Carte Blanche

24| Uma vez trapaceiro... - Parte 3

DORIAN HAVIA perdido a conta das horas que estava ali, mas os dias deviam ser pelo menos três, já havia passado de seu terceiro almoço. O calor naquele galpão era infernal, o suor escorria e molhava toda a camisa, se sentia sujo e seu cheiro já estava lhe causando pavor. Sequer o deixavam se banhar, suas únicas necessidades atendidas ali eram suas refeições e idas ao banheiro, um cômodo pequeno que ficava no lado direito, ainda assim sempre ia acompanhado de alguém, o que era constrangedor demais. Porém, as idas ao banheiro não lhe foram totalmente inúteis, constatou que a janela era grande o suficiente para que pudesse passar, seu desafio eram as barras de ferro que haviam nela. Com uma análise mais detalhada, concluiu que quebrando um pedaço da parede em que haviam sido fundidas, poderia facilmente escapar, passou então a esconder as ferramentas na calça, conseguindo carregar um cinzel e uma marreta para dentro do banheiro e escondê-los para usá-los posteriormente.

Os únicos pontos positivos eram suas refeições, sempre eram bem feitas e frescas e agradecia por pelo menos lhe darem o que comer, mas começou a suspeitar do jantar digno de um rei que lhe davam, sempre se sentia sonolento depois que comia, fechava os olhos por segundos e quando os abria novamente já era manhã e tinha que se levantar para continuar a esculpir. Durante aqueles dias, Dimitri apareceu pelo menos uma vez ao dia para checar o andamento da obra, sempre permanecendo poucos minutos ali.

A noite começava a adentrar quando Dorian repassava mentalmente o plano que havia trabalhado pelos últimos dias, ainda estava de pé em cima de uma escada, trabalhando com o cinzel e o martelo na escultura, quando sentiu a perna começar a latejar. O peso da corrente o puxava para baixo e ele tinha que se esforçar para permanecer de pé em cima da escada, o cansaço já cobrava seu preço e poderia jurar que sentia os músculos da perna se esticarem.

Resolvendo parar para descansar, desceu da escada e resmungou para os homens ali presentes:

— Escuta, o chefe de vocês queria prender um cara de 1,95m e 80 quilos ou o gigante Golias? Olha o tamanho do elo dessa corrente, é quase do tamanho do meu pé!

Novamente ele não obteve resposta, apenas um revirar de olhos de um dos homens indicou sua reação. Suspirou cansado e se sentou em um pequeno banco, observando atentamente os elos daquela corrente, sabia que toda corrente possuía um elo fraco e estava determinado a encontrar esse elo, porém, conforme o tempo passava se sentia mais frustrado em não conseguir encontrar o que procurava, e notando o olhar atento daqueles homens sobre si, teve de voltar ao trabalhando, levando seu plano em outra direção.

Observando a fogueira que haviam feito para se aquecer, Dorian teve uma nova ideia, e talvez aquela fosse sua única salvação, nenhum daqueles homens de fato estava atento ao fogo, mas ele sabia que tinha que agir rápido. Ainda esculpindo o bloco de gesso, foi se aproximando cada vez mais do fogo, até conseguir estar próximo o suficiente para acomodar a corrente sobre ele, sabia que precisava de um pouco de tempo até ela se aquecer, mas sabia também que teria o tempo necessário para aquilo acontecer. O jantar chegou poucos minutos depois e Dorian já sabia o que iria acontecer. Se ele comesse, começaria a sentir sono, dormiria sem perceber e quando acordasse já estaria de dia e perderia sua chance. Resolveu então começar a colocar seu plano em prática, esperou que os seguranças estivessem distraídos o suficiente e discretamente começou a jogar a comida fora, na verdade, a jogava dentro de um pequeno buraco que havia feito no gesso.

Quando notaram que ele havia terminado, recolheram os pratos e permaneceram o encarando, parecendo esperar que Dorian dormisse. Estavam muito enganados. Ele continuava trabalhando arduamente, observando a corrente que começava a ficar avermelhada sobre o fogo.

Estranhou quando Dimitri apareceu tão tarde naquele galpão para observar seu trabalho, e ao que parecia aquele homenzinho também parecia surpreso de vê-lo acordado.