10 - Em espera

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              Dizer ao pai e aos irmãos que estava bem foi só uma forma de não os preocupar. Mas o coração  não estava nada bem. A tristeza, a solidão e o desespero apenas baixaram, se adequando ao seu coração apertado.  Tinha que se acalmar de fato para sair e enfrentar a família de Peter Kraisee,  que enfim, não era mais seu filho, mas de quem ele jamais  abrirá a mão.  A única opção plausível era a fuga. Disfarçar o convite e protelar a ida deles para Bangcoc e ele escapar com Venice.  Seu Venice!  Com certeza era a saída. 

            Embora  fugir fosse a única ideia que lhe ocorresse no momento,não era a melhor. Ele sabe que fugir é empurrar com  a barriga um problema que só vai se tornar gigante. Mas saber é raciocínio e amar é uma ação  mais centrada no coração.  É sentimento  e nem sempre parece inteligente . E também não é prudente abandonar tudo. A fuga era inviável porque existia a família.  O pai e os irmãos não poderian fugir com ele. E fugir só  com Venice era uma violência com a criança.  Era um novo sequestro.  Era roubar-lhe mais uma vez o direito à uma identidade.  

          Chorou de novo. Chorou por ele. Chorou por Venice. Chorou por Pete. Chorou por não saber como ter o filho e fazer todos felizes.

          Chorou lembrando de tudo que desconhecia  sobre o filho.  Lenvrou da mãe de Pete contando como seu filho era antes dele ser seu pai. Ele era mais apegado a Pete. Ele dormia segurando o dedo de Kraisee. Ele ouvia música  com vovô. Gostava de leite morno antes de dormir. Ria quando limpavam sua gengiva. Batia no copo da vovó para ouvir o som. Dormia com as costinhas na cachorra. Sentiu dor de ouvido e foi internado, quase matando Pete de preocupação. Teve alergia a picada de inseto e também ficou internado. Foi para a Suiça com Kraisee e Pete e não chorou, mas chorou os três  dias que ficou no Egito. Teve brotoejas de calor. Gostava da praia e amava a piscina. 

       Coitado do filho. Nunca foi até a piscina.  Ninguém nunca pensou  nisso. Quando chegasse ia fazer o pequeno nadar! Era seu papel.  Não. Não era mais. Agora Pete fará isso. Desistiu de pensar e deitou a cabeça no tampo da mesa, perdido.  Fugir era covardia, mas estava na hora de ser covarde. Resolveu  voltar para os donos da casa 

             Vegas saiu do escritório depois de lavar o rosto no banheiro anexo ao cômodo. Exibindo um sorriso seguro que não condizia com seus sentimentos e foi até Pete. Beijou seu tosto com respeito, mas lembrou-se  do amigo do Cristo. Beijou o homem e o traiu, entregando-lhe à Justiça, provavelmente como ele acabaria fazendo  para manter o filho. O coração  que já estava miúdo pareceu se espremer mais no peito. Angústia em sumo!

            -          Pessoal... preciso dar uma volta. 

          Pete estranhou, mas nada disse. Vegas está  fora de seu ambiente, é claro que vai se sentir desconfortável se não puder dividir com todos o que está sentindo.  Seja lá o que conversou com a família, ele contará quando estiver pronto. Eles construíram a fragil relação  que tem nesses termos: confiança e espera. E esse é o momento de esperar. Em seu momento Vegas o esperou. Agora é a sua vez. Ele dará ao outro todo o tempo que ele precisar. 

        Thahan pai deu a chave de um dos carros para Vegas e ele aceitou. Em sua memória a praia de Kata estava perto dali. E por certo vazia. Se ele se lembra bem, é uma praia longe dos desejos dos turistas. E dirigir sempre o desestressa porque ele tem que prestar atenção no trânsito por ele e pelos desavisados. 

      A praia estava como ele esperava. Travou o carro e por hábito olhou para o banco de trás. Desde que ouviu dizer que alguns pais deixavam os filhos esquecidos em automóveis, ele passou a verificar se Kim ou Macau tinham adormecido ali e, agora era Venice. E olhar trouxe a tristeza de volta. Afastou-se do auto em direção à areia. Os ombros agora caídos, os pés  cansados, praticamente  arrastados.

Dance Comigo, Vegas                #VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora