouco, já estou voltando para o trabalho.

Melina ainda ajeitava as roupas e tentava desamassá-las quando a voz de Alex soou novamente, daquela vez parecia mais branda e até o fazia soar preocupado.

— É sobre Delyon?

Os movimentos dela cessaram de repente, a cabeça permaneceu baixa e alguns instantes de silêncio foram feitos, até que ela concluísse seu pensamento e decidisse ceder.

— É sim, senhor.

— Quais as notícias?

— Ainda nenhuma. Pelo menos nenhuma que valha a pena.

— Entendo. Sei que está preocupada e é compreensível. É normal que nos preocupemos com as pessoas que convivemos. Mas precisa manter seu foco e não descuidar de si mesma. Entende?

— Claro, senhor.

— Bom. Por isso quero que vá para casa e descanse, está visivelmente exausta.

— Mas, senhor, eu ainda tenho muito trabalho, as investigações não podem parar.

— E elas não irão, mas você sim. Eu notei que trabalhou dia e noite exaustivamente, até que suas forças se esgotassem. E não é isso que quero para nenhum dos meus agentes, você também precisa descansar, antes que acabe ficando doente. Vá para casa, relaxe um pouco por hoje e volte amanhã, seus colegas continuarão com as investigações.

Sabendo que não venceria seu chefe em qualquer discussão e não querendo desobedecê-lo, Melina apenas concordou com a cabeça e esperou até que ele saísse e fechasse a porta atrás de si para se atirar no sofá novamente. Não queria sair dali, desejava ardentemente continuar a investigação, cavar até o fundo, mas admitia que já sentia seu corpo pesado e a mente nublada. Mal conseguia raciocinar. E por mais que relutasse, acabou decidindo por pegar sua bolsa e descer até o estacionamento.

Ao adentrar o carro, não teve forças nem mesmo para ligar o carro, a chave permanecia na ignição, enquanto a testa descansava sobre o volante e as lágrimas voltavam a verter. Não sabia se chorava por preocupação ou exaustão, apenas queria chorar sem ser vista por ninguém, até aquele sentimento esmagador sair de seu peito.

Não fora completamente honesta com seu chefe, poucos minutos antes de entrar na sala de descanso, ela havia visto o celular de Max tocar e o contato de Jane aparecer na tela. Sua amiga, no entanto, não atendera a ligação perto dela, optou por sair do departamento, com uma expressão preocupada em seu rosto e a postura rígida de alguém que recebe uma má notícia, e aquilo a consumira por toda aquela manhã. Melina sabia que havia algo errado, mas a falta de notícias fazia sua angústia ser esmagadora.

Ouviu a porta do carona se abrir e logo depois se fechar novamente. Sabia exatamente quem acabara de entrar em seu carro, mas não fez nem mesmo questão de erguer a cabeça. O perfume de Max era inconfundível.

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