rapunzel

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A Diretora Weems estava levando Wednesday para sua sessão de terapia, e eu estava de penetra para tomar um expresso descente.

Esses são alguns dos benefícios de não se meter em encrencas.

A garota, que estava no banco da frente, não disse nada durante o caminho inteiro.

— A Doutora Kinbott fica no segundo andar. Outros alunos de Nevermore adoram ela. Não é, Louise?

— Ah, é claro!

— Você ficará esperando aqui até eu sair?

— Depois nós três podemos ir tomar chocolate quente.

— Diretora Weems, esta tentativa de se conectar não lhe cai bem. -Wednesday diz e abre a porta do carro.- E não é paga para servir de motorista para seus alunos.

— Garota, agradece e vai logo pra terapia. Porque você tá precisando. -Eu digo e Wednesday me olha com aquele olhar frio.

— Dado o seu passado, acredito que você tentará fugir. Estou aqui para prevenir isso. -A Diretora alerta.

— Boa sorte.

— Eu vou tomar um expresso, até mais tarde.

— Até, querida.

— Oi Tyler! -Digo para o garoto.- O de sempre, por favor.

— Sinto muito, Lou. A máquina quebrou.

Quando o garoto fala isso, olho para a rua, e vejo Wednesday com a cabeça virada para o céu. Como na vez que nos trombamos.

Eu rio pensando que ela realmente conseguiu fugir.

— Tudo bem, eu vou pegar um café coado então.

— Não era você que dizia que o café coado é para pessoas vazias e sem propósito?

— Talvez eu tenha me tornado vazia e sem propósito. -Brinco e vejo a novata entrando no estabelecimento.

Eu saio do caminho e vou pegar o meu café.

— Caramba! Você tem o costume de apavorar as pessoas? -Tyler pergunta ao ver Wednesday.

— Tá mais pra um hobby.

— Você também é de Nevermore. Não sabia que tinham mudado o uniforme.

— Um quádruplo gelado. É uma emergência. -Tyler não responde.- Quatro doses de expresso.

— Eu sei o que é um quádruplo, mas, alerta de spoiler, a máquina pifou e só temos coado.

— Coado é pra gente que se odeia e sabe que a vida não tem razão nem sentido.

— Uau! Obrigada. -Eu digo e a garota parece notar minha presença.

— Está me seguindo?

— Ah tá. Como se eu fosse perder o meu tempo com isso.

— O que houve com sua máquina? -A garota muda o rumo da conversa perguntando para Tyler.

— Ela é um monstro temperamental com vontade própria, e o manual em italiano não ajuda em nada.

Wednesday passa para o outro lado do balcão e pega o manual da mão de Tyler.

Eu me aproximo e bebo o meu café.

— Preciso de uma chave de fenda tri-wing e de uma Allen de 4mm.

— Socorro, você falou árabe pra mim. -Digo.

— Isso que dá não se dedicar aos estudos. -Ela responde e eu reviro os olhos.

— Diferente de você eu tenho vida social.

— Você entende italiano? -O garoto corta a nossa pequena discussão.

— Claro. É a língua de Maquiavel. Vou concertar sua máquina, e você me fará um café e chamará um taxi pra mim.

Eu começo a rir e a garota me olha.

— Qual a graça?

— Não tem táxi em Jericho. Vai ter que chamar um Uber. E por mais tentadora que seja a ideia de me livrar de você, não posso deixar você ir.

— O Uber está fora de questão. Não tenho celular. Me recuso a ser escrava da tecnologia.

— Olha que engraçado! A minha vó também. -Eu digo enquanto ela concertava a máquina.

— Então nada feito. Aonde você vai? -Tyler pergunta.

— Isso não é da sua conta. Tem trem?

— A estação mais próxima fica em Burlington, a meia hora.

A conversa já estava me entediando, então decido ir me sentar.

Wednesday, surpreendentemente, se senta junto á mim.

— Poxa vida, a Rapunzel não conseguiu fugir da torre? -Implico com a garota.

— Por mais que eu não entenda a sua referência tosca, imagino que esteja implicando comigo.

— Bingo!

— Duas aberrações de Nevermore à solta? Esta mesa é nossa.

Três garotos dizem quando chegam.

— Pra que a fantasia de extremistas religiosos? -Wednesday os ignora totalmente.

— Somos peregrinos.

— Dá no mesmo. -Digo.

— Trabalhamos no Peregrinos. -Um dos garotos diz mostrando um panfleto para a garota de tranças.

— Tem que ser muito burro pra dedicar um parque temático a radicais responsáveis por genocídio.

— Meu pai é dono do Peregrinos. Você está chamando ele de burro?

— Se a carapuça serviu...

— Wednesday! -Eu repreendo-a.

— Ei, deixem as duas em paz. -Tyler chega e empurra um garoto.

— Não se meta, Galpin.

— Não mesmo. -Wednesday diz se levantando.

— Vocês duas esquisitonas já ficaram com um padrão. Tenho certeza que a outra já é experiente. -Ele diz se referindo á mim.

— Ainda não achei um que desse conta. -Ela diz sem quebrar o contato visual.

Wednesday vai se aproximando do garoto.

— Bu! -Ela diz e rapidamente os três começam a lutar com a garota, que os derruba sem esforços no chão.

— Onde aprendeu a lutar assim? -Pergunto me levantando.

— Meu tio me ensinou. Ele passou cinco anos em um monastério tibetano.

— Ele era monge?

— Prisioneiro.

— É claro.

Mas talvez estaríamos encrencadas. E Wednesday perceberia que tem algo a mais nessa cidade. Algo que a prende aqui.

LISTEN BEFORE I GO-Wednesday AddamsOnde histórias criam vida. Descubra agora