Capítulo 25 - Inocência

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Capítulo revisado, mas podem haver erros.

Boa leitura!!!

°°°

Eu me acomodo na cadeira, observando meu avô. Dou de ombros e ergo os braços simultaneamente:

— Então, que a história comece.

Meu avô parece se arrepender no momento em que concordou em me contar. Talvez ele tenha pensado que eu desistiria da ideia de explorar o passado do meu pai.

Ele suspira, tomando mais um gole de cerveja. Espero que isso lhe dê a coragem necessária para me contar tudo.

Sinto a urgência de extrair o máximo de informações dele, como um vampiro sedento por conhecimento.

— Uma das razões para o ódio dele você já deve imaginar — ele desvia o olhar. — Sua avó era uma mulher complicada. Cheia de preconceitos e uma completa fanática religiosa.

— Tive que lidar com uma louca decrépita no dia da festa. Ela só falava bobagens. Ela enchia a cabeça do papai com ideias erradas, não é? — Eu sei que foi exatamente isso que ela fez, mas deixo que ele confirme.

— Não só a dele, mas também a do Jairo. O problema é que seu tio sempre foi o mais rebelde e seu pai mais complacente. Ela praticamente controlava a mente do seu pai.

Apoio a cabeça na minha mão, com o cotovelo apoiado na mesa. Estou completamente envolvido na história.

— Com o tempo, percebi a influência negativa dela no seu pai: sua maneira de falar, de punir, de tratar e de ensinar seus dogmas. Ela maltratava demais seu pai, foi quando pedi o divórcio. Me mudei, fiquei com a guarda deles e nos afastamos da sua avó. Ela disse que eu era um degenerado por causa dos meus pecados.

Contenho minha curiosidade sobre os pecados do meu avô. Imagino que tipo de coisas ele tenha feito para irritar tanto minha avó, mas deve ter sido algo sério. Alguma traição?

— Ela era católica? Meu tio me contou uma vez. Foi um milagre ela ter aceitado o divórcio... — Insinuo, enquanto bebo metade da minha garrafa de cerveja em um gole.

— Não foi nada fácil, garoto. Foi um processo longo e exaustivo. A minha sorte é que não me importei de esperar até ela assinar para começar a me envolver com outras pessoas. — Ele está começando a ser afetado pelo álcool e a forma como ele disse a palavra "me envolver" até me deu um pouco de tesão.

Seus olhos se estreitam quando ele fala sobre o ato sexual, e um leve sorriso surge em seu rosto. Isso me faz tremer ligeiramente.

Não, não de novo! Não com meu avô!

— Enfim, mesmo estando distante, seu pai já estava um pouco influenciado por ela. Odiava gays desde pequeno, mas surgiu uma pessoa que mudou essa visão dele. Um jovem chamado Davi Carvalho — as feições do meu avô se contorcem no momento em que pronuncia o nome desse homem.

— Seu pai deixou de odiar homossexuais graças ao Davi.

— Interessante, mas quem é Davi?

— Davi era um jovem do nosso bairro. Ele era um pouco bobo, parecia uma criança apesar de ter dezessete anos na época. Foi por isso que permiti que ele se aproximasse do seu pai, apesar da diferença de idade. Suspeitava-se que Davi tivesse algum tipo de deficiência ou algo assim.

Tento adivinhar qual é o envolvimento desse Davi na história e, pelo que entendi, ele era gay ou algo do tipo.

— Ele era gay... Mesmo sendo meio bobo para a idade, tinha suas paixonites por alguns garotos do bairro, e eu nunca vi isso como um problema para o Miguel. Na verdade, até gostava disso. Ele parou de destilar ódio gratuito nas pessoas. — De repente, vejo lágrimas brotarem nos olhos do meu avô, que ele rapidamente enxuga para não demonstrar fraqueza, como é típico dos homens da nossa família. — Jairo me alertou várias vezes que não era normal um quase adulto se aproximar tanto de uma criança desconhecida, mas eu não dei ouvidos. Estava ocupado demais trabalhando e confiei no meu instinto, que dizia que estava tudo bem.

Começo a imaginar várias possibilidades, mas nenhuma delas parece boa diante da reação do meu avô. Só resta uma opção, e não quero nem cogitar isso. Engulo em seco, sentindo a necessidade de beber mais. Termino toda a cerveja de uma vez, sentindo o nervosismo tomando conta do meu corpo.

— A gente nunca pensa que o mal vai estar tão próximo de nós. Ele chega sorrindo, amigável, com uma aparência bonita e inocente, e depois te ataca de forma devastadora. Até hoje, não entendo como deixei isso acontecer... Eu sou um policial experiente, sempre soube identificar o mal em qualquer pessoa, mas com aquele garoto, eu não consegui. Não consegui prever suas intenções, até que ele fez algo que até hoje me é difícil de aceitar.

Sinto umidade nos meus olhos. Estou começando a aceitar que era exatamente o que imaginei. Agora entendo a reação do meu pai ao descobrir as coisas horríveis que o maldito do Eduardo me fez passar.

— Aquele desgraçado abusou do seu pai no quarto dele durante horas. Naquele dia, eu chegaria mais tarde e o Rafa ficaria sob os cuidados do seu tio assim que ele chegasse da escola. Mas aconteceu que seu tio ficou preso no engarrafamento, e tudo conspirou para que ninguém pudesse ajudá-lo naquele dia. Mesmo eu tendo avisado que ninguém além da família deveria entrar em casa, eu deveria ter previsto que uma criança não obedeceria tão facilmente.

Foi só preciso a confirmação da boca do meu avô para que a represa que eu segurava com esforço se rompesse. Chorei alto, um choro sofrido, que me fazia gemer e tossir de tanto chorar. Mesmo assim, meu avô não parou.

— Aquele filho da mãe planejava matar seu pai e depois desaparecer. Descobrimos depois que ele era um fugitivo de outro estado, e já tinha feito isso com outras vítimas. Mas, por alguma obra divina, seu tio chegou em casa. Davi e ele entraram em luta, e seu tio pegou uma arma que eu guardava para minha própria segurança e disparou três tiros contra o filho da mãe. Ele morreu ali, na frente do seu pai. Seu tio era apenas um pouco mais velho na época, e seu pai tinha apenas onze anos. — Meu avô enxuga as lágrimas. — Onze anos, quando a inocência dele foi arrancada.

Ele suspira profundamente e continua:

— Fiz o possível para não ser dispensado do trabalho, e não sofri nenhuma represália. Foi considerada legítima defesa e justiça... No entanto, seu tio nunca mais foi o mesmo, e seu pai também não. — Ele termina a cerveja de uma vez. — Sua avó já conhecia o Davi e, quando soube do que aconteceu, logo disse que aquilo só tinha acontecido porque o Davi era gay, e é isso que os gays fazem. Depois disso, seu pai começou a odiar pessoas como você de verdade, e ele batia, xingava, humilhava... Tentei reverter a situação, mas já não dava mais. Ele até foi a um psicólogo, mas não adiantou nada.

— A vovó era uma pessoa muito ruim... — Digo, sem me arrepender. Talvez seja por isso que ela morreu tão doente. Ela pagou pelo mal que fez.

— Talvez se eu tivesse ficado em casa um pouco mais tarde, eu teria evitado aquilo, ou se tivesse chegado mais cedo, sei lá... É culpa minha! Eu fui um maldito irresponsável que só pensava no trabalho.

Eu toco o braço dele e o abraço apertado.

— O senhor não tem culpa de nada. — Dou um sorriso. — Não tinha como adivinhar que isso ia acontecer. A gente nunca pensa que algo assim vai acontecer conosco.

As palavras que digo são uma forma de acalmar meu avô, mas eu não estou calmo. Minha mente parece estar a mil. O estopim e o motivo para o comportamento estranho do meu pai em relação a mim foram revelados. E pensar que só precisei ter um surto naquela festa para tudo se esclarecer dessa forma... Preciso tentar consertar as coisas, mas agora preciso processar tudo e acalmar o homem forte que está entre meus braços.

°°°

Obrigado e até o próximo capítulo!

❤️

Afogue as Lágrimas - Histórias Baianas • Livro 3 (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora