Capítulo Revisado
A escola está caótica hoje, assim como minha mente, que fervilha mais do que uma fonte natural na beira de um vulcão em erupção. Não sei como agir em relação ao Tomás. Os beijos foram ótimos, mas a ideia de ir além me causa pânico. Na verdade, eu nunca transei com um homem e seria uma verdadeira aula aprender como fazer. O máximo que fiz foi me masturbar pensando no meu tio Jairo sem roupa, mas não sei se me enquadro na sigla LGBTQ+.
Além disso, tem o meu pai. Se ele descobrir que beijei outro menino ou pensei em um enquanto me masturbava, enlouqueceria de vez. Segundo o meu avô, ele teria um surto. A Marlene e a tia Luciana pouco me importam. Só as suporto por causa do Tio Jairo. Se não fosse por ele, elas já teriam sido expulsas da família pelo poder que tenho como primogênito.
Sempre tive um super poder, como a própria Raiane diz. Eu olho para alguém e já sinto o pior. Já usei isso com todos os namorados dela e todos eles acabaram fazendo uma besteira. O penúltimo até tentou bater nela, mas o Miguetrouxa se intrometeu para ajudar. Obviamente, não deixei barato e acabei quebrando o cara inteiro. No final, Raiane ainda voltou com ele, namorou por mais dois meses e eu acabei sendo o vilão intrometido da história.
Mas voltando ao assunto, quando o meu tio Jairo trouxe aquela mulher para casa, eu ainda era pequeno. Meu primo, sendo filho do primeiro relacionamento do meu tio, já estava lá há algum tempo e era um pouco mais velho do que eu. Luciana chegou até mim, com um daqueles pirulitos gigantes em espiral, com um sorriso no rosto. Eu, na minha inocência, apenas comentei:
— Essa vai fazer estlago.
Meu pai ficou super sem graça e me deu uma bronca, uma surra e ainda me colocou de castigo. Hoje em dia, eu não sei se realmente estraguei meu estômago, mas isso não significa que não possa acontecer.
O meu sentido das coisas não se limita apenas a sentir as intenções das pessoas, também acontece com as decisões que preciso tomar, especialmente quando tenho que ir a algum lugar. Às vezes, não é um processo consciente, não é um poder a lá X-Men, é apenas uma intuição natural. Como não sou religioso, acredito que deve ser um instinto humano para avaliar riscos inconscientemente.
Deixando a questão da intuição de lado, comecei a andar pelos corredores, conversando com alguns novos colegas de equipe de futebol quando acabei esbarrando em Roberta:
— Oi, Roberta, como vai? Foi mal por não ter conseguido te encontrar aquele dia, tive que ir a um lugar.
— Jantar em família, eu sei. — Ela sorriu. — Tua irmã me contou que foi de última hora, mas acho que podemos nos encontrar na minha casa hoje depois da aula. Pode ser?
Seu olhar parecia um pouco desesperado, como se estivesse procurando uma desculpa. Ergui minha sobrancelha direita, demonstrando certa desconfiança.
— Pode ser, estarei lá. — Lembrei que já tinha ido lá uma vez para levar a Raiane. — mas a gente pode se encontrar no Figueiredos, não é "véi"?
A biblioteca de Cajazeiras Luciano Figueiredo era um ponto de encontro para jovens estudantes interessados em diferentes assuntos. Ali, era possível concentrar-se nos livros e aproveitar um ambiente sociável sem sentir-se obrigado a manter conversas com Roberta só para manter as aparências.
Ao fazer a sugestão de encontrarem-se no Figueiredo, ela reage prontamente, como se estivesse desprevenida. Ela respondeu em alto tom:
— NÃO!!! — olhando em volta com um sorriso sem graça. — É que não vou poder sair de casa hoje, minha mãe vai receber uma ligação importante e preciso estar presente para atender.
— Tudo bem então, passo depois na sua casa, falou? — perguntei.
Ela balançou a cabeça rapidamente concordando. Não posso ter certeza do que ela espera de mim, se é apenas sexo ou algo mais sério, mas acho que até chega a ser uma boa ideia para aliviar as minhas tensões. E talvez, só talvez, essa seja a solução para as dúvidas sobre minha identidade.
Ao avistar Celene no pátio com aquele rapaz, percebo que eles estão sorrindo. Quando ele me vê, o sorriso morre, e ele se afasta. Celene também fica séria ao me ver e começa a mexer no celular para disfarçar o constrangimento.
— Vai começar a falar o que está acontecendo ou vai continuar fingindo que ele não existe e não acabei de ver ele falando com você? — Perguntei, ela sabia que eu odiava que me escondessem coisas. Principalmente quando envolvia a mim.
— Quem é o pivete? — Mando e cruzo meus braços.
— Fecha a cara e controla esse ciúmes? — ela revirou os olhos, parecendo bem irritada.
Eu me senti lesado com o que ela disse, e ela realmente queria usar essa carta comigo?
— Ciúmes? Eu? Você sabe que nunca tive ciúmes de porra de ninguém, inclusive pouco me importo com quem você anda. — falei um pouco alto e grosseiro — Agora quero entender por que você está distante de mim nos últimos dois dias.
Ela guardou o celular, respirou fundo e ficou com mais raiva ainda, quase me assustou:
— Escuta aqui caralho, você abaixa esse tom para mim. Você não tem o direito de falar alto comigo. — ela apontou o dedo no meu rosto e gritou. — E outra, tenho que te dar satisfação sobre tudo? Não posso mais ter algo só para mim?
— Oxe, em nenhum momento eu disse isso, para de viajar.
— É porque você parece estar bem zoado ultimamente também, com uma feição estranha. Pensativo. E mesmo assim não fico te cutucando para saber o que é, nem dando esses ataques de raiva ridículos. Então, fica bem calminho.
Eu molhe meus lábios com a língua, tirei meu boné e cocei minha cabeça pensando em algum argumento que pudesse bota pra' fora minha raiva. No entanto, as palavras pareciam travadas em minha garganta.
— Nem vou perder meu tempo discutindo com você, mas antes de ir, só quero dizer que em momento algum eu fiquei cochichando com alguém porque estava incomodado com algum comportamento seu. — comecei a andar e, por fim, mandei: — Se estiver incomodada, chega em mim e manda o papo. É isso que um amigo de verdade faz, gente de repeito também.
Ouvi um riso debochado vindo dela, como se estivesse ultrajada pelo que eu disse.
— Você colocou nossa amizade em cheque? Uma piada mesmo. Você nem sabe o que estou passando, véi'. — A forma como ela falou me pareceu entristecida.
— Por que você não me conta? Se você contar, eu posso te ajudar. — Dei risada da situação, vendo duas alunas fingindo conversar, apenas para ouvir a conversa.
— Ah, então você não sabe? Não sabe que seu pai e sua irmã vieram falar comigo na frente da escola e me escaldaram de todas as maneiras?
Me virei para ela com um olhar surpreso, sentindo que ela também ficou confusa com a minha reação.
— Me conta essa conversa direito! — mando, sim, eu mando, pois a raiva já tirou completamente os traços de juízo presentes em minha mente.
— Então, seu pai e sua irmã vieram aqui, pelo visto, você tinha ido embora de busão ontem. Aí eles me encurralaram e me mandaram me afastar de você. Sua irmã me chamou de vadia e seu pai ameaçou te botar de castigo e te tirar da escola.
— E, em vez de me mandar a real, me contar sobre a situação, você apenas fica estranha comigo e resolve andar com outra pessoa?
— Seu pai disse que você tinha concordado com ele, e eu ando com o Breno tem um bom tempo. Se estivesse preocupado com alguma coisa além de seus problemas, teria percebido.
Reviro os olhos, vendo que ainda assim ela tentava me culpar por algo que supostamente eu fiz.
— Ah, quer saber? Vai se catar! Se eu ficasse em cima perguntando quem é cada amigo seu, você me chamaria de ciumento ou tóxico, então eu não faço isso. E se eu não faço, agora estou sendo negligente com nossa amizade e egocêntrico? Foda-se!
Começo a andar, tenho apenas um rumo: a casa da Roberta, e espero não ter que ensiná-la como fazer.
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O que acharam do capítulo? Comentem.
Até o próximo capítulo!
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Afogue as Lágrimas - Histórias Baianas • Livro 3 (Romance Gay)
RomanceMiguel Castilho enfrenta dificuldades após a perda de sua mãe. Ele precisa equilibrar sua relação com um pai conservador e uma irmã egocêntrica, enquanto busca entender a si mesmo. No entanto, o jovem também enfrenta um desejo proibido por um membr...