CAPÍTULO 9 ⸺ LUA

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Eu estava me sentindo completamente fatigada do final do período da faculdade. Tinha puxado oito disciplinas para cumprir um número de créditos adiantado para que não ficasse corrido quando o estágio começasse. Coloquei meu currículo em todos os lugares possíveis. No entanto, ainda com toda a agitação que estava na minha vida, eu ainda precisava trabalhar para ajudar nas contas de casa. Quem mandou eu querer começar uma faculdade?

Prendi meu cabelo num rabo de cavalo, coloquei meu moletom, pus meu fone no ouvido e peguei o ônibus até a universidade. Eu precisava fazer uma prova e estava suando frio de nervoso, mas algo mexeu ainda mais comigo no corredor.

– Olha quem está ali! – disse a ruiva com duas amigas ao lado de braços cruzados que vinham na minha direção.

– Tenho hora, Scarlat.

– Não – parou com a mão em minha frente – você vai passar toda história a limpo. Que ideia foi essa que você teve de contar para a Nina que eu beijei o Lucas na chopada?

– Scarlat, com todo respeito... tira a mão da minha frente! – pus o pulso dela pra baixo a fim de conseguir passar.

Elas me seguiram.

– Do que está com tanto medo? Da gente? – perguntou uma das amigas.

– Eu não quero fofoca ou confusão, eu preciso fazer uma prova e não devo satisfações a vocês – respondi andando depressa.

– Mas pode se acostumando a dar porque vou fazer um inferno na sua vida.

Parei irritada na frente delas e disse:

– Ela é minha amiga, eu tenho uma tatuagem no braço que fizemos juntas, a conheço há cinco anos, como você acha que eu esconderia que o namorado dela a traía?

– Boa, menina. Agora me diz: o que faço com você?

– Nada! Eu não te devo nada!

– Podem deixar ela ir... não faremos nada. Por enquanto... – um sorriso de satisfação se formou nos lábios dela, que apoiava uma das mãos na cintura.

Dei as costas e segui em direção à sala. Tentei esquecer aquilo que tinha acabado de acontecer para me concentrar na prova de ética. Escrevi quatro laudas de prova, mas eu estava nervosa demais. Eu sempre fico nervosa em prova, insegura de como vai ser o resultado. Eu fiquei até o final fazendo enquanto colegas de classe entregavam suas provas em uma hora de duração.

Na saída eu preferi passar pelas pessoas direto no corredor sem falar com ninguém, já que ninguém nunca me cumprimentava. Eu andava fazendo o máximo para não chamar atenção. Detesto lidar com as pessoas porque raramente eu fico confortável em situações sociais por conta da ansiedade. Mas uma coisa me preocupava: aquela noite.

Era primeiro de setembro de dois mil e vinte quando resolvi ir pela primeira vez numa chopada que aconteceria na Ilha do Fundão. Eu nunca gostei de uma "farra", mas Nina insistiu para que eu a acompanhasse, mesmo sendo cheia de amizades, pois se enturmar fácil, e estando junto a seu namorado. Usei um vestido preto levemente soltinho que marcava as curvas de leve e um coturno preto com um salto baixo. Coloquei um colar dourado com pingentes de luas e estrelas que comprei pela internet. Meu cabelo, que sempre usava preso, ficou solto e com um leve frizz.

– Amiga! – me abraçou Nina – como você está linda!

– Obrigada – retribui o abraço e, em seguida, a olhei tentando esboçar um sorriso – olá, Lucas – acenei.

Ele sorriu sem mostrar os dentes. Eu nunca consegui entender muito bem as intenções dele, ou até mesmo ir com a cara, mas eles estavam juntos há mais de três anos e eu o respeitava por causa da Nina. Lucas era um rapaz asiático cuja família tinha muito dinheiro. Eles tinham uma cobertura na zona sul da cidade e era daqueles que faziam curso de engenharia porque os pais podiam pagar um curso bem caro, mas preferiu estudar em federal. Não sei bem o porquê mas ele sempre me pareceu não gostar de Nina na mesma intensidade.

O Despertar do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora