Capitulo 1

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"𝐀𝐬 𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐫𝐞𝐥𝐚çõ𝐞𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐞ç𝐚𝐦 𝐚 𝐬𝐞𝐫 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐫𝐮𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐩𝐨𝐫 𝐜𝐚𝐮𝐬𝐚 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐩𝐨𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐛𝐢𝐬𝐜𝐨𝐢𝐭𝐨s"

"𝐀𝐬 𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐫𝐞𝐥𝐚çõ𝐞𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐞ç𝐚𝐦 𝐚 𝐬𝐞𝐫 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐫𝐮𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐩𝐨𝐫 𝐜𝐚𝐮𝐬𝐚 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐩𝐨𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐛𝐢𝐬𝐜𝐨𝐢𝐭𝐨s"

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            Um Ano Depois

— O que você acha de roxo? — Pergunto a Aurora. A pequena, agora não tão pequena, decidiu fazer uma mudança no seu quarto.

Faltam dois meses pro natal, e quero deixar o apartamento bem bonito. O ano passado passamos o natal na casa da nossa tia. Foi horrível! Ela e o seu namorado brigaram e ficou um climão o resto da noite.

Esse ano, decidimos fazer o natal no nosso próprio apartamento. Chamamos nossa tia, mas ela vai viajar com o namorado. Então vai ser apenas minhas irmãs e eu.

— Não. Hum... — Ela parece pensar enquanto encara a parede. — Dourado. — Um sorriso brota nos seus lábios.

— Dourado? — Pergunto erguendo a sobrancelha. Não é uma cor muito comum para um quarto. — Por que dourado?

— Porque é chamativo. — Aurora sorri colocando as mãos na cintura. A garota tem apenas quatorze anos, mas já é dona de uma personalidade forte.

— Então tá! — Digo segurando a risada. Ela está engraçada com essa pose de adulta. — Pintamos de dourado.

— Vai ficar tão lindo! — Aurora começa a rodar de alegria pelo quarto. Solto uma risada, mas a mando parar antes que se machuque.

Estamos decidindo a cor da parede do quarto de Aurora bem tarde da noite. Mas é para já ajeitarmos tudo amanhã. Eu passaria na loja de tintas pela manhã.

Aproveitei que hoje tive uma folga do restaurante para resolver essas coisas da pintura. Já contratei um pintor por um número que achei na internet, e já decidi as cores dos outros cômodos.

— Agora vá dormir, Aurora. Já está tarde e amanhã você tem aula. — Aurora me olha com um olhar pidão como quem diz "só mais alguns minutos acordada, por favor" — Nem adianta, esse olhar só funciona com Tracey.

— Onde ela está numa hora dessas? — Aurora se deita na cama com uma cara feia.

— Em um encontro. — Digo a cobrindo. Inventaram um aplicativo novo de encontros arranjados. Tracey adora essas coisas e foi testar. Acabou resultando no seu encontro de hoje.

— Você deveria ir em um encontro também. — Faço careta. Ter um relacionamento é algo que nem passa pela minha cabeça. Amar não é pra mim. Bom, pelo menos não agora. — Ao menos tentar.

— Vai dormir, Aurora. — Digo encerrando o assunto. A garota solta uma risadinha. — Boa noite. — Dou um beijo na sua bochecha.

— Boa noite. — Ela fecha os olhos, e a cubro com o cobertor. Apago a luz e saio do seu quarto.

Ouço um barulho bem alto, como de algo de vidro caindo no chão e se quebrando. Hoje, um novo vizinho se mudou para o apartamento ao lado. Desde cedo está uma barulheira. Tenho o sono leve, muito leve. Espero conseguir dormir.

Termino de ajeitar umas coisas na sala, e vou para a minha cama me deitar. Tracey diz que eu pareço uma criança, antes das dez já estou dormindo. Até Aurora que tem quatorze anos, tem mais disposição pra ficar acordada do que eu.

Fecho os olhos tentando dormir, mas logo ouço outro barulho de algo caindo no chão e se quebrando.

— Caramba! que mudança barulhenta. — Sussurro para mim mesma. Me remexo na cama tentando achar uma posição melhor para dormir.

Outro barulho. Dessa vez de algo parecido com um chocalho. Será uma família com um bebê? Não sei nada sobre o vizinho ou vizinha nova.

Respiro fundo e me concentro em dormir. Mais barulhos que não consigo identificar.

Nada, nada do sono aparecer com essa barulhada toda. Vou ligar para Tracey, ela deve saber de alguma receitinha doida para dormir.

— Não, e se eu a atrapalhar? Melhor não. — Converso comigo mesma.

Fecho os olhos com força em busca do sonho, mas nada vem. Os minutos se passam e simplesmente não consigo dormir.

Me levanto agoniada da cama. Odeio quando não consigo dormir e sinto que estou perdendo tempo atoa, ainda mais essa hora da noite.

O que posso fazer? Ah... Hum... Bom, Aurora está me pedindo para fazer minha especialidade a dias. Biscoitos de maracujá. Já que não consigo dormir e não tenho nada pra fazer, não custa nada fazer os biscoitos agora. É bom que ela come eles no café da manhã.

        (...)

Termino de fazer os biscoitos e divido ele em dois potes. Decidi fazer uma quantidade maior para dar um pote  para os novos vizinhos. Só pode ser mais de uma pessoa pelo barulho.

Amanhã de manhã baterei na porta deles e entregarei os biscoitos de Boas-vindas. Minha tia sempre diz que ter amizade com os vizinhos é uma boa escolha.

Enquanto eu terminava os biscoitos o barulho diminuiu, até voltar ao silêncio noturno de sempre. Paz. Finalmente paz.

E finalmente consegui deitar e dormir para amanhã ser gentil com os novos vizinhos barulhentos.

         (...)

Acordei cedo para colocar as coisas em ordem. Tomei um banho, e dei uma boa limpeza na minha estante de livros. Depois fiz o café e acordei Aurora para se arrumar pra ir para escola.

— Bom dia. — Tracey diz entrando na cozinha. Faço uma careta ao ver ela.

— Você está péssima. — Tracey veste uma camisola simples branca. Ela carrega olheiras profundas, e seu rosto parece ainda ter resquícios de maquiagem.

— Eu sei. — Ela diz forçando uma voz tremida. Tracey se joga na cadeira da bancada da cozinha. — O encontro foi péssimo, mas pelo menos comi e bebi muito. — Solto uma risada colocando um pouco de café fresco e quentinho na caneca para ela.

— Toma. — A entrego a caneca. Tracey me agradece quase sussurrando.

— Já estou indo. — Aurora aparece na sala já arrumada com seu uniforme escolar.

— Quer que eu te acompanhe até lá embaixo? — Diariamente um ônibus escolar passa aqui para levar Aurora para escola e também a traz de volta pra casa.

— Não precisa. — Sei bem o que é isso, vergonha boba de adolescente. Não julgo, afinal, fui uma adolescente a poucos anos atrás e sei bem o que é isso. Aurora olha para Tracey. — Tracey, você está péssima.

— Maya já disse isso. — Tracey coloca a cabeça na bancada gemendo. Aurora balança a cabeça negativamente e abre a porta do apartamento, saindo para fora.

— Vou levar esses biscoitos pros vizinhos. Espero que eles já estejam acordados. — Pego o pote com a tampa cor de rosa. Tracey balança a cabeça, mas logo para quando geme de dor. Isso se chama ressaca.

Vou até à porta, e saio do apartamento. Espero estar fazendo a coisa certa em tentar ser gentil com os novos vizinhos.

A Culpa É Do VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora