Capítulo 10 - Insistência

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Capítulo Revisado

Tem dias em que não se tem ânimo para nada. Nessas ocasiões, até levantar da cama se torna uma grande burocracia. Geralmente, nesses dias, sentimos um grande cansaço, seja físico ou emocional. No meu caso, sinto ambos.

Depois daquela briga, eu ouvi Raiane conversando com tio Jairo. A safada teve a coragem de jogar toda a culpa da situação para cima de mim.

A dor de cabeça passou, mas uma dor muito mais forte surgiu em meu peito. Tristeza, dor, raiva e decepção se enroscavam dentro de mim, esmagando meus órgãos internos como se fossem folhas secas. Deixei-me cair em desgraça mais uma vez.

Estou com um leve inchaço por causa do murro, e tio Jairo queria entrar para me ver, mas eu não deixei. Não queria ver a cara daqueles homens novamente, e infelizmente Jairo pagaria pelo erro deles. Ainda tenho que me policiar ao máximo para não encontrar meu pai e, se possível, passar longe de Raiane.

Se ao menos pudesse falar com a Celene. Talvez ela tivesse uma forma de fugir. Mas meu plano de evitar meu pai não duraria por muito tempo. Logo minha barriga roncou, e tive que me levantar, calçar minhas sandálias e sair do quarto com cautela.

O som da televisão indica que tem alguém na sala, mas não consigo dizer quem é. A madrugada está fria, as meias em meus pés não ajudam a me manter aquecido. Chego nas escadas e vejo ele deitado no sofá, ainda sem camisa, de olhos fechados e roncando. Acho que as garrafas de cerveja fizeram seu trabalho.

Me arrasto degraus abaixo, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Nessas horas da noite, até uma agulha caindo no chão parece uma granada explodindo. Mesmo assim, meu pai sempre teve um sono pesado.

Sigo até ele, sentindo pena de sua posição toda torta no sofá. Encosto minha mão em seu peitoral, sentindo os músculos e a respiração cadenciada. Sua pele emite um calor moderado e é lisa, macia. Não resisto e esfrego minha palma até o outro lado do peitoral, sentindo cada músculo do corpo.

Aquilo é bom, sinto uma vontade enorme de deitar minha cabeça ali e dormir. O lugar que há algum tempo atrás seria o mais seguro do mundo para mim, agora é apenas mais um motivo para minha tristeza. Mas devo confessar que não é só isso em que penso enquanto encosto no peitoral dele.

Para disfarçar, o balanço com força e o chamo. Ele geme e abre seus olhos claros para mim, seu olhar de gavião quase que me faz voltar para o quarto. Ainda ouço ele sussurrar o nome da minha mãe, até que ele abre melhor os olhos.

Ele me encara por alguns segundos tentando decifrar o que faço com a mão em seu peitoral. Ele olha para minha mão, faz uma cara de surpresa junto a espanto e pergunta:

— O que tá pegando? — Perguntou com sua voz grave explodindo meus tímpanos.

Procuro por uma resposta, mas só consigo dizer gaguejando como a gaga de ilhéus:

— E-eu Vi-V-vi o senhor dor-mindo aí todo errado, resolvi te acordar... Para não ter uma dor nas costas mais tarde. — O olho esperando que ele engula a minha justificativa.

Ele apenas geme em confirmação e continua me encarando. Só percebo meu erro quando ele fala:

— E vai ficar aí, com a mão me alisando?

Me afasto de ímpeto, tropeçando na mesa de centro e caindo no chão. Ele se ergue, parecendo preocupado. Vem até mim e me puxa pelo ombro para me erguer, isso acaba machucando meu braço e solto um grito de dor.

— Larga a mão de ser fresco! — bradou se afastando — me acordou pra' pedir desculpas?

— Pelo o quê? — Indago confuso, cruzo meus braços e sinto uma dor no ombro.

Afogue as Lágrimas - Histórias Baianas • Livro 3 (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora