CAPÍTULO #86

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DOZE - 6 anos de idade

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DOZE - 6 anos de idade

Um ano era mais do que suficiente para aprender como tudo funciona. Aprendi da pior forma, mas não existia outro jeito.

Me encolho, abraçando meus joelhos na tentativa inútil de me aquecer. Eu não saberia dizer ao certo onde estávamos. O lugar era deserto, apenas com uma torre de vigia onde ficavam soldados nos observando caso alguém tentasse fugir. Era quase semelhante à um campo de concentração, só que amplo, com treinos insanos e uma tortura diária sem fim.

Não havia muita comida. Não é como se eles se preocupassem em nos alimentar. Tínhamos que buscar nossos próprios meios. Pescando no pequeno rio que havia cerca de 50 metros daqui. Era difícil conseguir pegar algum peixe, e quando alguém conseguia, outros iniciavam brigas mortais por um simples peixe, mas que valia ouro. Os que não queriam arriscar uma briga dessa proporção, caçavam árvores frutíferas, ou até mesmo comiam folhas das plantas que não eram venenosas.

Eu ainda não me arriscava na pescaria. Tinha medo dos maiores, que estavam sempre observando os menores procurarem comida, e então eles roubavam e não podíamos fazer nada. Quem os enfrentasse, entraria numa luta que certamente os maiores teriam vantagem.

Havia um critério para virmos até aqui.

Ser um bastardo.

Havia dois caminhos que definia sua vida dentro do mundo da máfia: ser herdeiro legítimo de um líder, ou ser um bastardo que foi fruto de uma traição. No meu caso, foi a última opção.

Talvez por isso meu "pai" nunca tenha me deixado saber seu nome. Ele nunca me respondia quando eu perguntava. Não sei o que aconteceu com minha mãe. Não lembro de muita coisa antes de aparecer nesse lugar. Tento me lembrar todos os dias, mas é inútil. Tudo que me vem em mente é o choro da minha mãe. E, na maioria das vezes, é isso que me incentiva a continuar vivendo, me fortalecendo.

Eu quero poder encontrá-la…

Sinto algo passar pelos meus ombros, e sorrio quando vejo meu irmão se sentar ao meu lado, após me cobrir com um pedaço de pano velho, que deve ter encontrado por aí. Ele tinha 10 anos e já havia iniciado as missões que nos eram dadas quando o treinamento inicial se completava. Eram missões que nenhuma criança deveria participar, mas isso era feito justamente para não afetar os líderes. Não tínhamos nomes, apenas números. Não podíamos deixar rastros e se fôssemos pegos nas missões, não tinha como alguém falar quem o mandou, porque na real, não sabíamos de fato. Apenas nos era passado, e quem quisesse sobreviver, não questionava.

Respiro fundo, me encostando em Onze – número dado ao meu irmão –, tentando dividir o pequeno tecido com ele, abraçando seus ombros. Ele sorriu, beijando o topo da minha cabeça e me abraçando apertado, deixando que nossos corpos se aquecessem naquele abraço. Fecho meus olhos. Estava cansado, dolorido, e tudo que eu precisava era dormir um pouco, mas Onze me sacudiu um pouco, me fazendo olhá-lo.

— Não durma agora… — Sussurrou, afagando meus cabelos. — É perigoso.

— Estou cansado, manin'... Só um pouquinho… — Peço, já querendo fechar os olhos, mas foi de imediato um barulho alto de explosão me despertar de súbito. Meu irmão se levantou rapidamente, me puxando rapidamente para longe dali. Onde "vivíamos" também havia testes de bombas, então não era surpresa se no dia seguinte recebêssemos a notícia de que alguém foi atingido por elas. Mas isso não era o pior, por incrível que pareça. Soldados se divertiam às nossas custas, nos atacando de surpresa, no meio da noite, apenas para testar nossa capacidade de defesa. E muitos acabavam mortos por isso.

Meu irmão me puxou para uma pequena ladeira, escorregando na terra até descermos e ficarmos juntos ali, abraçados. Eu podia ouvir gritos de dor, de pânico. Alguém certamente foi atingido. Eu quis chorar, tentar ver quem era e se ainda tinha tempo de ajudar, mas meu irmão não permitiu. Ele também chorava, mas tentava controlar, me abraçando com força.

Você tem meu coração… — Ele começou a cantar baixinho, me mantendo com a cabeça encostada em seu peito. Ele sempre cantava essa música para mim quando ocorria essas explosões ou ataques. Me distraía, porque a música parecia me conectar ainda mais a ele. — Nós nunca vamos ser mundos separados. Talvez em revistas, mas você ainda será minha estrela. Amor, porque no escuro você não pode ver carros brilhantes, e é aí que você precisa de mim lá… com você eu sempre compartilharei… porque quando o sol brilhar, vamos brilhar juntos, disse que eu estaria aqui para sempre. Disse que sempre serei um amigo. Fiz um juramento, eu vou aguentar até o fim… Agora que está chovendo mais do que nunca, saiba que ainda teremos um ao outro. Você pode ficar debaixo do meu guarda-chuva…

Então ele tampou meus ouvidos com suas mãos, beijando o topo da minha cabeça e me mantendo junto com ele. Eu ainda podia ouvir as explosões, os gritos, o pânico, mas ali eu me sentia seguro. Onze era forte, mais do que eu. Não importa o lugar em que estivéssemos, se eu sempre tivesse ele comigo, eu me sentiria forte, seguro.

Cuidávamos um do outro.

TOXIC - Série King Of Sex - Livro 2 (POLIAMOR) Onde histórias criam vida. Descubra agora