Detenção

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DIEGO VULPES, 03 DE OUTUBRO DE 1975

Mais de três semanas haviam se passado desde os testes de quadribol. Estávamos treinando durante toda a semana, menos na quinta-feira, pois absolutamente todo o time estava em detenção neste dia. Alessandra e Nicole chegavam sempre reclamando da higiene básica dos alunos sempre depois de limpar os banheiros dos dormitórios; Rafael e Sirius fediam a urina sempre que voltavam da ala hospitalar; Brenda e Bia estavam com calos nas mãos depois de tanto limpar o salão principal; os demais ficaram responsáveis pela louça do castelo. Não acreditava que os elfos faziam tudo isso todos os dias, só nas quintas-feiras já estavam nos exaurindo. Bem, mas o fato é que eles podem usar magia pra fazer isso, fazendo tudo ficar mais fácil. Eu não sei o quão versados em magia os elfos são, mas Bia me falara que eles conseguiam levitar objetos facilmente, tais como os bruxos. Eu era o único que ficara sozinho, não tinha companhia para limpar os livros da biblioteca, cada quinta uma sessão diferente, hoje estava na sessão reservada. Por sorte, já estávamos na última semana de detenção. Eu fui o único a ter coragem de utilizar magia para realizar minhas tarefas, mas é claro, eu não era vigiado, só algumas vezes a bibliotecária, Madame Galvaniane vinha ver como estava umas três vezes durante o serviço. Eu me adiantara, colocara o bisbilhoscópio que ganhara do meu pai a vista sempre, então quando ele girava e brilhava, apitando baixo, eu parava com a magia, ou o que estava fazendo, e pegava um pano para limpar os livros. Quando ela ia embora eu voltava pra meus feitiços de levitação e o bom e velho Accio, um feitiço convocatório que fazia os objetos irem diretamente pra minha mão. Terminava tudo muito rápido, e o tempo que sobrava eu ficava lendo, tinha bons livros na sessão reservada. Estava lendo um sobre animais e seres mágicos da América do sul, não sabia o que era um curupira até então. Nunca estudamos sobre eles na escola. Imaginei que Brenda iria gostar de conhecer um. Proteger florestas e os animais, como eles fazem, é o tipo de coisa que ela aprecia. Seria Brenda uma curupira disfarçada? pensei.  Eu acho que seria bem provável, mas não sei que tipo de feitiço desentortaria os pés para frente.

Estava agora na página sobre as caiporas. Quantas criaturas mágicas brasileiras começaram com "c"? Cuca, Curupira e agora Caipora. Essa última me lembrou o pirraça, o poltergeist de Hogwarts. Caiporas, assim como ele, se baseavam em pregar peças nas pessoas. Estava entretido sobre os seus hábitos de fumar, quando na minha frente apareceu, sem motivo algum aparente, um rapaz alto, com calça jeans e uma camiseta preta lisa, seus cabelos quase da cor de prata de tão loiros, e com um sorriso tímido fechado e as mãos no bolso. Bem em minha frente, como quem não queria nada, estava o  Evan Lestrange. 

- Boa tarde. - disse ele, timidamente. Não falara com ele desde o dia do teste de quadribol, no qual ele me parabenizou.

- Boa tarde. Você não está de uniforme, não tem aula? - Indaguei, procurando um assunto, qualquer um que me aparecesse, q até que esse não soou tão patético quanto pensei q soaria.

- Não, só tive aula de aparatação hoje. Durou a manhã inteira. A tarde estamos livres para treinar. - Respondeu ele olhando para o livro que eu lia. Seu olhar era calmo, como tudo nele, o que diferia um pouco de mim, que tinha minha calma variando grandemente pela ocasião - É um livro de magizoologia? - indagou.

- Ah, é sim. É um livro de animais e seres mágicos da américa do sul. Tô lendo ele há umas duas horas já. - o livro agora balançava em meu colo.

- Eu soube que você está em detenção, mas vendo assim não parece. - seu olhar era um pouco confuso, ele inclinava seu rosto, parecia interessado no que eu estava fazendo.

- Ah, não conta pra ninguém... - falava mais baixo agora, não queria que ninguém escutasse. - Eu terminei tudo em uns dez minutos usando magia. Até agora acho que ninguém percebeu, ou já teriam reclamado. A madame Galvaniane parece estar bem satisfeita com meu serviço, aliás. Até me deu um pacote de feijões coloridos hoje. Aliás, não o abri, se você quiser pode pegar alguns. - Eu estava falando sobre três assuntos diferentes em uma frase. Espero não parecer nervoso, mas definitivamente eu estou surtando por dentro. Como que ele consegue ser tão bonito? Ninguém é assim, não sem uma dúzia de poções e receitas embelezadoras.

Drama, vinho e HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora