capítulo 3

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Eleonor Negovi Delmont

Se passaram um ano desde o acontecido. E depois disso eu não fui mais a mesma, e seria impossível eu ser. Faço terapia 3 vezes na semana, uso medicação para dormir, ansiedade e ataque de Pânico.

Atualmente estou na casa dos meus pais que foi para quem liguei de imediato pra me ajudar.

Voltar e relembrar tudo o que aconteceu ainda é um processo pra mim. Abri uma floricultura, e estou me saindo bem, tem sido terapêutico, cuidar, podar e entender sobre o tempo de cada uma das plantas e flores.

Mesmo após um ano todos me olham com pena e alguns com desprezo. Meu dia é bem cheio e corrido para não ter tempo de ocupar minha mente com coisas do passado.

Trabalho na floricultura, faço natação, artes, yoga, terapia e estou terminando a faculdade.

- Filha, vai se atrasar. Deixa esses lírios aí que eu faço o arranjo pra você. - Minha mãe sempre atenciosa comigo.

- Obrigada mãe, aula de natação não vai me esperar. Quando terminar fecha a loja pra mim, por favor.

- Tudo bem, não esquece da toca.

- Também te amo. - Beijo sua testa e vou em direção ao carro o mais rápido possível pra não me atrasar.

Eu só não contava com o trânsito infernal da cidade. São 12h, normalmente é o horário de almoço só que hoje está pior que todos os outros dias.

Meu celular toca e já até imagino quem seja.

- Oi Nic.

- Cadê você? A aula já vai começar.

- No trânsito, pode começar sem mim vou me atrasar.

- Óbvio que vai começar sem você, acha mesmo que a professora gostosa vai ficar te esperando, safada?

- Nicole! - Falo rindo com o jeito dela falar.

- Beijos, a professora chegou. Vê se chega logo.

- Vou tentar. - Desligo e me concentro na música que está tocando.

"Aqueles olhos que refletem luz no meu coração"

Gatilhos.

Tento lutar contra isso todos os dias, mas hoje eu não pude adivinhar que iria tocar essa música no rádio.

Eu lembro que Asloan cantava pra mim essa música todas as noites em que me machucava, como uma forma de se desculpar.

É inevitável não pensar em tudo que aconteceu, procuro meu remédio de ansiedade na bolsa e não encontro, o que me deixa mais desesperada.

Respira... Respira... Respira... Não esquece de respirar.

Conta até 10.
1... Inspira.
2... Expira.
3... Inspira.
4... Expira.
5... Inspira.
6... Expira.
7... Inspira.
8... Expira.
9... Inspira.
10... Expira.

Faço esse processo umas duas vezes e não resolve. Os pensamentos de insegurança, medo, incapacidade e julgamento começam a me rondar.

Ligo pra todos mas ninguém atende.

Decido sair do carro, eu só quero apenas respirar e colocar meus pensamentos no lugar.




QUASE CASANDO (DOIDO PARA CASAR 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora